27 agosto 2010

A "cristianização" de Serra!

As semelhanças entre Cristiano Machado (foto) e Serra vão além da calvice...

As últimas pesquisas desanimaram de vez os apoiadores de Serra. Muitos escondem o nome do presidenciável tucano em seu material de campanha, abandonando o barco muito antes da votação.

O cenário de abandono de Serra pelos próprios aliados fez com que alguns analistas afirmassem que o tucano está sendo “cristianizado”.

Longe de ter uma conotação religiosa, a utilização do termo faz referência a um episódio da história política brasileira.

Na eleição presidencial de 1950, o político mineiro Cristiano Machado (1893-1953) lançou sua candidatura à presidente da República pelo PSD – Partido Social Democrático – maior legenda da época.

Entretanto, a proximidade da vitória de Getúlio Vargas ( que concorria pelo velho PTB) fez com que o PSD em peso abandonasse Machado em apoio a Vargas. Portanto, quando se diz em política que alguém está sendo cristianizado, isso significa que esse candidato está sendo deixado pelos próprios companheiros.

25 agosto 2010

Frase do ano!



'Tenho a coragem de fazer o que nem o PSDB é capaz: dar crédito a FHC', diz Marina Silva!



Para quem estiver em Brasília!

Vox Populi X Datafolha!

Falando em debate, Marcos Coimbra, do instituto Vox Populi foi à forra e criticou fortemente o Datafolha em artigo publicado hoje em vários jornais impressos.

O motivo é o seguinte: enquanto o Vox Populi já mostra há muito tempo o distanciamento constante entre Dilma e Serra, o Datafolha insistia em uma sistuação de empate técnico. Essa situação durou até a publicação da sua última pesquisa Datafolha que, de supetão, colocou a petista muito à frente do tucano.

Essa discrepância estava criando especulações quanto à "petetização" do Vox Populi ou a "tucanização" do Datafolha.

Coimbra não deixou barato e criticou muito a recente guinada registrada pelo Datafolha. Segundo ele, o instituto paulista demorou muito para mostrar o cenário de crescimento de Dilma e agora busca se justificar... leiam o texto de Coimbra abaixo. Destaquei os trechos mais incisivos.

Marcos Coimbra: a "disparada" de Dilma e o vexame do Datafolha

Pesquisas nas quais não se pode confiar são um problema. Elas atrapalham o raciocínio. É melhor não ter pesquisa nenhuma que tê-las. Ao contrário de elucidar e ajudar a tomada de decisões, confundem. Quem se baseia nelas, embora ache que faz a coisa certa, costuma meter os pés pelas mãos.

Por Marcos Coimbra*, no Correio Braziliense

Isso acontece em todas as áreas em que são usadas. Nos estudos de mercado, dá para imaginar o prejuízo que causam? Se uma empresa se baseia em uma pesquisa discutível na hora de fazer um investimento, o custo em que incorre?

Na aplicação das pesquisas na política, temos o mesmo. Ainda mais nas eleições, onde o tempo corre depressa. Não dá para reparar os erros a que elas conduzem.

Pense-se o que seria a formulação de uma estratégia de campanha baseada em pesquisas de qualidade duvidosa. Por mais competente que fosse o candidato, por melhores que fossem suas propostas, uma candidatura mal posicionada não iria a lugar nenhum.

Com a comunicação é igual. Boas pesquisas são um insumo para a definição de linhas de comunicação que aumentam a percepção dos pontos fortes de uma candidatura e que explicam suas deficiências. As incertas podem fazer que um bom candidato se torne um perdedor.

E na imprensa? Nela, talvez mais que em qualquer outra área, essas pesquisas são danosas. Ao endossá-las, os veículos ficam em posição delicada.

A primeira página

Neste fim de semana, a Folha de S.Paulo divulgou a pesquisa mais recente do Datafolha. Os problemas começaram na manchete, que se utilizava de uma expressão que os bons jornais aposentaram faz tempo: “Dilma dispara...”. “Dispara..”, “afunda...” são exemplos do que não se deve dizer na publicação de pesquisas. São expressões antigas, sensacionalistas.

Compreende-se, no entanto, a dificuldade do responsável pela primeira página. O que dizer de um resultado como aquele, senão que mostraria uma “disparada”?

Como explicar que Dilma tivesse crescido 18 pontos em 27 dias, saindo de uma desvantagem para Serra de um ponto, em 23 de julho, para 17 pontos de frente, em 20 de agosto? Que ganhasse 24 milhões de eleitores no período, à taxa de quase um milhão ao dia? Que crescesse 9 pontos em uma semana, entre 12 e 20 de agosto, apenas nela conquistando 12,5 milhões de novos eleitores?

