21 janeiro 2009

Expectativas para o governo Obama (David Fleischer)

(Divulgado originalmente no site www.unb.br)

Quais são as perspectivas para o governo de Barack Obama? O que este novo governo pode significar para os Estados Unidos e o mundo a partir de 20 de janeiro?

Em termos da economia e políticas públicas internas nos EUA, pode significar uma tentativa de reequilibrar os sistemas financeiro e econômico do país, políticas mais eficazes de energia e meio ambiente, e apoio às pesquisas científicas com células-tronco. Voltará a impor regras mais fortes para o controle e monitoramento mais severos do sistema financeiro para evitar novos débâcles como observados em 2008.

Em relação ao mundo exterior, espera-se que o governo Obama consiga reinserir os Estados Unidos dentro da comunidade das nações e que não tome decisões unilaterais, sem consultar as Nações Unidas e a Comunidade Européia, por exemplo. Obama promete fechar a prisão em Guantánamo e proibir o uso de métodos de tortura nos interrogatórios dos presos, como afirmou a nova Secretária de Estado, Hillary Clinton, no seu depoimento no Senado em 13 de janeiro. Ela pregou o uso de smart power e soft power, em vez de apenas o hard power (usado pelo governo Bush).

Os grandes desafios de Obama são: encontrar uma solução definitiva para o conflito entre Israel e os palestinos; reduzir as tensões e ameaças em relação ao Irã; avançar as negociações da Rodada Doha na Organização Mundial do Comércio e junto com a Comunidade Européia (e o chamado G-20); e estruturar um novo sistema econômico-financeiro internacional (tipo Bretton Woodsrevigorado), com poderes de monitoramento e intervenção, para evitar novas crises mundiais. Neste ponto, o Brasil vai continuar sendo um importante interlocutor.

Quanto à América Latina, Hillary Clinton propôs ampliar as relações com “nossos amigos do Sul” – sinais “positivos” antes da 5ª Cúpula da América Latina, a ser realizada em Trinidad-Tobago dos dias 17 a 19 de abril. Ela prevê uma política “mais engajada” com um “envolvimento mais vigoroso”. Até lá, quem sabe, o governo Obama já tenha iniciado uma reaproximação com Cuba e Venezuela. Os presidentes Raul Castro e Hugo Chávez já se mostraram dispostos a conversar com o novo governo americano.  Para a região, o comércio e crescimento econômico são primordiais.

Na semana antes da sua posse, Obama almoçou com o presidente mexicano, Felipe Calderón, para uma troca de idéias sobre as relações bilaterais. A primeira viagem do novo presidente será para o Canadá. Durante a campanha, Obama falou muito na necessidade de revisar o Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio) com esses dois parceiros.

Em relação ao Brasil, há indicativos de que Obama vai tentar reduzir os atritos comerciais – eliminar a sobretaxa em cima do álcool brasileiro, o caso do algodão via OMC, o protecionismo vis-à-vis do suco de laranja. É possível que o Brasil se torne um interlocutor mais importante do que foi no governo Bush junto à Venezuela e a Cuba, bem como em relação ao resto da América Latina, caso as negociações da ALCA sejam reabertas – mas incluindo cláusulas ambientais e sociais. Porém, com a crise mundial, talvez o novo governo não tenha muito tempo para lidar com a região.

Em nível mundial, no caso de uma possível reforma das Nações Unidas, é possível que o governo Obama venha a apoiar a aspiração brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança. É possível que haja uma convergência dos interesses americanos e brasileiros em torno do meio ambiente (aquecimento global) e na área de energias renováveis (biocombustíveis). Porém, em 2009, novamente haverá questionamentos sobre a política nuclear brasileira no ambiente da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em Viena.

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