29 dezembro 2010
Euro a perigo...
Apenas 17% têm a sensação de que foram beneficiados com a adoção do euro, enquanto 77% responderam à pergunta de forma negativa. Na sondagem, 67% dos entrevistados se disseram preocupados com a estabilidade do euro, enquanto 56% temem uma inflação.
Os alemães continuam ligados afetivamente ao seu marco: quase 14 bilhões em notas e moedas ainda não foram trocados pelo euro, segundo informações do Bundesbank, o banco central alemão.
Se a Alemanha cair, adeus à comunidade européia!
27 dezembro 2010
Subsídios para discutir o futuro das políticas públicas no governo Dilma!
Dayanne Sousa (capturado no TERRA)
Se as políticas de desenvolvimento social tivessem acompanhado o crescimento da economia há décadas, a pobreza estaria extinta há pelo menos 20 anos, pondera o economista Marcio Pochmann. O presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) avalia que a presidente Dilma Rousseff tem condições de cumprir sua principal promessa de campanha: superar a miséria.
Terra Magazine - A ascensão social e o crescimento da classe C nos últimos anos foram destacados no governo Lula. A que isso se deve?
Marcio Pochmann - Se nós olharmos ao longo do século 20, o Brasil foi uma das nações que mais cresceu do ponto de vista econômico, ampliando a base material que permitiu que deixássemos de ser um país agrícola e nos transformássemos num país industrial. A despeito desse avanço econômico, os avanços sociais foram relativamente pequenos quando a gente olha o conjunto da população. O Brasil não fez o conjunto das reformas que os outros países fizeram, não fez reforma agrária, não fez reforma social, não fez reforma tributária. É natural que sem essas reformas não pudessem ser mais bem distribuídos os ganhos que o Brasil obteve. Apesar dessa característica de um processo muito concentrador, nós sempre tivemos uma forte mobilidade social. É uma característica do capitalismo brasileiro. Mas nas décadas de 80 e 90 essa mobilidade foi reduzida. Era cada vez mais difícil que os filhos de classe média conseguissem reproduzir o padrão de seus pais. O que nós temos nesta primeira década do século 21 é a forte mobilidade social. O desafio do próximo governo é como abrir as oportunidades não apenas para a base da pirâmide social, mas também acima dos níveis intermediários.
Como assim?
Isso depende não apenas do crescimento da economia, mas do tipo e da natureza do crescimento. Porque crescer é importante, mas depende do tipo. O desenvolvimento fundado na produção de commodities permite a economia crescer, mas as oportunidades, a qualidade das ocupações é diminuta. A expansão de setores de maior valor agregado pode permitir a contratação de pessoas com salários maiores.
No final de 2009, o senhor disse em entrevista a Terra Magazine que 2010 seria o melhor ano para o Brasil. Foi, de fato?
Eu acho que nós só podemos comparar o desempenho brasileiro deste ano com o que nós vivenciamos na primeira metade da década de 70, com o chamado Milagre Econômico. Só que esse desempenho de 2010 é diferente daquele. Nós crescemos um pouco menos, mas esse crescimento de agora tem distribuição de oportunidades. Com saída da pobreza de parcela significativa da população e ampliação das oportunidades escolares. Um país que está crescendo sem depender do mercado externo, contrário do que era no Milagre Econômico. É muito mais saudável o que está acontecendo neste ano de 2010. Especialmente pelo número de empregos formais, que é uma coisa impressionante.
A presidente Dilma fez uma promessa de erradicar a miséria. Isso é possível? Como?
Quando nós falamos em nova classe média no Brasil, causamos a falsa impressão de que se trata de uma classe média com padrão de vida europeu. Isso não é verdade, estamos num país que carrega as condições de um país subdesenvolvido. A possibilidade de superarmos a pobreza é algo que faz parte da agenda de superação do próprio subdesenvolvimento. É estranho que o Brasil - já sendo a oitava economia do mundo na década de 70 - tivesse 40% da sua população vivendo na condição de pobreza. Nós poderíamos ter superado a pobreza há 20 anos. É bastante peculiar no Brasil o disparate entre a base material e econômica que o país possui e o padrão social. O que nós estamos vendo agora é um avanço mais rápido do padrão social e por isso que o Brasil consegue ter esse indicativo de superação da pobreza nos próximos cinco ou seis anos. Isso é viável. É evidente que precisa crescer e sofisticar melhor as políticas sociais, mas não é impossível.
E quais os desafios, então?