O jornal explicou a “disparada” com uma hipótese fantasiosa: Dilma cresceu esses 9 pontos pelo “efeito televisão”. Três dias de propaganda eleitoral (nos quais a campanha Dilma teve dois programas e cinco inserções de 30 segundos em horário nobre), nunca teriam esse impacto, por tudo que conhecemos da história política brasileira.

Aliás, a própria pesquisa mostrou que Dilma tem mais potencial de crescimento entre quem não vê a propaganda eleitoral. Ou seja: a explicação fornecida pelo jornal não explica a “disparada” e ele não sabe a que atribuí-la. Usou a palavra preparando uma saída honrosa para o instituto, absolvendo-o com ela: foi tudo uma “disparada”.

É impossível explicar a “disparada” pela simples razão de que ela não aconteceu. Dilma só deu saltos espetaculares para quem não tinha conseguido perceber que sua candidatura já havia crescido. Ela já estava bem na frente antes de começar a televisão.

Mas as pesquisas problemáticas não são danosas apenas por que ensejam explicações inverossímeis. O pior é que elas podem ajudar a cristalizar preconceitos e estereótipos sobre o país que somos e o eleitorado que temos.

Ao afirmar que houve uma “disparada”, a pesquisa sugere uma volubilidade dos eleitores que só existe para quem acha que 12,5 milhões de pessoas decidiram votar em Dilma de supetão, ao vê-la alguns minutos na televisão. Que não acredita que elas chegaram a essa opção depois de um raciocínio adulto, do qual se pode discordar, mas que se deve respeitar. Que supõe que elas não sabiam o que fazer até aqueles dias e foram tocadas por uma varinha de condão.

Pesquisas controversas são inconvenientes até por isso: ao procurar legitimá-las, a emenda fica pior que o soneto. Mais fácil é admitir que fossem apenas ruins.

* Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

Resposta de Azevedo à Safatle!

Resposta a Safatle (por Reinaldo Azevedo, da Veja).

Felipe Varella, leitor do blog, alertou que Reinaldo Azevedo, blogueiro da Veja, havia elaborado uma resposta para o texto de Safatle. Acho interessante o debate!

Mas antes, preciso fazer uma ressalva de cunho pessoal. Acho Azevedo extremamente mal educado e incapaz de conduzir um debate restrito ao campo das idéias. A estratégia dele é sempre a mesma: desqualificar seu oponente antes de entrar propriamente no debate. Talvez seja só marketing dele... mas eu não gosto!

Obrigado Felipe!!!

Vocês conhecem Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP, embora ele não tenha importância nenhuma. Na verdade, eu contribuí um tantinho para que ele se tornasse quase célebre. Seu feito mais notável foi ter levado para o jornalismo uma espécie de justificação teórica do terrorismo. Aconteceu no dia 13 de janeiro de 2009. Numa resenha publicada no Estadão, este fazia indagações sobre a relação entre as instituições e o terrorismo. Escreveu então:
“como construir estruturas institucionais universalizantes capazes de dar conta de exigências de reconhecimento de sujeitos não-substanciais que tendem a se manifestar como pura potência disruptiva e negativa?”

Para Safatle, os terroristas, cuja existência de reconhecimento estaria dada, seriam apenas “sujeitos não-substanciais que tendem a se manifestar como pura potência disruptiva e negativa?”. Nem parece que isso mata inocentes, não é mesmo? Escrevi à época que os gases instestinais também podem ser definidos como “sujeitos não-substanciais que tendem a se manifestar como pura potência disruptiva e negativa” — especialmente quando o atentado ocorre no elevador, no cinema ou no metrô lotado.

O Estadão, de gloriosas tradições, foi o primeiro jornal brasileiro a publicar um artigo que justificava o terror como uma nova essencialidade do homem. Antes de Safatle, outro esquerdista, Octavio Ianni, já havia chamado de “revolucionária” a ação da Al Qaeda no 11 de Setembro. Mas estava claro que era só proseltimoantiamericanista da pior espécie. Safatle pretende produzir biscoito mais fino. No artigo em questão, ele alçou o terror à condição de categoria filosófica. Os pósteros hão de lhe reconhecer essa notável contribuição ao humanismo.

Safatle agora é articulista da Folha. É uma das pessoas que se revezam no jornal numa coluna diária sobre a eleição de 2010. Nesta segunda, ele escreve um artigo intitulado “O colapso do PSDB”. Ok. Quem descobriu a “potência disruptiva” do terrorismo pode decretar o “colapso” do PSDB com igual percuciência e verdade. Comentarei seus argumentos porque eles são uma síntese de boa parte das bobagens que a imprensa brasileira escreve, porém com aquela aparência de que há ali algum pensamento. Ele segue em vermelho. Eu vou de azul.

