28 dezembro 2008

Eleições locais X Eleições Nacionais (retirado do Correioweb)

Marcos Coimbra

Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
marcoscoimbra.df@diariosassociados.com.br


2008 na Política

Alguém acha que o eleitor típico, por ter votado em quem votou em outubro, vai votar da mesma maneira em 2010?

Se a popularidade que Lula foi ganhando ao longo do ano se constituiu em um dos assuntos mais relevantes e de maior impacto na vida política brasileira em 2008, outro foram as eleições municipais realizadas em outubro. Não que elas tivessem sido diferentes das que fizemos desde a redemocratização, mas marcaram o ano, projetando conseqüências sobre as eleições presidenciais de 2010. 

As escolhas de prefeitos e vereadores costumam ser tratadas pelo sistema político com uma mistura de excesso e falta de atenção. No começo do processo, quando distam alguns meses, e durante seu desenrolar final, especialmente enquanto estão no ar as campanhas nas grandes cidades, os meios políticos e a imprensa ficam obcecados com elas, dando-lhes uma importância que não têm. Quando acabam, nem bem se passam algumas semanas, ninguém se interessa mais pelo que aconteceu. 

Nem uma coisa nem outra são corretas. Eleições municipais são sempre importantes e são assim consideradas pelos eleitores. Todos os cidadãos (como indica a palavra) vivem em cidades e saber quem vai administrá-las está longe de ser irrelevante para eles. Especialmente para quem mais depende dos serviços que as prefeituras prestam, o que um prefeito e uma Câmara pensam pode fazer uma enorme diferença. Cada eleitor escolhe seus candidatos muito consciente do que está fazendo. 

Daí, no entanto, não se deduz que elas sejam relevantes para além disso. Quem as analisa à procura de sinalizações, do que “querem dizer” a respeito das seguintes, apenas mostra que não compreende o eleitor. Se existem, são raríssimos, por tudo que revelam as pesquisas, aqueles que votam para prefeito querendo “mandar um recado” ou pensando nas subseqüentes eleições de presidente ou governador. 

O que tivemos, nas eleições de outubro, foram, como sempre, escolhas locais, movidas por lógicas locais. Fizemos cerca de 5,6 mil eleições diferentes, cada uma em uma cidade, onde se defrontaram pessoas reais, conhecidas pelos eleitores, e não entes abstratos. Aqui, ganhou fulano, ali, beltrano. Nem Lula nem o governador ou uma liderança regional. Cada uma obedeceu, fundamentalmente, a uma pauta local. 

Alguém acha que o eleitor típico, por ter votado em quem votou em outubro, vai votar da mesma maneira em 2010? Em termos concretos: o eleitor que votou em um candidato do PMDB vai aguardar o que as lideranças do partido dirão antes de decidir em quem votar para presidente? Quem votou, por exemplo, em Eduardo Paes, no Rio, vai seguir sua orientação na escolha do candidato a presidente? 

Como ninguém em são juízo pode pensar assim, de onde vem a tese de que o “o PMDB saiu forte” da eleição, tornando-se a “noiva predileta” para 2010, como vários jornais não se cansaram de repetir? Sabe-se lá, mas o certo é que ela teve conseqüências muito concretas, açulando o apetite dos cardeais do partido, que passaram a querer, entre outras coisas, as presidências das duas casas do Congresso. 

No fundo, passados dois meses, não resta quase nada das coisas que dominavam o noticiário faz pouco tempo. Os fatos ficaram para trás e só os especialistas voltarão a eles no futuro, para interpretá-los com mais rigor. Restam, no entanto, as versões, como essa da “vitória peemedebista”, que ninguém mais questiona. Ou como outra versão que se impôs (ou foi obtida com competência), a da “vitória de Serra”. 

A eleição de Gilberto Kassab não teve quase nada de diferente das reeleições dos mais de 2 mil outros prefeitos que se reelegeram no Brasil ou dos mais de 90% dos prefeitos de capital que ganharam um novo mandato em outubro. O fato de ele ser apoiado pelo governador não teve praticamente nenhum peso na decisão dos eleitores, como mostraram diversas pesquisas feitas durante e após a eleição. Apesar disso, Serra virou o “vitorioso”. 

O que isso mostra é que, terminadas as eleições municipais, pouco interessa o que aconteceu, objetivamente, nelas. Os verdadeiros vitoriosos são os que conseguem impor suas versões a respeito delas. Os derrotados são os que perdem essa batalha. As versões, e não os fatos, é que têm conseqüências políticas. 

27 dezembro 2008

Morre o cientista político Samuel P. Huntington

Samuel P. Huntington of Harvard Dies at 81 (Retirado do site do NYT)
By Sarah Wheaton
Samuel P. Huntington, an influential political scientist and longtime Harvard University professor, died at the age of 81 on Wednesday, according to an obituary on Harvard’s Web site. Mr. Huntington’s most famous thesis – that world conflicts stem from the competing cultural identities of seven or eight “civilizations” – became a fundamental, if controversial, premise of post-Cold War foreign policy theory. His emphasis on ancient religious empires, as opposed to states or ethnicities, gained even more cache after the Sept. 11 attacks.
Michael Ignatieff summarized the thrust of Mr. Huntington’s 1996 book in a Times book review:
In expanding the Foreign Affairs article into ”The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order,” Mr. Huntington has thickened out his argument, but it remains controversial. If there are seven or eight world civilizations, he says, the West had better shed the hubristic notion that its civilization is destined to spread its values across the globe. The West is ”unique” — but its values are not universal. Universalism, Mr. Huntington maintains, is just a leftover from imperialism. Western aid workers have no business telling the Afghan Taliban to allow their women to go to school. Washington has no business tying human rights conditions to its trade with China. It is a significant change of heart for a former architect of American policy in Vietnam to assert that ”Western intervention in the affairs of other civilizations is probably the single most dangerous source of instability and potential global conflict in a multicivilizational world.”
But critics, including Edward W. Said, a Columbia University professor who wrote “Orientalism,” said Mr. Huntington’s theory perpetuates a “West against the rest” mentality.
Mr. Huntington’s most recent book, “Who Are We? The Challenges of American National Identity,” was published in 2004 and tackled immigration. That volume also attracted criticisms of his assertion that low levels of assimilation by Hispanic immigrants could cleave the country in two.
Born Samuel Phillips Huntington in New York City on April 18, 1927, he was an adviser to Hubert H. Humphrey and Jimmy Carter. He stepped down from active teaching at Harvard in 2007, and he died on Dec. 24 in Martha’s Vineyard, Mass.