02 fevereiro 2009

É preciso “problematizar” o Brasil!


O Brasil está mudando. De uma forma rápida e descontrolada, que ignora qualquer planejamento governamental. Entramos em uma roda viva feroz, típica das sociedades modernas, que gira movida pela energia de suas próprias contradições internas.

Não há um só dia em que os brasileiros não se deparam com algum desafio novo ou antigo, doméstico ou global, fácil ou insolúvel. Tudo isso promove um debate interminável e cria uma sensação de que é impossível viver despreocupadamente, pois estamos sempre em meio a um turbilhão de crises que se sucedem. Nossa sociedade deixou, definitivamente, o marasmo colonial e a rigidez oligárquica/autoritária. Experimentamos pela primeira vez o dinamismo intrínseco das democracias maduras.

O que nos torna modernos é a capacidade de refletir sobre todo tipo de questão, alcançando tantos pontos de vistas quanto possíveis e inovando nas soluções experimentadas. Por isso, necessitamos de pessoas que “problematizem” o Brasil! Ou seja, é preciso valorizar atores que consigam transformar toda essa agitação em perguntas capazes de mobilizar a população na busca de respostas. Como diz o ditado, “nenhum caminho é correto quando não se sabe para onde ir”.

Nesse sentido, é importante prestar atenção no papel desempenhado pelo ministro Mangabeira Unger. Professor de Barack Obama em Harvard e criador da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, Unger tem trazido contribuições importantes no que diz respeito às nossas condições atuais e possibilidades de desenvolvimento.

O ministro observou, por exemplo, que a nova classe média brasileira é composta por uma população mestiça, morena e educada no ensino noturno, normalmente pago com recursos próprios. Essa nova composição pode trazer fortes impactos para o marco ético da civilização brasileira, pois pessoas que pavimentam seu próprio caminho tendem a acreditar mais no seu potencial e a recusar o discurso de “lamentação social”, termo criado por Unger para identificar o complexo de vitimização e incapacidade, que adotamos historicamente (Nelson Rodrigues se referia a esse sentimento como “complexo de vira-latas”).

Nesse sentido, o que aconteceria se nós deixássemos de gostar da condição de pobres-coitados? Por quê nós não nos mobilizamos para universalizar oportunidades objetivas em detrimento das esmolas? Qual a atitude e o tipo de comportamento que devemos valorizar e estimular nas próximas gerações?

Esses perguntas devem ser alvo da inteligência brasileira, responsável por criar convicções capazes de ultrapassar o curto horizonte dos governos e se tornarem princípios universais que passem a orientar políticas de Estado e o comportamento dos atores políticos. Portanto, Unger está estimulando um processo importante. Estamos em condição de arriscar alguns palpites sobre nossa própria condição e, quem sabe, sobre alguns problemas que afligem os países mais desenvolvidos. Para tanto, é preciso problematizar!

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