Cada vez mais a gente vem enfrentando a nova pobreza. Ela é caracterizada, em primeiro lugar, pela transição demográfica que nós estamos vivendo. Um processo acelerado de envelhecimento dos brasileiros. Infelizmente o Brasil ainda não está preparado para lidar com uma parcela significativa da população em condição de pobreza. Temos 3 milhões de pessoas com mais de 80 anos e em 2030 pode ter cerca de 20 milhões de pessoas com 80 anos ou mais. Isso significa considerar um fundo público de políticas nesse segmento e políticas de saúde nessa direção. Também estamos vivendo uma transição do ponto de vista da organização da economia, que está cada vez mais centrada nos serviços. Isso não quer dizer que a indústria e a agricultura não sejam importantes, mas nós vamos gerar emprego é no setor de serviços. Isso pressupõe uma nova forma de olhar essas ocupações, pressupõe olhar o conhecimento como a principal forma de manejo. E nós temos problemas sérios na educação.
A necessidade já anunciada pelo ministro Guido Mantega de fazer cortes nos gastos públicos pode prejudicar os investimentos na área social?
Nós vínhamos num ritmo bastante acelerado, crescendo acima de 7% ao ano. E possivelmente teremos um crescimento menor para 2011. Ao redor de 5%, o que já é bastante grande olhando o período recente do Brasil. Uma coisa é o custeio, outra coisa é o investimento. Espero que essas decisões considerem o teor do investimento, que é crucial uma vez que o investimento é a melhor política para conter a inflação. O investimento permite ampliar a capacidade produtiva gerando mais produtos e serviços e evitando uma inflação de demanda.
O senhor acha que seja necessário reduzir os gastos públicos?
Sim. Se olharmos o gasto como um todo, incluída a despesa com juros, eu não tenho dúvida. Nós temos todas as condições de reduzir a despesa pública, especialmente aquela que é improdutiva para o país: a despesa com os juros. O Brasil está gastando de 5% a 6% do PIB. Isso é um gasto elevadíssimo, um absurdo.
A economia já cresce o suficiente para que seja possível haver ajuste fiscal sem que isso afete o crescimento da economia?Eu acredito que nós já abandonamos essa fase de ajuste fiscal. Essa política sofreu uma derrota nas últimas três eleições. O Brasil, de uns tempos para cá, trocou o ajuste fiscal pelo desenvolvimento. O que está em jogo neste momento é: quais são as condições macroeconômicas para garantir o desenvolvimento brasileiro. As finanças públicas são o meio, não o fim. Nos anos 90, o ajuste fiscal era o fim. O governo estava organizado para o ajuste fiscal. E lamentavelmente o que nós vimos foi um aumento do endividamento público, especialmente comparado ao PIB. E o aumento da carga fiscal. Hoje o que estamos verificando é que a dívida pública caiu. E não porque teve ajuste fiscal, mas porque a produção cresceu mais rapidamente.
20 dezembro 2010
Reflexões do professor Bresser!
DURANTE OS 30 anos neoliberais aprendíamos que o Estado era a fonte de todos os males; que o setor privado estava sempre equilibrado porque era coordenado pelo mercado, enquanto que o Estado -regido pela política- era objeto do populismo econômico e se constituía em um obstáculo maior ao crescimento com estabilidade.
E era meia verdade em relação ao Estado, porque há políticos populistas, mas a maioria é responsável fiscalmente, porque sabe que dessa responsabilidade depende sua sobrevivência.
Este fato tornou-se patente em relação aos grandes países ricos na crise financeira global de 2008.
O político toma decisões com razoável conhecimento das consequências de seus atos, enquanto que os agentes privados fazem profecias autorrealizadas ao preverem o aumento dos preços dos ativos e os comprarem.
16 dezembro 2010
Refundação do PSDB caminhando da periferia para a base!
Retirado do uol notícias.
Os oito governadores eleitos do PSDB se reuniram nesta quarta-feira (15) em Maceió para discutir os rumos do partido e iniciaram o que está sendo chamado de “refundação” tucana após a terceira derrota consecutiva na eleição presidencial.
Segundo o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), a ideia do senador eleito por Minas Gerais, Aécio Neves, de modernizar o partido, com a discussão de novos conceitos, começará a ser posta em prática a partir de agora e que deve levar em conta conceitos de comunicação com o eleitor e unidade partidária nacional.
