09 fevereiro 2009

A era do PMDB


As eleições de Michel Temer e José Sarney para as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente, consagra a hegemonia do PMDB na política brasileira. Atualmente, o partido conta com as maiores bancadas do Congresso Nacional, seis ministérios, sete governadores, cinco vice-governadores e 1.308 prefeitos. Domínio igual só aconteceu durante presidência Sarney quando, embalado pela popularidade do plano cruzado, o partido elegeu todos os governadores dos estados brasileiros, com exceção de Sergipe.

Com tamanha concentração de poder, o PMDB consolida-se como parceiro obrigatório de qualquer presidente (deste e do próximo), independente da vertente ideológica. Como conseqüência deve ser a ampliação do seu espaço dentro do governo. Na prática, isso significa que os caciques do partido aumentarão o “preço” cobrado pelo seu apoio no Congresso, normalmente pago na forma de cargos, ministérios, secretarias, etc. Lula que se cuide e o contribuinte que prepare seu bolso.

Tanto Sarney quanto Temer chegaram às presidências do Congresso sem assumir compromissos explícitos com qualquer reforma institucional, devendo se comportar de acordo com a conjuntura e articuladamente com o Planalto. A exceção deve ser alguma restrição  moderada à capacidade do governo de emitir Medidas Provisórias, principal demanda apresentada pela Casas.

No caso do Senado, o maior efeito colateral da eleição de Sarney para a presidência do Senado é o retorno triunfante de Renan Calheiros à primeira cena da política nacional. O senador alagoano, principal articulador da campanha de Sarney, tornou-se o principal interlocutor da base governista junto ao Planalto e será peça chave para a governabilidade, controlando a distribuição de cargos e outros recursos de poder entre os senadores.

No que se refere às alianças para a sucessão presidencial em 2010, o PMDB tornou-se a noiva mais disputada da quermesse (mesmo que ela não seja tão fiel assim). O partido não conta com nenhum nome campeão de votos, mas possui uma eternidade de tempo no horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, recurso muito precioso para os candidatos.

PT e PSDB lutarão muito para ter o PMDB como vice da chapa. Por enquanto, a partida está empatada. Enquanto Sarney é um forte aliado de Lula, Michel Temer parece ser mais simpático à Serra. Com cabos eleitorais tão peso pesados, pode-se supor que o vencedor não leve o apoio integral do partido para casa, pois haveria espaço de sobre para a traição dos setores derrotados. Outra possibilidade menos provável, mas real, é a manutenção do equilíbrio e a legenda decidir-se por não apoiar ninguém.

Nessa altura do texto, o leitor deve estar se perguntando: com tanto poder, porque o PMDB não lança candidato próprio nas eleições presidenciais? A resposta é a falta de coesão interna que impede a construção de consenso em torno do nome de um candidato.

A fragmentação é uma herança do velho MDB: a impossibilidade de formar outros partidos obrigou a reunião de várias tendências dentro de uma só bancada, comprometendo sua coerência e coesão. A indefinição ideológica, agravada pela cisão que criou o PSDB, somou-se à intensa relação travada com a burocracia estatal durante o período Sarney e terminou por oferecer contornos definitivos à legenda.

O PMDB pode ser caracterizado como um partido pertencente a um “centro pragmático”, onde a proximidade e a defesa de interesses junto ao Estado determinam suas estratégias e posicionamentos. Desde a democratização, todos os governos contaram com ministros de Estado indicados pela legenda. A legenda desempenha seu papel na vida política brasileira como o partido do establishment e, apesar dos percalços, da governabilidade. Dessa forma, como lembrou recentemente Michel Temer, o partido não precisa ganhar a presidência da República, pois ele estará do lado vencedor de qualquer forma.      

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