18 abril 2011

O (difícil) caminho da oposição!


O desafio da oposição

Na última semana, um artigo publicado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o estado atual do universo partidário brasileiro agitou o mundo político e ofereceu insights interessantes sobre um possível realinhamento da oposição no Brasil. Em seu diagnóstico, o PT domina eleitoralmente os movimentos sociais e a parcela da população que é atendida pelas políticas redistributivas. Portanto, caberia ao PSDB, DEM e PPS mirarem suas baterias em outros segmentos, outros nichos que estariam “orfãos” de representação, como os jovens que habitam as redes sociais e a classe média. Para o tucano, os partidos deveriam tentar superar o fosso que os separam das pessoas por meio da abordagem dos seus problemas cotidianos.

A análise de FHC é válida, mas pode ser discutida em alguns pontos. Primeiro é o fato dele ter se baseado numa configuração eleitoral pertencente ainda à era Lula, ignorando possíveis impactos que certamente virão de Dilma Rousseff. Nesse sentido, há dois movimentos que merecem atenção. O primeiro é a entrada da questão gênero na agenda política. Caso Dilma consiga, por meio de reposicionamento de políticas públicas, agregar o público feminino ao contigente eleitoral petista, suas chances de reeleição em 2014 crescem consideravelmente. O segundo ponto é o estilo tecnocrata da presidente. Ao focar a seu mandato na gestão (em detrimento da política, como fez Lula), ela pode se apropriar de umas das bandeiras mais caras ao PSDB e avançar sobre um eleitorado que, até aqui, pertence a Serra, Aécio e Alckmin.

Ou seja, para a oposição, as coisas podem ficar piores.

Que caminho resta à oposição? Afirmar que os partidos devem focar os problemas cotidianos das pessoas é muito mais um princípio do quê uma receita. Além disso, dificilmente a resposta sairá das bancadas parlamentares, muito distantes dos recursos necessários para fazer a aproximação sugerida.

O caminho para o restabelecimento da oposição passa pelos governos estaduais. Juntos, PSDB e DEM governam dez estados da federação que atravessam o país de norte a sul e que apresentam perfis diversos. A oposição governa centros economicamente muito dinâmicos, como Santa Catarina, Paraná, Goiás, São Paulo e Minas Gerais e atores emergentes como Tocantins, Pará e Rio Grande do Norte. A diversidade apresenta um laboratório riquíssimo para experiências de gestão e seus resultados podem compor uma plataforma de atuação nacional. O hiato entre partidos e pessoas só pode ser vencido quando se tem instrumentos de gestão à disposição. E, para a oposição, isso só pode acontecer no âmbito estadual.

Trata-se de um recurso potencial formidável.

Mas para que isso aconteça, será necessário um enorme esforço de coordenação entre os governadores para a adoção de uma agenda de políticas públicas comum aos estados, construindo assim uma marca de governo pelas quais eles passariam a ser conhecidos. Portanto, o desafio dos gestores estaduais é investir coordenada e agressivamente em um diálogo com a população, captar suas preferências e valores e transformá-las em políticas responsivas e impessoais, passíveis de serem implementadas em todo o conjunto de estados que compõem o bloco oposicionista.

A mensagem implícita nesse caminho é a seguinte. Para seguir adiante, a oposição deverá transcender o debate político atual. A estratégia de criar uma concertação não pode se limitar à projeção de uma ou duas lideranças com alguma força agregadora. Mas deve estar pautada na construção de uma frente partidária organizada que tenha condições de oferecer novas experiências à população (via gestões estaduais) em uma escala tal que permita ao PSDB, DEM ou PPS oferecerem uma candidatura substancial e competitiva nas próximas eleições presidenciais.


Leonardo Barreto e Wladimir Gramacho são cientistas políticos e pertencem ao Instituto FSB Pesquisa.

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