“Refundação é uma palavra ampla, tem a ver com a construção de um novo partido, atualizado, moderno. Isso pode ser chamado de atualização, reforma, mudança”, disse Guerra, ao lado dos governadores tucanos eleitos em outubro: Geraldo Alckmin (SP), Antonio Anastasia (MG), Marconi Perillo (GO), Simão Jatene (PA), Beto Richa (PR), Siqueira Campos (TO), Teotônio Vilela (AL) e Anchieta Júnior (RR).
Porta-voz dos governadores tucanos, Beto Richa afirmou que o partido vai iniciar um processo de modernização. “Estamos buscando uma nova imagem para o partido, com governos de visões modernas e ratificar para a sociedade a visão de que o PSDB é referência em boas gestões”, afirmou.
Richa ainda negou que a legenda pense em se afastar de partidos tidos como direitistas. “O partido teve muitos apoios [na última eleição], mas tem suas linhas de opinião claras, em defesa da sociedade brasileira. Não tem muito hoje essa linha direita ou esquerda. Os partidos se unem em torno de um projeto. Mas as bases programáticas não foram alteradas, mantemos um projeto para o país”, afirmou.
Interação e comunicação
Para Sérgio Guerra, o partido precisa avançar nas relações institucionais entre a bancada do Congresso federal e os governos tucanos, a fim de tornar mais nacional a imagem do PSDB. “Essa interação entre bancada e governadores é compulsória, urgente e indispensável. Isso deve nos levar a realizar uma oposição segura. Não se trata de adjetivar a oposição de radical ou moderada. Não é prioridade dos governadores tocarem programas de oposição, mas eles estarão alinhados com deputados e senadores.”
O presidente tucano ainda afirmou que “existe um abismo entre a comunicação e os fatos de dentro do partido”. “Nos comunicamos mal. Vamos realizar pesquisas eleitorais e sociais; vamos organizar uma área de coordenação dessas pesquisa junto à de comunicação”, afirmou.
Guerra ainda assegurou que não há crise dentro do partido e garantiu que a reunião com os governadores foi realizada em “total harmonia”. “Já há uma troca de experiência entre os governadores tucanos. Nós temos programas sociais de Estados governados pelo PSDB que estão sendo usados por outros governadores. Há experiências do Paraná em São Paulo, de São Paulo em Alagoas, de Minas no Paraná. A interação existe.”
Ao contrário do que era especulado, o encontro não tratou sobre a definição de posicionamento sobre a possível volta da CPMF. “Não foi discutido aqui. A CPMF ainda não está na agenda do Congresso. Esse debate deve acontecer na próxima reunião do partido. Essa pauta não foi a de hoje”, finalizou Guerra.
15 dezembro 2010
O debate sobre as pesquisas eleitorais continua!
As pesquisas nas eleições de 2010
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
As pesquisas voltaram a ocupar um lugar controverso nas eleições que fizemos este ano, especialmente na presidencial. Como já havia ocorrido no passado, chegamos ao final com um quase consenso de que é preciso mudar o modo como elas funcionam no Brasil.
Talvez por que todas apontassem que Dilma tinha chance de vencer no primeiro turno e isso não aconteceu, passamos o mês de outubro com todo mundo falando no “problema das pesquisas”.
Face ao desempenho de nossas empresas e profissionais de pesquisa eleitoral, de uma coisa, no entanto, podemos estar certos: em matéria de pesquisas, a sociedade brasileira está bem servida. Ao contrário do que supõem alguns, nas comparações internacionais, nos saímos melhor que a média.
Como tudo que é parte da política moderna, as pesquisas só se desenvolveram efetivamente por aqui depois da redemocratização. Até o início dos anos 1980, a única coisa relevante que tínhamos era a atuação pioneira do Ibope, que, na República de 1945, começou seus trabalhos na área.
Nos últimos 25 anos, o desempenho do setor no Brasil foi, consistentemente, superior ao da maioria dos países avançados, com experiência muito mais longa que a nossa. Quanto ao dos países de nível de desenvolvimento parecido ou menor, não é preciso falar. Basta lembrar que as empresas e os técnicos brasileiros são solicitados e participam de projetos na Europa, na America Latina e na África (especialmente de expressão portuguesa). Somos exportadores de know-how e de tecnologia, e só importamos quando nos é conveniente.
Quem atesta essa performance são estudos acadêmicos que usam metodologia aceita internacionalmente. Não são os próprios pesquisadores que dizem que sabem trabalhar, mas quem tem qualificação para isso.
