Os escândalos de corrupção que atingiram o coração do governo do DF abriram a maior crise política da nossa história. Todos os poderes estão envolvidos em uma teia de pagamentos que envolve empresários, deputados distritais e secretários, além do próprio governador e do seu vice.
A primeira reação do governo foi um “silêncio ensurdecedor”. O governador e sua assessoria claramente não estavam preparados para enfrentar essas denúncias, apesar de boatos sobre esses vídeos estarem correndo a cidade há algum tempo.
A segunda reação foi de vincular o dinheiro recebido a gastos de campanha de 2006, utilizado para comprar panetones. A estratégia é totalmente equivocada. Indiretamente, o governador confessou crime eleitoral e abriu o flanco para ser cassado no âmbito do TSE.
O terceiro ato envolveu a escolha do secretário de Ordem Pública do DF, Roberto Giffone, para trabalhar como interlocutor do governo. Outro erro. Giffone é um dos denunciados e não possui credibilidade para trabalhar como porta voz, especialmente em momentos de crise.
O que pesa a favor da permanência do governador é a falta de condições institucionais para a realização do julgamento de Arruda. A Câmara Legislativa está profundamente envolvida nas denúncias, a começar pelo seu presidente, Leonardo Prudente. É difícil saber quantos deputados estão comprometidos pelos escândalos.
Além disso, a apuração interna contra os deputados Leonardo Prudente, Rogério Ulysses, Júnior Brunelli e Eurides Brito já é suficiente para consumir todo o tempo da casa...
Entra em cena a necessidade de mobilização das instituições da sociedade civil (universidade incluída). A Ordem dos Advogados do Brasil possui uma excelente oportunidade de resgatar seu papel histórico. As entidades estudantis podem ser o fiel da balança no processo mobilização política da sociedade brasiliense.
Quem ganha e quem perde com todo esse processo? Não há como saber. Entretanto, é possível afirmar que o escândalo possui ampla capacidade de desorganizar e dividir os grupos políticos do DF. Não há mais base governista ou oposicionista. Em um naufrágio dessas proporções, a classe política torna-se um enorme “salve-se quem puder”.
Muitos políticos de peso podem ser expulsos de seus partidos e ficarem impedidos de se candidatarem em 2010. Também é difícil imaginar que Arruda deixe o governo sem causar danos à candidatura de Roriz (certamente, ele deve estar reunindo condições para isso...). O próprio Roriz possui um processo de cassação de direitos políticos inconcluso no TSE...
É possível que a pré-candidatura de Agnelo Queiroz ganhe força. Os políticos feridos de morte nesse escândalo também deverão ser substituídos por outros nomes não muito badalados, como o do deputado Reguffe. O cenário de terra arrasada criado pelas denúncias também pode abrir caminho para um “outsider”, ou seja, para alguém que ainda não esteja ligado à política e possa aproveitar a insatisfação existente e desbancar outros candidatos tradicionais.
Ao final, todos nós perdemos. Os vídeos e gravações continuarão repercutindo geração após geração, destruindo a confiança das pessoas nas instituições e impedindo que bons cidadãos resolvem se dedicar à política. Esse será o maior legado de Arruda para a população de Brasília...