17 novembro 2009

Ainda sobre 1989!


A eleição de 1989 era uma incógnita. Até para a imprensa especializada, que acompanhava o dia-a-dia da política nacional. Veja parte desse depoimento de Rudolfo Lago, retirado do site Congresso em Foco. A cobertura era definida e redefinida na medida em a conjuntura se transformava.

"Minha presença em Democracia naquele segundo turno era um produto do caminho surpreendente que aquela eleição tomou. Quando a cobertura da campanha foi idealizada no início de 1989 ninguém apostaria que os dois nomes no segundo turno seriam Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva. Três redações do Estadão se envolveriam diretamente na cobertura: São Paulo, Brasília e Rio. A escolha dos repórteres de cada sucursal se daria de acordo com o local que cada candidato usaria de base para a sua campanha. Os principais candidatos teriam dois repórteres colados neles aonde quer que fossem. No começo da campanha, Collor não era sequer um dos candidatos que teria esse acompanhamento direto. Ele, junto com os menores, ganharia cobertura eventual. Brasíla cobriria Ulysses Guimarães e Aureliano Chaves. São Paulo cobriria Lula, Mário Covas e Paulo Maluf. O Rio cobriria Leonel Brizola.

Eu, inicialmente, fiquei com a responsabilidade de cobrir Aureliano. Alguns meses depois, se percebeu que a campanha do vice-presidente de João Figueiredo pelo PFL não iria a lugar nenhum. Ganhei a inimizade de Aureliano, que não aceitava a profusão de matérias que o Estadão fazia mostrando as mazelas da sua fraca campanha. Quando relatei que o apelido de Aureliano em algumas parcelas do PFL era “Dumbo” (pesadão, achava que podia voar), um assessor dele ameaçou me bater. Somente quando Marcondes Gadelha, Edison Lobão e Hugo Napoleão o abandonaram no caminho para tentar a aventura de fazer de Sílvio Santos candidato a presidente é que Aureliano percebeu que eu não era assim tão injusto com ele.

Após o episódio Sílvio Santos, o quadro eleitoral já exigia um novo desenho de cobertura. Aureliano era um dos “nanicos” que merecia apenas cobertura eventual. E Collor precisava de acompanhamento diário. As peças mudaram de lugar, e eu saí de Aureliano para acompanhar um outro fracasso: a candidatura de Ulysses Guimarães. Na verdade, ali vislumbrava-se o embrião do que viria a se tornar o PMDB: uma reunião de caciques regionais, com interesses apenas estaduais, sem uma unidade capaz de conduzir a bom termo uma campanha presidencial.

A campanha de Ulysses era uma sucessão de rusgas e brigas. Ulysses e seu vice, Waldir Pires, discordavam em quase tudo. As desavenças entre eles refletiam-se em cada setor, na sala de cada assessor. A turma de Ulysses trabalhava para Ulysses, a turma de Waldir trabalhava para Waldir. E, nos estados, os caciques, como Orestes Quércia, em São Paulo, trabalhavam para eles mesmos."

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