Só por desinformação alguém daí deduziria que os institutos brasileiros se consideram infalíveis. Se há uma coisa que qualquer pesquisador sabe é que não existe infalibilidade. Aliás, as pesquisas são, provavelmente, as únicas informações que circulam no meio político que trazem um aviso explícito de validade. Todas as demais, da opinião dos candidatos à interpretação dos jornalistas, são taxativas e definitivas. Apenas elas são assumidamente incertas.
Se os institutos brasileiros se comparam (bem) aos de outros países, se nenhum dos sérios se imagina ou finge ser perfeito, qual é o “problema das pesquisas”?
É sempre possível melhorar a qualidade técnica de amostras, refinar a elaboração de questionários, modernizar e tornar mais rigorosos os procedimentos de campo. Ninguém encontrará resistências a isso nos institutos.
Mas há coisas que não compete a eles fazer: educar os meios de comunicação para que não subordinem a cobertura do processo eleitoral a elas; ensinar os políticos a usá-las com inteligência; orientar a opinião pública para consumi-las de maneira adequada. Os institutos não podem ser responsáveis por coisas desse tipo.
O verdadeiro “problema das pesquisas” é que ninguém quer fazer o que é necessário para resolvê-lo, salvo, paradoxalmente, os institutos. Quem o cria, na maior parte das vezes, são os candidatos e suas campanhas, que abusam dos resultados quando “estão bem” e se tornam seus críticos mais ferrenhos e desleais quando “estão mal”.
Alguém já viu, mundo afora, um candidato a presidente convocar uma coletiva de imprensa apenas para acusar uma pesquisa? Pois, no Brasil, acontece. Vide a lamentável cena que José Serra protagonizou este ano.
Os xingamentos de políticos, insuflando seus seguidores a desconfiar das pesquisas “ruins”, os ataques de jornalistas a resultados desfavoráveis a quem os contrata, a falta de preparo de nosso Judiciário para lidar com questões técnicas, tudo isso ajuda a fazer com que tenhamos uma visão desproporcional do “problema das pesquisas” no Brasil.
Um dia, quem sabe, chegaremos ao que deveria ser normal na democracia: boas pesquisas, acessíveis a todos, políticos que não tentam manipulá-las, jornalistas competentes, juízes com conhecimento, ninguém lhes exagerando ou negando a importância.
Enquanto esse dia não chega, vamos vivendo.
10 dezembro 2010
O grave momento da União Européia!
Abismo entre membros fortes e fracos ameaça bloco do euro (retirado do New York Times)
Steven Erlanger
Em Lisboa (Portugal)
Sara Vale Lima, gerente de vendas da Eical, uma empresa têxtil portuguesa, se sente sufocada pelo euro. A moeda comum antes significava bancos ricos e crédito fácil, mas atualmente ela expõe uma dura realidade: Portugal compartilha os salários e preços elevados dos vizinhos europeus mais ricos ao norte, mas não sua competitividade.
O preço de um rolo de tecido português, em euros, frequentemente ultrapassa em 30% o de um produto semelhante feito em países concorrentes de fora da zona do euro, como Polônia, Paquistão ou Turquia. O Reino Unido, antes um grande importador de produtos têxteis portugueses, desvalorizou a libra, e a Eical atualmente não vende quase nada para lá. “A situação está bem difícil”, disse Vale Lima.
A desvalorização é a prescrição testada pelo tempo para esses males. Mas Portugal está acorrentado a uma moeda que parece mais adequada para a força relativa da Alemanha e da França do que para países do sul como ele, Espanha e Grécia, com seus mercados de trabalho e sistemas tributários ineficientes e dívida elevada.
A União Europeia e os 16 países que usam o euro enfrentam duas crises. Uma é o problema imediato da dívida e gastos públicos excessivos. Outro é uma divisão mais fundamental, basicamente entre norte e sul, entre países exportadores mais competitivos, como a Alemanha e a França, e países deficitários não competitivos, que adotaram os altos salários e proteções sociais generosas do norte, mas sem o mesmo ethos econômico de hábitos rígidos de trabalho, inovação, mercados de trabalho mais flexíveis e alta produtividade.
Enquanto a Europa lida com sua crise financeira, os países mais ricos, mais competitivos, estão relutando em resgatar as economias mais gastadoras, incluindo a Grécia e a Irlanda, de seus apuros fiscais e bancários, impondo ao mesmo tempo cortes drásticos aos gastos deles.
Mas mesmo os defensores mais ferrenhos do euro agora reconhecem que a união monetária não pode sobreviver se seus membros mais fracos se virem pegos em um inferno perpétuo de austeridade orçamentária e queda na renda, enquanto os países mais fortes são forçados a explorar os contribuintes para os resgates financeiros.