Há algo de melancólico na trajetória do PSDB. Talvez aqueles que, como eu, votaram no partido em seu início, lembrem do momento em que a então deputada conservadora Sandra Cavalcanti teve seu pedido de filiação negado. Motivo: divergência ideológica.
De fato, o PSDB nasceu, entre outras coisas, de uma tentativa de clarificação ideológica de uma parcela de históricos do MDB mais afeitos às temáticas da socialdemocracia européia.
Notem a preocupação de Safatle de demonstrar a sua isenção e a sua condição de analista não-comprometido. Ele até “votou” no partido em seu “início”. Então não venham dizer que ele é movido por qualquer forma de preconceito. O homem do “terrorismo como potência disruptiva” é apenas um analista frio, sem paixões. E, como se nota, se ATÉ ELE votava no PSDB, então o partido era mesmo bom… Santo Deus! Sim, vocês sabem que fui trotskista e assinei a ficha de filiação ao PT, no primeiro ano de existência do partido. Mas jamais usei isso para evidenciar alguma qualidade da legenda. Eu é que estava estupidamente equivocado.

Nota à margem: adoro a lambança que os nossos “inteliquituais” gostam de fazer com substantivos, tornando-os meras abstrações incapturáveis pelo mundo real. Aquele “temáticas”, assim, no plural, mereceria um pequeno tratado de linguagem, especialmente num moço que declara seu amor pela “lacanagem” — referência a Lacan, claro! A “temática” já é um conjunto de temas. As “temáticas” seriam conjuntos de conjuntos de temas, o que nos leva a supor que possa haver o conjunto de conjuntos de conjuntos de temas, numa seqüência cujo fim chegaria ao princípio: Deus!

Basta lembrarmos dos votos e discussões de um de seus líderes, Mario Covas, na constituinte. Boa parte deles iam na direção do fortalecimento dos sindicatos e da capacidade gerencial do Estado. Uma perspectiva contra a qual seu próprio partido voltou-se anos depois.
Aqui começa, vênia máxima, viu, Safatle?, a impressionante delinqüência intelectual deste rapaz. Começo apontando o truque vagabundíssimo da argumentação: exaltar os mortos para poder espicaçar os vivos. O procedimento é comum no Brasil, muito usado contra a direita: “Ah, bom era José Guilherme Merquior, não estes que andam por aí.” O Safatle faz o mesmo com o PSDB: “Ah, bom era o Covas…” Assim como o articulista usa o seu suposto passado de eleitor tucano para evidenciar a lisura de sua crítica, exalta Covas para provar que nada tem contra o partido na sua essência; ataca o que seriam os seus desvios.

Segundo Safatle, o PSDB voltou-se contra, então, o “fortalecimento dos sindicatos” e a “capacidade gerencial do Estado”. Está mentindo. No primeiro caso, digam um único caso de ação tucana contra os sindicatos nos oito anos de governo FHC. Ao contrário: infelizmente, foi na gestão tucana (e Safatle jamais criticaria tal aspecto, claro!) que os fundos de pensão, que hoje detêm o real controle do movimento sindical, se fortaleceram brutalmente. Nessa perspectiva, e um mínimo de honestidade intelectual o obrigaria a reconhecer, as privatizações contribuíram para fortalecer o sindicalismo. Eu desafio este senhor a demonstrar que estou errado.

Quanto à capacidade gerencial do Estado, quem, de fato, a fortaleceu? O governo que criou agências reguladores independentes ou aquele que as subordinou a um partido, usando esses entes para a distribuição de cargos entre os partidos da base aliada? Quem fortaleceu a capacidade gerencial do Estado? Quem sempre procurou, ao longo dos anos, submeter as suas contas a um órgão como o TCU ou quem retirou da alçada do tribunal boa parte das obras das estatais e do próprio governo federal, pretextando a “urgência”? Pois foi o que fez Lula. Quem elevou o padrão de gerenciamento do Estado? Quem exigia que o “S” do BNDES estivesse presente num projeto para garantir financiamento ou quem transformou o banco numa agência que define ganhadores e perdedores do capitalismo brasileiro?

Existe a verdade. E existe o que diz Safatle — e outros tão engajados ou tão ignorantes como ele o aplaudirão.

