02 maio 2008

Eleições Americanas

Entrevista

Quais tópicos dos discursos de Hilary Clinton, Obama e McCain influenciam as relações EUA/Brasil? (ex:Política e comércio exterior, Conselho de Segurança da ONU, meio-ambiente, energia, imigração...):
Os principais pontos são política e comércio exterior e imigração, apesar de ambos não terem dados pistas concretas a respeito do caminho que será seguido nesses dois assuntos. A tradição dos democratas é de (i) adoção de um posicionamento protecionista em relação ao comércio exterior, o que seria ruim para o Brasil, e (ii) a adoção de uma política mais tolerante em relação os imigrantes ilegais, favorecendo parte da colônia brasileira que vive nos EUA.

Quais pontos chamam a atenção nos discursos sobre estes assuntos?
O fato de que grande parte desses assuntos esteja sendo tratada como temas secundários. A agenda política está sendo totalmente tomada pela crise econômica americana e pela guerra no Iraque.

Como são tratadas questões regionais como América Latina, Mercosul e Amazônia?
De forma secundária e marginal. Praticamente, não entram na pauta de campanha.

O que os candidatos dizem sobre o embargo a Cuba?
Existe uma preocupação em relação a Cuba, principalmente por causa do número de eleitores com ligação com a Ilha. Tanto Hilary quanto Obama tratam a questão com cuidado, mas, fatalmente, vão ser questionados a respeito de suas estratégias de reaproximação. Mas não há nada concreto, até porque, o cenário em Cuba tem mudado mundo.

Que maneiras de lidar com a crise econômica atual responderiam melhor a nossas expectativas?
Para o Brasil seria importante uma liberalização maior do mercado, principalmente no que diz respeito ao fim dos subsídios agrícolas e o aquecimento do mercado interno daquele país. Nesse aspecto, os republicanos estariam mais próximos dos nossos interesses.

Propostas sobre Iraque e Oriente Médio influenciam o Brasil?
Sim, na medida em que influenciam o preço do petróleo, uma das nossas principais fontes de energia.

Em relação ao Brasil, O que deve continuar do governo Bush independente de quem seja eleito?
(i) O caráter secundário com o qual a América Latina é tratada; (ii) a idéia de que o Brasil merece ser tratado como um líder regional e possui papel importante para moderar os apetites dos governantes dos países vizinhos mais exaltados.

Nos discursos, qual o valor de os EUA terem o primeiro negro ou a primeira mulher no poder? Isso influencia contra o candidato branco dos Republicanos?
É claro que existe um conteúdo simbólico, ainda mais em uma sociedade repleta de clivagens como a estadunidense. Portanto, é possível que isso gere resistências em alguns setores mais conservadores e discriminatórios. Mas ainda não é possível o tamanho dessa resistência. Teremos que esperar o processo eleitoral para poder medi-la.

Professor, só para complementar, a Folha de São Paulo de ontem trazia notas dizendo que McCain se recusa a> negociar com Cuba a não ser que o país cumpra prerrogativas democráticas nas eleições e em outros campos.> Enquanto isso, o pastor Jeremiah Wright dava declarações de que Obama seria tão radical quanto ele mas escondia> suas posições para angariar votos, e os correligionários de Obama temiam que isso fosse usado por seus adversários.
Quanto à declaração de Mcain, fica claro que, sob seu governo, os EUA não adotarão a mesma postura que tiveram com a China, onde a atração econômica dispensou a necessidade de uma abertura política. Como Cuba não possui o mesmo poderio econômico, mas se constitui em um símbolo de resistência, os EUA poderão aguardar a transição democrática.

Esse pastor realmente tem prejudicado Obama. Um candidato negro tem que ser obrigatoriamente moderado para ser aceito pelos círculos políticos. É possível que Obama tenha que oferecer provas concretas de que Wright está errado.

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