Com o continente enfrentando mais concorrência dos rivais emergentes, incluindo Brasil, Rússia, Índia e China –sem contar dos países com salários baixos do Leste Europeu, fora do euro– os problemas da faixa sul do euro ameaçam se transformar em um círculo vicioso, que poderia aumentar as tensões e tornar a moeda comum inviável, agora argumentam alguns economistas.
Os empresários dos países do sul chamam isso de “amarras dos euro”. Oscar Turner, que dirige uma companhia cinematográfica em Portugal, explicou: “O euro é ótimo para quem viaja, mas é uma ideia absurda ter a mesma moeda tanto em países como a Grécia e Portugal quanto na Alemanha, que tem uma cultura e hábitos totalmente diferentes”.
Os países altamente endividados da zona do euro “não têm com crescer para sair da dívida”, disse Turner, nem podem desvalorizar para tornar suas exportações mais competitivas. “Nenhum desses países pode produzir um mesmo produto por um preço capaz de competir” com a Hungria, muito menos com a Turquia ou com a China.
Francisco Gays dirige uma empresa de cerâmica de propriedade familiar no leste da Espanha, que está tentando sobreviver fazendo produtos para nichos de mercado e demitindo funcionários. Mas a manufatura é cara demais no sul da Europa, disse Gaya, em parte por causa das rígidas exigências legais de benefícios, impostos e proteções aos trabalhadores.
“Os sindicatos, as dificuldades criadas pelas demissões, os custos sociais e financeiros, tudo tem sido extremamente pesado”, disse Gaya. A Espanha, ele disse, precisa permitir que as empresas contratem e demitam os trabalhadores mais facilmente. Mas “quem o fizer perderá as eleições e não governará novamente por muitos anos”, ele disse.
Esses países do sul, alguns deles democracias relativamente novas, aproveitaram o euro para tomar dinheiro emprestado de forma mais barata. Eles viveram em uma bolha de crédito e imobiliária que fez com que salários e dívidas subissem às alturas. Mas fizeram pouco para melhorar sua produtividade, mercados de trabalho ou sistemas tributários, e agora estão pagando um alto preço, com baixo crescimento ou retração, sem um conserto fácil.
Os governos reduziram gastos. Mas com exceção da Grécia, sob a arma global, mudanças legais e econômicas significativas ainda deixam a desejar. Os desequilíbrios que atormentam a zona do euro não desaparecerão a menos que o sul possa cortar custos, incluindo salários, para que suas empresas possam competir. Mas esse processo, chamado pelos economistas de deflação interna, é um veneno político.
Nouriel Roubini, um economista da Universidade de Nova York e a Cassandra das crises econômicas, não está otimista com a zona do euro e não vê uma saída fácil. Os problemas da periferia são basicamente dois, disse Roubini: “Déficit elevado e dívida elevada, além de baixo crescimento provocado em parte por este problema da competitividade”. A desvalorização da moeda é impossível e a deflação é dolorosa. “Se você tiver que reduzir preços e salários em 30% ao longo dos próximos cinco anos, deflação estará associada a recessão, e nenhum país pode aceitar isso”, ele disse. “Realizar a solução alemã de reforma estrutural levará uma década, o que não será rápido o suficiente para restaurar a competitividade. A única outra opção é um enfraquecimento acentuado do euro.” Mas com a economia alemã tão forte e o déficit americano tão alto, ele acrescentou, isso também é improvável.
Os economistas concordam que o maior teste para o euro é a Espanha, um país com uma economia com o dobro do tamanho das economias da Grécia, Portugal e Irlanda somadas. “A Espanha não está à beira do precipício; ela ainda está a alguns quilômetros de distância, mas está se movendo muito rápido”, disse Roubini. “Será que promoverão ajustes fiscais suficientes, reforma estrutural, restauração do crescimento, redução da taxa de desemprego e restauração da competitividade a tempo de não cair do precipício? Eu não sei.”
Stephane Garelli, da escola de administração e negócios IMD na Suíça, estuda a competitividade. Ele diz que a maior diferença é entre os países com superávit e déficit comercial –entre aqueles que exportam mais do que importam e aqueles em que ocorre o contrário.
A Alemanha, como os Estados Unidos, pode possuir uma dívida elevada, mas ninguém duvida de sua capacidade de pagar. O mesmo não vale para as economias do sul, argumentou Garelli. “Havia a ilusão de crescimento econômico, mas foi construído na areia. Não é possível construir uma economia com base em imóveis, finanças e turismo.”