A história do PSDB parece ser a história do paulatino distanciamento desse impulso inicial. Ao chegarem ao poder federal, os partidos socialdemocratas que lhe serviram de modelo (como os trabalhistas ingleses e o SPD alemão) haviam começado um processo irreversível de desmonte das conquistas sociais que eles mesmos realizaram décadas atrás. Um desmonte que foi acompanhado pela absorção de suas agendas políticas por temáticas vindas da direita, como a segurança, a imigração, a diminuição da capacidade de intervenção do estado, entre outros.
Este movimento foi reproduzido pelo governo de Fernando Henrique Cardoso.
Coitado deste rapaz! Zero em redação! A argumentação nada tem a ver com a tese original e introduz um tema novo — e errado. Parece a Dilma pensando… Observem que o suposto fenômeno ocorrido com o PSDB não é, então, coisa nativa, mas um mal que teria acometido a social-democracia no mundo inteiro. Sabe-se lá por quê — seria a natural tendência do homem para o mal e para a direita??? —, os partidos identificados com essa corrente de pensamento decidiram mudar um tantinho a sua plataforma. Pois é… A Alemanha “conservadora” assistiu àquela bobagenzinha da reunificação; a Grã-Bretanha do novo trabalhismo, seguindo, sim, a trilha aberta pelos conservadores, manteve-se como economia competitiva depois de ter chegado à lona; o “socialismo” francês de Mitterrand teve de recuar para que a economia saísse do buraco; o PSOE, da Espanha, mudou, sim, e fez alguns dos atores globais do capitalismo. Safatle tem razão: essa guinada da “social-democracia” foi um desastre em escala planetária!

Assim, víamos uma geração de políticos que citavam, de dia, Marx, Gramsci, Celso Furtado e, à noite, procuravam levar a cabo o “desmonte do estado getulista”, “a quebra da sanha corporativa dos sindicatos”, ou “a defesa do Estado de direito contra os terroristas do MST”.
O mundo de Safatle é mesmo pelo avesso, não é? Eu diria que “desmontar o estado getulista” é que é coisa para se dizer de dia — e Marx e Gramsci é que poderiam ser citados à noite, nos becos sórdidos, de preferência, com uma pistola na mão… Em nenhum outro país relevante do mundo um “intelequitual” usaria citações daqueles dois para qualificar positivamente um político. A universidade brasileira — na média, claro!, há exceções — é a única no mundo em que Marx e Gramsci ainda são empregados como referências aceitáveis.

Isso não é o mais importante de todo modo. O fato é que a síntese que Safatle faz da ação tucana é falsa. Quando foi que FHC ou qualquer um de seus ministros chamou de “terroristas” as ações do MST, embora muitas delas sejam, de fato, terroristas? Nos oito anos do governo anterior, morreram menos pessoas em conflitos de terra do que nos oito anos de governo Lula. Não chamou, mas deveria ter chamado em benefício da verdade e até para se conectar com a esmagadora maioria do eleitorado, que repudia as ações do movimento. Quais? Depredação da infra-estrutura das fazendas e de laboratórios de pesquisa, derrubada de plantações, roubo de incrementos agrícolas, abate de gado. Entendo: Safatle deve achar que tudo não passa de “sujeitos não-substanciais que tendem a se manifestar como pura potência disruptiva”… É o pum do pensamento!

O resultado não foi muito diferente do que ocorreu com os partidos socialdemocratas europeus. Fracassos eleitorais se avolumaram, resultantes, principalmente, de uma esquizofrenia que os faziam ir cada vez mais à direita e, vez por outra, sentir nostalgia de traços ainda não totalmente extirpados de discursos classicamente socialdemocratas. No caso alemão, o SPD acabou prensado entre uma direita clara (CDU, FDP) e uma esquerda renovada (Die Linke).
Quanta bobagem! O paralelo é escandalosamente errado, até porque, na versão de Safate, a social-democracia foi derrotada pela direita. A menos que ele considere que o mesmo aconteceu com os tucanos no Brasil — e a direita seria o PT —, o que ele diz não faz o menor sentido.

No caso brasileiro, esta eleição demonstra tal lógica elevada ao paroxismo. Assistimos agora ao candidato do PSDB ensaiar, cada vez mais, um figurino de Carlos Lacerda bandeirante; com seu discurso pautado pela denúncia do aumento galopante da insegurança, do narcotráfico, do angelismo do governo com o terrorismo internacional das Farcs e, agora, o risco surreal de “chavismo” contra nossa democracia. Um figurino que não deixa de dar lugar, vez por outra, a uma defesa de que é de esquerda, de que recebeu palavras carinhosas de Leonel Brizola, de que vê em Lula alguém “acima do bem e do mal” etc.
Safatle, na sua esquizofrenia argumentativa — e esse moço dá aula; penso nos seus alunos… —, compara a social-democracia brasileira à européia, registrando que aquela teria sido engolida pela direita (o que é besteira) à medida que foi “endireitando” o seu discurso. No Brasil, teria acontecido o mesmo, mas, curiosamente, ela teria sido engolida pela “esquerda” (parece-me que ele considera o PT mais à esquerda do PSDB…). O mau analista não estaria completo sem o apreço pela mentira.

