19 junho 2007

Entrevista - A Crise da Oposição no Brasil - Jornalista Liziane Cardoso

Qual seria o maior problema dos partidos de oposição no momento? Qual é a bandeira desses partidos? Até que ponto a falta de um discurso forte facilita o trabalho do governo? É estratégia que esse discurso só apareça em época eleitoral para que não fique desgastado?

Os partidos de oposição brasileiros passam por um momento intenso de rediscussão interna. Isso foi motivado pela derrota eleitoral do ano passado. No caso do PSDB, os tucanos assustaram-se com a pouca penetração do seu candidato junto às classes mais populares. E o PFL (atual Democratas) perdeu seu reduto tradicional, não elegendo nenhum governador na região nordeste. Então a oposição começou o segundo mandato de Lula bastante fragilizada e dividida internamente.

A principal bandeira dos partidos de oposição nas últimas eleições foi a questão ética. Entretanto, esse discurso demonstrou ser ineficaz. Hoje não há bandeiras claras e esse é o grande desafio desses partidos: propor alternativas distintas às do governo e capazes de mobilizar a população brasileira, de preferência, antes do período eleitoral.

A fragilidade da oposição facilita a vida do governo, pois ele não enfreta sérias resistências para aprovação de medidas junto ao Congresso Nacional. Lula conta atualmente com uma das maiores coalizões de apoio já produzidas. Entretanto, não está aproveitando o bom momento e o tempo para a aprovação das reformas mais importantes já começa a se esgotar. Hoje não é a oposição que causa problemas, mas os diversos escândalos de corrupção que devoram contínuamente os aliados de Lula.

- A sociedade sai perdendo com essa falta de oposição? Como o senhor analisa esse governo de coalisão que atraiu até os críticos mais ferrenhos como o professor Mangabeira Unger.

Sim. A sociedade precisa de oposição. É ela quem fiscaliza o governo. Entretanto, a coalizão não representa apoio total. A coalizão é bastante heterogênea e reune, inclusive, críticos do governo. Por isso o presidente tem tido mais problemas com os aliados do que com os adversários.

- O que o governo do presidente Lula tem a favor no momento? O cenário econômico.. os programas sociais?

A economia e as políticas sociais são importantes, sem dúvida. Entretanto, entendo que o ponto forte do presidente é o seu carisma pessoal e sua capacidade de escapar de todas as crises éticas que consomem o governo há mais de 2 anos.

- Sobre os partidos, até que ponto a mudança de nome do PFL para Democratas pode ter algum efeito positivo para o partido.. Como o senhor analisa a situação do PSDB que nas eleições apoiou o Alckmin e agora nas eleições da presidência da Câmara, dividido, apoiuou o candidato do PT? E o PPS? PMDB?
O PSOL que em algumas questões discorda das decisões do governo..

Ainda é cedo para dizer. O PFL fez uma aposta muito arriscada e agora tem que construir uma nova identidade, o que é muito difícil. O PSDB anunciou que estabeleceria um programa de popularização do partido, mas que ainda não aconteceu. As preocupações estão mais voltadas para a briga interna entre Serra e Aécio Neves. O PMDB mantém um alto grau de fragmentação interna e é um parceiro tão imprescindível quanto imprevisível. O PSOL faz muito barulho, mas saiu derrotado das ultimas eleições, cosnciente de que seu discurso purista de esquerda não tem mais tanto espaço.

- Já se pode desenhar um cenário para as próximas eleições para a presidência? Falta ainda um nome forte para ser o sucessor do Lula? E pelo lado da oposição?

Ainda não. Há muitos candidatos a herdeiro de Lula, mas nada definitivo. Pelo lado da oposição, a disputa deve ficar entre Serra, Aécio Neves e (até) Fernando Henrique... Quem viver, verá.

- Os nomes que surgem, Aécio e Serra, pelo fato de serem governadores de estado ficam sem poder fazer muito 'barulho' contra o governo já que dependem do governo federal?

Com certeza, existe uma certa limitação. Entretanto, como a maior parte dos repasses são automáticos e os estados (SP e MG) são muito expressivos, então, se existe uma relação de dependência, ela é mútua. De qualquer forma, os ânimos começam a ficar exaltados a partir das eleições municipais de 2008. Por enquanto, toda movimentação acontece nos bastidores.

- O que falou para a oposição nas últimas eleições presidenciais?

Há um conjunto de explicações: concorreram com um candidato muito forte, escolheram a bandeira da ética sem poder ostentar qrandes exemplos de virtude, escolheram um candidato sem carisma e pouco conhecido fora de São Paulo, não apresentaram qualquer proposta distinta do atual governo, entre outros.

- Sobre os escândalos recentes, isso atinge a imagem do presidente ou, pelo contrário, podem ser encarados como ''as instituições estão funcionando" e por conseqüencia, ter um efeito positivo?

Entendo que existe um pouco das duas coisas. Por um lado, há o desgaste do presidente e do Congresso Nacional, o que acaba trazendo consequências para a governabilidade do país. Por outro, as instituições (leia-se PF) estão funcionando, haja vista o número recorde de esquemas de corrupção desbaratados. Além disso, têm-se demonstrado que o judiciário e as leis penais brasileiras não conseguem oferecer uma resposta adequada à sociedade brasileira. Portanto, temos um quadro complexo que denota avanços e estagnação. Cabe a todos nós tentr participar desse processo de depuração para podermos contribuir com o fortalecimento dos valores éticos e do sistema político brasileiro.