O Fórum Econômico Mundial emitiu classificações de competitividade em 20 anos, com base em medições cada vez mais sofisticadas, incluindo governança, lei, ética, infraestrutura, tecnologia, dívida e educação, disse sua principal economista, Jennifer Blanke. Entre 139 países, a Alemanha ficou em 5º lugar, logo atrás dos Estados Unidos. A Holanda ficou em 8º, a França em 15º, a Áustria em 18º, a Bélgica em 19º. A história é diferente para as economistas sulistas da zona do euro. A Irlanda se encontra em 29º lugar, a Espanha em 29º, a Espanha em 42º, Portugal em 46º, a Itália em 48º e a Grécia em 83º.
É possível ver o problema claramente em Badalona, um subúrbio industrial de Barcelona. A Plásticos Juárez S.A. é uma empresa de propriedade familiar, em sua terceira geração, obtendo lucros descentes com compressão sofisticada de plásticos, frequentemente laqueados ou metalizados, projetados para embalagens caras de cosméticos e perfumes. A empresa conta com três fábricas em Badalona, cercadas por tantas importadoras de produtos baratos chineses que os moradores locais chamam a área de Chinatown.
A crise econômica da Europa atingiu duramente a empresa: as vendas para seus clientes, em sua maioria espanhóis e franceses, caiu 30%, disse seu atual diretor, Javier Juárez Bernal. As vendas em grande parte se recuperaram neste ano, mas a empresa teve que encolher. Ela reduziu seu quadro de funcionários permanente e agora faz uso de trabalhadores com contratos de três meses, que só podem ser renovados uma vez.
Juárez gostaria de contratar mais trabalhadores por prazos mais longos, mas diz que as leis trabalhistas do governo impossibilitam. Aumentar a força de trabalho permanente, com restrições rígidas às demissões, é arriscado demais.
Na fábrica, Dolores Fortunato Diaz, 24 anos, está feliz apenas por ter um emprego. “Eu me sinto afortunada por estar trabalhando”, ela disse. “A maioria dos meus amigos não está.”
A Espanha possui a mais alta taxa de desemprego na Europa, quase 20%, com o desemprego entre os jovens sendo o dobro disso.
Outro problema para o sul é que grandes empresas europeias estão migrando para as partes mais competitivas da zona do euro. A Continental, a fabricante alemã de sistemas eletrônicos de freios e pneus, não está mais investindo no sul, porque os salários subiram demais. Ela agora está construindo em países de custos mais baixos como a Hungria e a Eslováquia, onde a produtividade é maior em comparação aos salários e impostos.
Ralf Cramer, um membro do conselho executivo da empresa, disse que Portugal já teve custos de produção entre ¼ a 1/5 do custo de produção alemão. “Mas eles alcançaram nosso nível”, disse Cramer. “De modo que não vemos mais Espanha e Portugal como um mercado de trabalho de custo mais baixo.”
Mudar a estrutura de uma economia para torná-la mais competitiva é um problema bem mais difícil do que criar um fundo permanente de resgate, ou mesmo impor austeridade a países com grandes déficits. O sul precisa de uma ampla transformação econômica, e no momento ele não conta com crescimento –ou apoio do norte– para ajudá-lo a conseguir isso.
“A Europa está dividida”, disse Roubini, o economista. Basicamente, ele disse, “uma boa parte da zona do euro ainda está em recessão, e nem mesmo se trata de um duplo mergulho; eles nunca saíram do primeiro”.
Comentário 1: A fragmentação da UE seria desatrosa para o mundo. A começar pela volta da ameação constante de conflitos entre os países do continente. Mas como o texto aponta, é difícil ver uma solução. As pontências que podiam pagar o custo da ação coletiva não podem (EUA e França), não querem (Inglaterra) ou estão se cansando de de atuar (Alemanha).
Comentário 2: Boa lição para o Mercosul ou para a Unasul. Não dá para botar Paraguai, Uruguai e, agora, a Argentina no mesmo regime cambial brasileiro.
09 dezembro 2010
Percepção global da corrupção!
06 dezembro 2010
Governo recupera R$ 400 milhões desviados em 2010!
Do site última instância!
O Governo Federal recuperou na Justiça ao longo de 2010 cerca de R$ 400 milhões que haviam sido desviados dos cofres públicos em esquemas de corrupção. A informação faz parte de um balanço divulgado pela AGU (Advocacia Geral da União) na última sexta-feira. O resgate de recursos representa um aumento de 35% em relação ao ano anterior. Hoje tramitam na Justiça aproximadamente 2.300 processos em que a União busca ressarcimento por ações criminosas.