Quem faz o discurso do medo sobre a segurança pública é o PT em São Paulo, mentindo descaradamente sobre a realidade do Estado. Serra propôs um Ministério da Segurança, sem avançar na linguagem do terror. Quem a pratica por aqui é Mercadante. Quanto às Farc, bem, Safatle quer negar o óbvio. Mas entendo: ele acredita que precisamos mudar os nossos valores para ver com outros olhos o terrorismo. Quanto à questão chavista, está fazendo alusão ao discurso que Serra fez na Associação Nacional dos Jornais, quando acusou o governo de mobilizar o estado em favor da censura à imprensa — o que é verdade comprovada. As propostas estão redigidas. Foram parar no primeiro programa de governo de Dilma.

Mas o “inteliquitual” quer que os fatos se danem. Isso seria apenas evidência do “lacerdismo” de Serra. Reitero: esse cara dá aula; ele é, para seus alunos, uma referência de pensamento e, professor de filosofia, apego à verdade. Se o incentivo dado pelo governismo às propostas de controlar a imprensa não são o chavismo à moda da casa, então são exatamente o quê?

Nesse sentido, o caráter errático de sua campanha não é apenas um traço de seu caráter ou um problema de cálculo de marketing.
Trata-se do capítulo final da dissolução ideológica de uma sigla que só teria alguma chance se tivesse ensaiado algo que o PS francês tenta hoje: reorientação programática a partir de um discurso mais voltado à esquerda e (algo que nunca um tucano terá a coragem de fazer) autocrítica em relação a erros do passado.
Trata-se de uma bobagem em dose cavalar. Safatle ia se equilibrando sobre duas mãos, como esses ginastas capazes de fazer os membros anteriores funcionaram como os posteriores, com as pernas no ar — vale dizer, andava de ponta-cabaça. Com essa conclusão, arriou os membros posteriores e plantou os quatro no chão, gloriosamente! O Partido Socialista Francês “mudou” enquanto estava no poder — e o fez por “precisão”, não por boniteza, para lembrar Guimarães.

Quando Safatle decidir estudar em vez de disparar no jornal os seus “sujeitos não-substanciais que tendem a se manifestar como pura potência disruptiva e negativa” — vale dizer: GASES” —, vai procurar saber quem foi Jacques Delors.

Eu explico. François Mitterrand, nos primeiros anos de governo, tentou realmente empurrar a França para a esquerda, mas deu com os burros n’água. Optou, então, pelas saídas oferecidas pelo capitalismo, o que deixou a esquerda furiosa - especialmente aquela lotada na imprensa. Perguntaram a Delors, ministro das Finanças, qual era a diferença entre o que o esquerdista Miterrand fazia e o que faria a direita. Sua resposta não poderia ter sido mais, como direi?, “progressista”. Mandou ver: “A diferença em relação à direita é que nós, da esquerda, fazemos a mesma coisa, mas com dor no coração”.

Ah, sim, não me digam que fui muito duro com Safatle. Quem escreve o que ele já escreveu sobre o terrorismo merecia ainda mais dureza. Mas debatam as idéias do rapaz, ok?, até com certa generosidade. Esse Vladimir talvez estivesse destinado a ser um Lênin, mas acabou professor de filosofia da USP. Aliás, até Lênin desprezava os terroristas…

24 agosto 2010

O futuro dos tucanos...!

O colapso do PSDB (por Vladimir Safatle - extraído do jornal Folha de São Paulo)

