02 fevereiro 2011

Análise sobre o imponderável! O turning point do Egito!


Ótimo texto de Mike Littwin, do New York Times Service. Como é impossível prospectar o futuro do Egito. A realidade impõe-se sobre os analistas.

O Egito seguirá o caminho de Berlin ou o de Teerã?

As coisas mais óbvias a dizer a respeito dos protestos de rua egípcios também são as mais empolgantes e assustadoras que podem ser ditas: Ninguém está no comando. Ninguém sabe o que acontecerá a seguir.

Você pode ler, escutar e assistir, mas não é possível saber muito mais do que isso.
 
Omar Suleiman, o vice-presidente egípcio recém-nomeado, anuncia que o governo de Hosni Mubarak está pronto para discutir reformas políticas. E a pergunta não é tanto que reformas estariam na mesa – se é que há alguma– mas quem estaria sentado à mesa.
 
Não se esqueça, ninguém está no comando. Não há um Nelson Mandela, infelizmente. Não há um aiatolá Khomeini, felizmente.
 


Não há uma ideologia aparente. Há um excesso de frustração, acumulada ao longo de 30 anos de governo Mubarak.
 
Mohamed ElBaradei, o ganhador do Nobel, recebeu apoio oficial de alguns grupos, incluindo a Irmandade Muçulmana, para negociar com o governo Mubarak. Mas segundo uma reportagem do “Washington Post”, ElBaradei recebeu uma recepção morna quando se dirigiu aos manifestantes no dia seguinte.
 


Em caso de queda do governo Mubarak, ninguém pode dizer com certeza o que aconteceria a seguir. Ninguém tem ideia da força relativa da Irmandade Muçulmana, que é um partido de oposição não oficial, pró-Islã e fora-da-lei. Ninguém tem ideia se os jovens nas ruas têm condições de fazer algo fora exigir mudanças.
 
Eles não fazem muitas pesquisas no Egito. O que fazem é prender qualquer um que saia demais da linha.
 


Para aqueles que exigem que o presidente Barack Obama faça algo mais, poucos têm uma ideia real do que poderia ser. Para Obama, é ainda mais complicado devido ao fato do longo relacionamento dos Estados Unidos com o Egito, do relacionamento do Egito com Israel e pelo fato dos Estados Unidos mandarem ao Egito US$ 1,5 bilhão em ajuda todo ano.
 
Se o país encorajar publicamente os protestos, o que fazer caso Mubarak tenha sucesso em reprimi-los? O que aconteceria no caso de uma versão egípcia da Praça Tiananmen (Praça da Paz Celestial)?
 


Mas não há como não apoiar os manifestantes. Não dá para fazer campanha prometendo esperança e mudança e não oferecer nenhuma.
 
O melhor palpite é que Obama esteja privativamente pressionando Mubarak a renunciar. Ele tem 82 anos. Em algum momento o Egito chegaria a uma encruzilhada semelhante, com seu futuro igualmente incerto. Uma coisa é os Estados Unidos estarem no lado errado da história. Mas a verdade é que podemos não ter muito a dizer a respeito de onde a história nos levará.


 
É fácil ser idealista a milhares de quilômetros de distância. Mas quão real sua realpolitik precisa ser para não ficar ao lado das pessoas nas ruas? E se há um símbolo digno de nota, é que o gás lacrimogêneo que está sendo atirado contra os manifestantes possui rótulos “Made in the USA”.
 
O que eles tiveram no Egito sob Mubarak foram 30 anos de “estabilidade”, o que, como apontou a colunista do “Washington Post”, Anne Applebaum, é mais ou menos equivalente neste caso a “repressão”.
 


Estabilidade tem pontos positivos, é claro, particularmente no Oriente Médio. Mas estabilidade, quando significa repressão, ainda é repressão. E, de qualquer modo, quando a estabilidade começa a ruir, o que resta?
 
O que temos agora é o Exército egípcio anunciando –na televisão estatal– que não atirará contra os manifestantes porque a “liberdade de expressão por meios pacíficos é garantida a todos”.
 


No Egito, é claro, liberdade de expressão não é garantida a todos. Mas o Exército é aparentemente a única entidade do governo em que todos confiam. E os especialistas se perguntam se este é um sinal de que Mubarak está liquidado.
 
Eu já vi a liberdade de expressão em ação no Egito. Certa vez eu fui ao julgamento de 87 membros da Irmandade Muçulmana. O tribunal ficava em um campo militar no deserto ao norte do Cairo. E os réus estavam em uma jaula. Sim, uma jaula.
 
Eles eram acusados de “jihad”, mas, a partir dos testemunhos, parecia que estavam sendo julgados por oposição ao governo. Um foi preso por posse dos livros errados. A verdade inegável no tribunal era a jaula em si e os homens que escalavam, como animais, a cerca de arame para poder tocar a mão de uma esposa ou filho.
 


Isso não desconta o fato da Irmandade Muçulmana querer estabelecer um Estado islâmico. Também não diz se as manifestações iniciadas em Túnis sugerem um momento Muro de Berlim, ou uma reprise da revolução iraniana.
 
Ninguém sabe. O que sabemos é onde estivemos. E é hora de esperar por algo melhor.

Um comentário:

Anônimo disse...

começou no irã, agora é a tunisia, egito, iemem, jordania. as redes sociais são os pulpitos modernos, mas não haverá revolucionários, nessas redes circula de tudo, inclusive, a verdade.