Em 2010, o Brasil conseguiu a repatriação de U$ 30 milhões desviados no chamado Propinoduto – escândalo descoberto em 2002 no Rio de Janeiro – que estavam na Suiça, além de resgatar obras de arte avaliadas em US$ 4 milhões, que pertenciam ao ex-dono do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira.
A AGU ainda conseguiu a penhora judicial de valores relativos à locação de diversos imóveis do Grupo OK, do ex-senador Luiz Estevão, condenado pelo desvio de R$ 170 milhões na construção do fórum trabalhista de São Paulo. A Justiça determinou, por exemplo, a penhora de 33% do faturamento mensal do Shopping Iguatemi/DF como garantia da execução de dívida.
Ufa... uma notícia boa!
O PT também quer se refundar! (pelo menos o de SP)
Do Valor Econômico
Os 20 milhões de votos recebidos pela candidata do PV a presidente, Marina Silva, causaram uma mudança no discurso que o PT pretende adotar em São Paulo. Em busca de mais votos em 2012 e em 2014, o diretório paulista coloca como prioridade o tema do desenvolvimento sustentável, de acordo com documento debatido pelos dirigentes em reunião no sábado.
Por meio da exploração da questão ambiental, o partido pretende se aproximar da classe média mais resistente ao PT e dos jovens. “Ambiente e juventude têm que ser bandeiras prioritárias para o nosso partido, têm que fazer parte da nossa formulação programática”, diz um trecho do texto obtido pelo Valor.
Parte da direção do PT argumenta que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi “o que mais combateu o desmatamento e o que mais se preocupou com as questões ambientais”, embora o tema tenha sido identificado com a candidata do PV.
Para os petistas, a presidente eleita Dilma Rousseff terá “legitimidade” para defender o assunto. “Cabe ao PT construir uma agenda que insira como prioridade um modelo de desenvolvimento que busque a sustentabilidade. É prioridade quebrarmos o bloqueio que os setores médios têm em relação ao nosso projeto”, afirmam.
Outra análise da direção do PT paulista diz respeito aos efeitos negativos do suposto envolvimento da ex-ministra da Civil Erenice Guerra em tráfico de influência. Já frustrada com o escândalo do mensalão, parte dos eleitores de classe média desistiu de Dilma por conta das denúncias e votou em Marina, nulo ou em branco.
“Os setores médios dialogam conosco, mas tendo as crises políticas de 2005 e 2006 debaixo dos braços. Quando surgiu o caso Erenice, todas as crises enfrentadas pelo nosso partido foram ressuscitadas e a oposição criou o grande fato da conjuntura política eleitoral, gerando o segundo turno da eleição nacional”, afirma o documento.
A agenda proposta para as próximas eleições inclui demandas da classe média, como segurança pública, criação de emprego de qualidade para quem completou o ensino superior, trânsito e transporte público.
Tanto Dilma quanto o candidato do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, perderam dos concorrentes tucanos no Estado. Antes do primeiro turno, Dilma chegou a ter vantagem de cerca de 10 pontos percentuais sobre o candidato do PSDB, José Serra. A presidente eleita chegou ao fim do primeiro turno no Estado com 3,3 pontos percentuais abaixo do tucano, o equivalente a 783 mil votos a menos. No segundo turno, a distância de Serra ampliou-se: o tucano recebeu parte dos votos dados a Marina Silva e ficou com 1,85 milhão de votos a mais que a petista.
O desempenho de Mercadante foi ainda pior. Perdeu já no primeiro turno para Geraldo Alckmin (PSDB), cuja votação superou o petista em 15,4 pontos percentuais, uma diferença de 3,5 milhões de votos.
A resistência da classe média é observada em todo o país, avaliam os petistas, sobretudo nas capitais e nas cidades maiores. Trata-se de uma classe média já consolidada sem ligação com a nova classe média que explodiu no governo Lula.
“Em São Paulo, uma parte desses setores médios já se referenciou no ademarismo, no malufismo, depois no quercismo. Como o declínio desses projetos políticos, durante o governo Covas e com a ascensão do governo FHC, o PSDB fez um giro para a centro-direita e conquistou uma parte significativa desses setores médios do Estado”, diz o documento.