HÁ ALGO de melancólico na trajetória do PSDB. Talvez aqueles que, como eu, votaram no partido em seu início, lembrem do momento em que a então deputada conservadora Sandra Cavalcanti teve seu pedido de filiação negado. Motivo: divergência ideológica. De fato, o PSDB nasceu, entre outras coisas, de uma tentativa de clarificação ideológica de uma parcela de históricos do MDB mais afeitos às temáticas da socialdemocracia européia. Basta lembrarmos dos votos e discussões de um de seus líderes, Mario Covas, na constituinte. Boa parte deles iam na direção do fortalecimento dos sindicatos e da capacidade gerencial do Estado. Uma perspectiva contra a qual seu próprio partido voltou-se anos depois. A história do PSDB parece ser a história do paulatino distanciamento desse impulso inicial. Ao chegarem ao poder federal, os partidos socialdemocratas que lhe serviram de modelo (como os trabalhistas ingleses e o SPD alemão) haviam começado um processo irreversível de desmonte das conquistas sociais que eles mesmos realizaram décadas atrás. Um desmonte que foi acompanhado pela absorção de suas agendas políticas por temáticas vindas da direita, como a segurança, a imigração, a diminuição da capacidade de intervenção do estado, entre outros. Este movimento foi reproduzido pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Assim, víamos uma geração de políticos que citavam, de dia, Marx, Gramsci, Celso Furtado e, à noite, procuravam levar a cabo o "desmonte do estado getulista", "a quebra da sanha corporativa dos sindicatos", ou "a defesa do Estado de direito contra os terroristas do MST". O resultado não foi muito diferente do que ocorreu com os partidos socialdemocratas europeus. Fracassos eleitorais se avolumaram, resultantes, principalmente, de uma esquizofrenia que os faziam ir cada vez mais à direita e, vez por outra, sentir nostalgia de traços ainda não totalmente extirpados de discursos classicamente socialdemocratas. No caso alemão, o SPD acabou prensado entre uma direita clara (CDU, FDP) e uma esquerda renovada (Die Linke). No caso brasileiro, esta eleição demonstra tal lógica elevada ao paroxismo. Assistimos agora ao candidato do PSDB ensaiar, cada vez mais, um figurino de Carlos Lacerda bandeirante; com seu discurso pautado pela denúncia do aumento galopante da insegurança, do narcotráfico, do angelismo do governo com o terrorismo internacional das Farcs e, agora, o risco surreal de "chavismo" contra nossa democracia. Um figurino que não deixa de dar lugar, vez por outra, a uma defesa de que é de esquerda, de que recebeu palavras carinhosas de Leonel Brizola, de que vê em Lula alguém "acima do bem e do mal" etc. Nesse sentido, o caráter errático de sua campanha não é apenas um traço de seu caráter ou um problema de cálculo de marketing. Trata-se do capítulo final da dissolução ideológica de uma sigla que só teria alguma chance se tivesse ensaiado algo que o PS francês tenta hoje: reorientação programática a partir de um discurso mais voltado à esquerda e (algo que nunca um tucano terá a coragem de fazer) autocrítica em relação a erros do passado.
VLADIMIR SAFATLE é professor no departamento de filosofia da USP

Para quem estiver no Rio!

A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), seu Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) e o Departamento da ALADI e Integração Econômica Regional (DEIR) do Ministério das Relações Exteriores vêm pelo presente convidar Vossa Senhoria para participar Seminário sobre A Integração Latino-Americana em Foco: 50 Anos de ALALC / ALADI, no dia 27 de agosto de 2010, das 8 às 18 horas, no salão nobre da biblioteca do Palácio Itamaraty Rio de Janeiro, Av. Marechal Floriano, 196 – Centro.

O Seminário sobre A Integração Latino-Americana em Foco: 50 Anos de ALALC / ALADI reunirá destacadas personalidades políticas, acadêmicas e do setor privado para um debate, em formato de mesa-redonda, sobre o tema.

O Seminário sobre A Integração Latino-Americana em Foco: 50 Anos de ALALC / ALADI será aberto ao público interessado, com acesso livre.

Por gentileza, favor confirmar presença pelo endereço eletrônico ipri@itamaraty.gov.br e informar: nome completo, instituição, endereço e telefone.

23 agosto 2010

A ausência da direita no Brasil!

Onde estão os herdeiros da UDN?

Dividir o quadro político partidário brasileiro em espectros ideológicos nunca foi uma tarefa fácil. Há vários motivos. Mas o maior deles é a própria descontinuidade da nossa história política, repleta de golpes e movimentos que interromperam o “desenvolvimento natural” das agremiações.

Outro aspecto importante é o fato de que as principais questões discutidas recentemente no Brasil transpassam as matrizes ideológicas de forma não muito clara. O principal exemplo é o programa de privatizações realizado recentemente: uma política tipicamente liberal, mas empreendida por um partido social-democrata.

Entretanto, a ausência de um partido de direita/conservador no atual debate presidencial também é fruto de opções estratégicas feitas pelos principais partidos que poderiam ocupar esse espaço.

Por um lado, legendas que sustentavam posições mais liberalizantes e conservadoras no governo FHC como PP e PTB perderam as eleições presidenciais de 2002, mas preferiram seguir governo e mudaram de lado. Embarcaram no projeto petista e tornaram-se todos eles referências de “centro” (que a rigor, não quer dizer nada).

Por outro, o DEM, principal opção para reinar na faixa do eleitorado conservador/direitista, teima em não direcionar suas baterias para o atraente reduto. O problema é que para assumir essa identidade, seria necessário desfazer a aliança histórica que o partido construiu com o PSDB ainda em 1994.

Para preencher o espectro ideológico abandonado, seria necessário que o DEM assumisse de forma inconteste valores conservadores. Mas isso continuará sendo algo impossível enquanto ele se mantiver como parceiro/satélite do PSDB, que possui vez em quando convicções e arroubos esquerdistas. A parceria com os tucanos é ruim para o DEM do ponto de vista ideológico porque confunde o eleitor a respeito das cores reais do partido. Ele passa a não ser nem azul, nem vermelho, nem verde, nem bege...

