13 junho 2011

Essa é a grande fronteira da política...


Internet é arma política para 71% dos jovens

Pesquisa mostra que rede se firma como ferramenta de mobilização alternativa

DE SÃO PAULO


Descontentes com as instituições políticas tradicionais, os jovens brasileiros consolidaram a internet como instrumento alternativo para mobilização social, mostra pesquisa feita pelo Datafolha em parceira com a agência de publicidade Box.
Para 71% dos entrevistados, é possível fazer política usando a rede sem intermediários, como os partidos.
O dado, segundo especialistas ouvidos pela Folha, revela um esgotamento do modelo tradicional de mobilização e impõe um desafio aos que pretendem assumir a representação dos jovens.
A pesquisa compreendeu uma fase qualitativa, a que se seguiu um painel quantitativo. Neste, foram entrevistados 1.200 jovens com idade entre 18 e 24 anos, em cidades de quatro regiões do país.
"Esse jovem pensa a política de forma menos hierárquica e mostra uma descrença em relações às instituições formais, como partidos ou governo", diz Gabriel Milanez, pesquisador da Box.
O sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirma que "a juventude se comunica diretamente". "Ela salta instituições. É preciso uma liderança que faça a ponte entre a sociedade e a necessidade de organização institucional", disse à Folha.
Exemplos desse "salto" ficaram frequentes no noticiário dos últimos meses.
No Egito, por exemplo, a imagem da praça Tahrir tomada por manifestantes organizados pela internet tornou-se símbolo da queda do ex-presidente Hosni Mubarak. No Brasil, em proporção ainda reduzida, o poder de mobilização das redes sociais também já aparece.
Por fora dos partidos e das organizações tradicionais da juventude, organizaram-se protestos como as marchas da Maconha e da Liberdade, assim como o Churrascão da Gente Diferenciada, contra moradores de Higienópolis, na capital paulista, que fizeram oposição à construção de uma estação de metrô.
Para o professor de filosofia da USP Vladimir Safatle, são eventos que apontam para um momento de transição.
"A forma partidária chegou a um esgotamento e as demandas vão se expressar de uma nova forma. Há, no entanto, uma questão em aberto, que diz respeito a como a sociedade vai se organizar a partir daí", diz.
Marco Magri, um dos coordenadores da Marcha da Maconha e ativista de outros movimentos organizados pela rede, reconhece a "falência" do que chama de "política institucional". "O descontentamento com esse modelo se reflete no tamanho das mobilizações que anônimos conseguem promover."
"Essa política tradicional está fadada a perder espaço. E a nós caberá o desafio de levar aqueles que se mobilizam na internet às ruas, que é o que provoca algum resultado", avalia.
(DANIELA LIMA)

Comentário: por que a internet vai aumentar a ação política? Basicamente porque ela reduz o custo da ação coletiva. É mais barato (em termos de tempo) participar via internet. Agora, ela é efetiva? Eu acredito que, na medida em que a internet se consolidar como principal meio de comunicação e informação, o mundo virtual vai se equivaler ao mundo real em termos de importância política e isso vai exigir uma adaptação brutal das atuais instituições representativas.

4 comentários:

Fabio Storino disse...

Não sou tão otimista quanto você, Leonardo. A Intermet vai se tornar, sim, o principal locus de vocalização da sociedade. Mas as decisões políticas continuarão a ser tomadas pelas instituições políticas tradicionais (partidos políticos, políticos eleitos). Continuarão a ser mais influenciados bem mais pelos lobbistas que chegam "na xinxa" do que pelos que criam comunidades "Eu odeio..." no Facebook. As novas gerações continuarão a se afastar da política institucional, e os "ratos" da política agirão cada vez mais livres.

Em vez de esperar que as instituições políticas tradicionais evoluam, deveríamos participar ativamente dessa mudança (ao menos para acelerá-la).

Diego disse...

gostei da sua opinião, a internet é um grnade instrumento de transformação da sociedade.Também tenho um blog: diego1dias.blogspot.com
Abraços

Ronperlim disse...

A rede é indispensável, isto ninguém tem dúvidas. O problema não é usá-la, é saber usá-la. Explico: nas eleições de 2010 o que se viu foi uma "guerra" política de baixo nível, de ambos os lados.

O que se percebeu foi o uso indevido para macular candidatos, procriar preconceitos, estimular sentimentos ruins e vis, a exemplo de Mayara.

O que falta é a compreensão do conhecimento para que haja troca de ideias, filosofia etc. para que os internautas possam tomar decisões sábias, inteligentes.

Se a Internet for usada como nas eleições de 2010, será apenas um instrumento tradicional de se fazer política: mesquinho e vil.

Fabrício Martins Pinto disse...

As novas manifestações incorporam valores inovadores: não se vê uma liderança cristalizada, tampouco o intermédio de instituições políticas. A ausência de um atrelamento com partidos e organizações do tipo é importantíssima para garantir a liberdade desses movimentos. O âmbito virtual é fundamental para essas novas manifestações, seja por motivos de praticidade, seja pelo grande alcance ou seja pelo baixo custo, tal como foi comentado.

Desacredito no ideal de necessidade de institucionalizar essas causas. As instituições políticas tradicionais estão desvirtuadas. Encarando a realidade da difícil transformação radical dessas instituições, deve-se, ao menos, modificá-las, combatendo seus defeitos.