Ao ceder território para os tucanos, o PT perdeu a simpatia de parte dessa classe média já consolidada, o que resultou na atual inversão de bases do partido. Quando fundado, o PT tinha “mais facilidade de diálogo com setores médios mais politizados e mais dificuldades com setores populares”. O texto do partido, contudo, classifica como um “desafio” a manutenção do diálogo com a base popular e criação, ao mesmo tempo, de espaço para uma agenda da classe média. A legenda defende até a participação dos movimentos populares e sindical na formulação de ações voltadas aos setores médios do eleitorado.
A estratégia do partido, segundo o documento, é preparar-se às eleições municipais de 2012 com esforços na expansão da base de apoio em cidades com mais de 100 mil habitantes. Nesse plano, os petistas consideram fundamental a aliança com o PMDB no Estado, presidido pelo ex-governador Orestes Quércia, opositor ao governo federal. Com apoio do PT, o vice-presidente eleito, Michel Temer, lidera movimento governista dentro do partido e tem negociado a entrada do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM).
O PT faz um balanço crítico sobre a demora para a definição do nome que iria disputar o governo paulista em 2010. Mercadante preferia concorrer por mais um mandato no Senado e só foi lançado em meados deste ano, depois de sofrer pressão da direção do partido e do presidente Lula. Agora, a intenção do PT é lançar as pré-candidaturas das eleições de 2012 no fim do ano que vem. O texto vai circular entre os filiados. Em fevereiro, os dirigentes devem aprovar um documento final que irá traçar a estratégia para as próximas eleições.
02 dezembro 2010
01 dezembro 2010
Campanhas para o legislativo custaram R$ 2,2 bilhões (do blog do Fernando Rodrigues)
Em 2010, 16,5 mil candidatos disputaram 1,6 mil vagas para senadores ou deputados
Estados com menos eleitores têm o voto mais caro
Candidatos que disputaram as eleições legislativas de 2010 declararam à Justiça Eleitoral gastos de campanha que somam R$ 2,186 bilhões. A informação foi divulgada hoje (29.nov.2010) pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O valor é a soma das despesas declaradas dos 16,535 mil candidatos que disputaram 1,626 mil vagas de senador, deputado federal, estadual e distrital.
Abaixo, quadro com valores separados por cargo disputado:
Campanhas mais caras
Para o Senado, Minas teve a campanha mais cara: os 12 candidatos que disputaram suas 2 vagas gastaram R$ 34,8 milhões. No entanto, quando considerado o valor gasto por eleitor, quem está na frente é Roraima – o menor colégio eleitoral do país, como destacado no post abaixo. Ali, cada candidato a senador investiu, em média, R$ 13,57 por eleitor.
A tabela abaixo mostra dados da eleição para senador por Unidade da Federação. Apresenta o n° de candidatos, o n° de eleitores, o total gasto pelos candidatos e o gasto médio (por candidato e por eleitor):
Para deputado federal, verifica-se a mesma lógica. Estados com mais candidatos e mais eleitores somam maior gasto de campanha: São Paulo (1.007 candidatos, 30,3 milhões de eleitores, gasto total de R$ 209,7 milhões) e Minas (489 candidatos, 14,5 milhões de eleitores e gasto de R$ R$ 121,7 milhões). Mas, novamente, o voto de cada eleitor é mais caro em Roraima, o Estado com o menor n° de eleitores (271,8 mil) e um dos que teve menos candidatos (57).
Além disso, Roraima está entre os Estados com menos vagas na Câmara dos Deputados (8, o mínimo). O quadro abaixo mostra os dados, por Unidade da Federação, sobre a eleição para deputados federais (incluindo o n° de vagas por Estado, conforme publicado na resolução 23.220 do TSE):
Por fim, dados sobre gastos das campanha legislativas estaduais confirmam a tendência apontada no Senado e na Câmara. Candidatos de São Paulo e Minas também foram os que mais gastaram (R$ 170 milhões e R$ 106 milhões, respectivamente). Os do Amapá aparecem em último lugar no ranking das despesas (R$ 4,6 milhões), mas investiram R$ 11 por eleitor (mais que os R$ 5,6 de São Paulo e os R$ 7,33 de Minas). Mais uma vez, Roraima tem o voto mais caro: R$ 32,27 por eleitor.
Segundo a assessoria de imprensa do TSE, o levantamento divulgado hoje tem formato inédito e seu departamento de estatísticas está “analisando a viabilidade de montar uma tabela com os dados de 2006”. Com essas informações será possível fazer comparações com a eleição anterior.
Comentário: acho que a solução seria estabelecer um limite máximo fixo e dentro de uma valor razoável (combinando com fiscalização duríssima).