Portanto, o Brasil não tem uma opção de direita porque os partidos que poderiam assumir esse papel preferiram continuar no governo durante a gestão petista, optando por manter uma postura “camaleão” e porque o DEM ainda não teve coragem suficiente para romper com o PSDB e alçar vôo solo.

19 agosto 2010

A próxima parada....!

A próxima parada é a urna (mais um texto publicado no blog da Christina Lemos - R7).

A mais nova fase da campanha é o horário eleitoral de rádio e TV. e as estratégias de cada um são determinadas por aquilo que se conseguiu construir no período anterior da campanha. Por isso, o ritmo dos programas está sendo fortemente ditado pelos resultados das pesquisas de intenção de votos. E pelo que divulgaram Ibope, Datafolha e Vox Populi, Serra inicia o jogo rádio-televisivo em forte desvantagem.

As diferenças de 8 (Datafolha), 11 (Ibope) e 16 (Vox Populi) pontos em favor da petista não deixam muitas escolhas ao tucano. Após uma semana branda de apresentações e comparações suaves de biografias (programas certamente gravados antes das últimas pesquisas), o clima deverá esquentar muito rapidamente: para enfrentar a favorita, seu principal adversário precisará fazer campanha negativa contra Dilma, ou seja, apontar seus pontos fracos para que seus eleitores mudem de idéia e passem para o lado do PSDB.

Fazer campanha negativa contra alguém é muito difícil, pois corre-se o risco de começar a ser encarado como antipático e de sofrer com o efeito boomerang. Mas, se o candidato acertar a mão, pode dar certo.

Outros dois fatores mostram a atenção que o comitê de Serra dá às pesquisas e à conjuntura política que o cerca. O primeiro é a abordagem positiva que Serra oferece a Lula, citando-o inclusive no seu jingle de campanha (não dá para deixar de notar o caráter no sense dessa peça). O segundo é a tentativa de popularizar sua imagem, mostrando-o sempre cercado de pessoas e simplificando seu nome para “Zé” (em 2006, tentou-se o mesmo com Alckmin, também mudando seu nome de campanha para “Geraldo”).

No caso de Dilma, a situação é bem mais tranqüila. Bastam muitas cenas com Lula, depoimentos de pessoas que mudaram de vida nos últimos oito anos, muitos indicadores estatísticos, promessa de continuidade e imagens bem trabalhadas e cuidadosamente selecionadas no melhor estilo “paz e amor”.

Por enquanto, Dilma faz o oposto de Serra. Ao invés de aparecer cercada de gente, mantém a postura de candidata de “laboratório”, bem protegida nos estúdios televisivos. Essa postura poderá ser mantida na medida em que o contraste entra ela e popularíssimo Lula não saltar aos olhos dos eleitores.

Por sua vez, o minúsculo tempo destinado a Marina Silva a obriga a abusar da criatividade. Entretanto, deve-se tomar cuidado para que ela não fique ainda mais caracterizada como uma candidata “alternativa”, alguém sem fortes pretensões (como são Zé Maria, Eymael, Fidélix, Pimenta e Gomes). Apesar de estar em terceiro lugar, ela não deverá fazer campanha negativa contra ninguém (a não ser que vá para um segundo turno), devendo deixar o “serviço sujo” para Serra e tentando se aproveitar dos estragos que a briga maior entre PT e PSDB irão produzir.

As cartas estão na mesa e as estratégias permanecem as mesmas até a próxima rodada de pesquisas. Estamos praticamente na reta final. Os programas serão complementados pelos debates e pelas informações que a imprensa produzir. A próxima parada é a urna.

*Leonardo Barreto é professor da Universidade de Brasília e da UDF Centro Universitário, cientista político e titular do blogwww.casadepolitica.com.br

14 agosto 2010

Recolocando o debate (contribuição do meu novo amigo, prof. Fernando Kleiman)!


VALOR ECONÔMICO (SP) • POLÍTICA • 12/8/2010

Debate político para gente grande


Maria Inês Nassif

É muito delicada a discussão que tem tomado corpo sobre a tese de que o "lulismo" interdita o debate político. Do lado da direita, os argumentos usados para sustentar a afirmação têm sistematicamente misturado temas discutidos intensamente há pelo menos duas décadas entre os movimentos sociais e organizações da sociedade civil, subtraído as suas conclusões, ajuizado um "viés autoritário" - principalmente quando elas se referem à democratização da comunicação e aos direitos humanos - e as "denunciado" como decisões ou intenções de governo. É suprimida a informação de que houve um intenso debate nesse processo, porque isso desautorizaria a conclusão de que o governo é autoritário; e também se omite a informação de que a discussão envolveu agentes sociais no máximo mediados por organizações de governo, porque isso tiraria o caráter governista que se pretende dar a essas ideias.

