Marcos Coimbra Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi marcoscoimbra.df@diariosassociados.com.br |
2008 na Política Alguém acha que o eleitor típico, por ter votado em quem votou em outubro, vai votar da mesma maneira em 2010? Se a popularidade que Lula foi ganhando ao longo do ano se constituiu em um dos assuntos mais relevantes e de maior impacto na vida política brasileira em 2008, outro foram as eleições municipais realizadas em outubro. Não que elas tivessem sido diferentes das que fizemos desde a redemocratização, mas marcaram o ano, projetando conseqüências sobre as eleições presidenciais de 2010. As escolhas de prefeitos e vereadores costumam ser tratadas pelo sistema político com uma mistura de excesso e falta de atenção. No começo do processo, quando distam alguns meses, e durante seu desenrolar final, especialmente enquanto estão no ar as campanhas nas grandes cidades, os meios políticos e a imprensa ficam obcecados com elas, dando-lhes uma importância que não têm. Quando acabam, nem bem se passam algumas semanas, ninguém se interessa mais pelo que aconteceu. Nem uma coisa nem outra são corretas. Eleições municipais são sempre importantes e são assim consideradas pelos eleitores. Todos os cidadãos (como indica a palavra) vivem em cidades e saber quem vai administrá-las está longe de ser irrelevante para eles. Especialmente para quem mais depende dos serviços que as prefeituras prestam, o que um prefeito e uma Câmara pensam pode fazer uma enorme diferença. Cada eleitor escolhe seus candidatos muito consciente do que está fazendo. Daí, no entanto, não se deduz que elas sejam relevantes para além disso. Quem as analisa à procura de sinalizações, do que “querem dizer” a respeito das seguintes, apenas mostra que não compreende o eleitor. Se existem, são raríssimos, por tudo que revelam as pesquisas, aqueles que votam para prefeito querendo “mandar um recado” ou pensando nas subseqüentes eleições de presidente ou governador. O que tivemos, nas eleições de outubro, foram, como sempre, escolhas locais, movidas por lógicas locais. Fizemos cerca de 5,6 mil eleições diferentes, cada uma em uma cidade, onde se defrontaram pessoas reais, conhecidas pelos eleitores, e não entes abstratos. Aqui, ganhou fulano, ali, beltrano. Nem Lula nem o governador ou uma liderança regional. Cada uma obedeceu, fundamentalmente, a uma pauta local. Alguém acha que o eleitor típico, por ter votado em quem votou em outubro, vai votar da mesma maneira em 2010? Em termos concretos: o eleitor que votou em um candidato do PMDB vai aguardar o que as lideranças do partido dirão antes de decidir em quem votar para presidente? Quem votou, por exemplo, em Eduardo Paes, no Rio, vai seguir sua orientação na escolha do candidato a presidente? Como ninguém em são juízo pode pensar assim, de onde vem a tese de que o “o PMDB saiu forte” da eleição, tornando-se a “noiva predileta” para 2010, como vários jornais não se cansaram de repetir? Sabe-se lá, mas o certo é que ela teve conseqüências muito concretas, açulando o apetite dos cardeais do partido, que passaram a querer, entre outras coisas, as presidências das duas casas do Congresso. No fundo, passados dois meses, não resta quase nada das coisas que dominavam o noticiário faz pouco tempo. Os fatos ficaram para trás e só os especialistas voltarão a eles no futuro, para interpretá-los com mais rigor. Restam, no entanto, as versões, como essa da “vitória peemedebista”, que ninguém mais questiona. Ou como outra versão que se impôs (ou foi obtida com competência), a da “vitória de Serra”. A eleição de Gilberto Kassab não teve quase nada de diferente das reeleições dos mais de 2 mil outros prefeitos que se reelegeram no Brasil ou dos mais de 90% dos prefeitos de capital que ganharam um novo mandato em outubro. O fato de ele ser apoiado pelo governador não teve praticamente nenhum peso na decisão dos eleitores, como mostraram diversas pesquisas feitas durante e após a eleição. Apesar disso, Serra virou o “vitorioso”. O que isso mostra é que, terminadas as eleições municipais, pouco interessa o que aconteceu, objetivamente, nelas. Os verdadeiros vitoriosos são os que conseguem impor suas versões a respeito delas. Os derrotados são os que perdem essa batalha. As versões, e não os fatos, é que têm conseqüências políticas. |