Do lado da esquerda, a interpretação é a de que um líder populista com grande poder de atração sobre setores populares, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à frente de um governo mais permeável a reivindicações dos movimentos sociais e com uma ligação histórica com o sindicalismo, seria desmobilizador por definição e o grande responsável pelo "descenso" das lutas sociais. Não apenas o debate político à esquerda seria interditado pela mobilidade do governo Lula junto aos setores populares, mas as próprias conquistas populares estariam relativizadas pela falta de conflito. Uma conquista social, por essa visão, apenas é legítima quando fruto de uma luta, de um sacrifício - uma visão épica do socialismo.

Essas visões padecem de alguns vícios. Primeiro, partem do diagnóstico de que o único responsável pelo agendamento do debate é o governo. Isso não é verdade. Embora Lula exerça uma liderança carismática sobre grande parcela da população, foi um presidente que caminhou quase dois mandatos sobre a trilha de agendamentos dos dois maiores partidos oposicionistas, o DEM e o PSDB, excessivamente reverberada pela grande imprensa. A agenda, inicialmente, teve como parâmetros de julgamento a pauta neoliberal do período anterior - à qual, diga-se de passagem, o primeiro governo Lula esteve perfeitamente adequado. Como as divergências na área econômica foram muito reduzidas no primeiro período, o tema moral passou a pautar exclusivamente o debate da oposição, sem que o governo pudesse interferir nessa dinâmica, já que não influencia os principais meios de comunicação. Nos dois casos, da agenda neoliberal e da agenda neo-udenista, o debate político tende a ser restrito - no primeiro caso, porque se parte do princípio de que não existe inteligência na discordância; no segundo, porque um clima permanente de agressão não leva a qualquer conversa em profundidade. É apenas uma luta de boxe.

O que teoricamente deveria ser um debate político sobre a ética, no entanto, não aconteceu, pelo menos do lado institucional. A política ascendeu rapidamente às páginas policiais dos jornais sem que em nenhum momento se tenha debatido como proceder a uma renovação de quadros políticos e como dar substância ideológica a partidos que, relativamente novos, já apresentam sinais de senilidade.

Marginalmente, o debate ético ganhou a sociedade civil via movimento Ficha Limpa que, embora seja pelo menos uma iniciativa, não teve capacidade de manter mobilizados seus atores para fazer um diagnóstico mais profundo sobre as mazelas do sistema político brasileiro. Aliás, sem uma discussão e uma ação política que encare com igual urgência as deficiências da Justiça, a lei poderá se constituir, no futuro, num importante instrumento nas mãos das oligarquias estaduais, que têm ainda forte influência sobre as justiças estaduais - quando não nas instâncias superiores -, e a política continuará sendo o refúgio para malfeitores que usam o mandato legislativo como peça de defesa, valendo-se do foro privilegiado. Estes dificilmente terão uma condenação que lhes suprima o direito de se candidatar.

A outra visão, de que o governo traz em si o poder de desmobilizar os movimentos sociais, é relativa. De fato, o Bolsa Família desarticulou importantes agentes de mobilização popular, mas os movimentos sociais vinham de um período de esvaziamento anterior - assim como os sindicatos -, no período em que seus adversários venderam com relativo êxito o peixe de que as diferenças de classe tinham acabado, e uma conjuntura permanente de estagnação tirou o poder de fogo das lutas reivindicatórias.

A recolocação em pauta do debate político não é, portanto, um assunto e uma responsabilidade só de governo. Não se sustentaria dessa forma, aliás, porque o governo tem um poder de agenda restrito. E esse debate é de interesse da situação e da oposição, tanto à esquerda como à direita. Isso porque todos os atores que se movem na cena política são parte hoje de uma grande crise de representatividade. Falta debate político porque os partidos têm falhado no papel de mediadores de setores sociais e de formuladores de projetos políticos. E têm falhado porque não conseguem dar substância e matéria-prima para a unidade interna, já que são partidos de quadros que pedem votos ostentando discursos baseados quase que exclusivamente no discurso pessoal - "eu sou", "ele é".

Um sistema político sem partidos que mereçam esse nome tem se mostrado incapaz de dar um efetivo salto do país para uma verdadeira democracia. O sistema político brasileiro é o próprio entulho autoritário; existem quadros partidários importantes que são uma pesada herança da ditadura. O sistema mostra-se incapaz de se renovar, formar novas lideranças, atrair valores novos da sociedade civil. A forma como os partidos lidam com isso, quando fazem oposição, e o modo como repercute essa atuação em setores que se identificam com eles, consolidam um preconceito com a política que apenas contribui para afastar ainda mais os bons quadros.

O único jeito de resolver isso é conversar sobre política que nem gente grande.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras
E-mail: maria.inesnassif@valor.com.br