Onde estão os herdeiros da UDN?
Dividir o quadro político partidário brasileiro em espectros ideológicos nunca foi uma tarefa fácil. Há vários motivos. Mas o maior deles é a própria descontinuidade da nossa história política, repleta de golpes e movimentos que interromperam o “desenvolvimento natural” das agremiações.
Outro aspecto importante é o fato de que as principais questões discutidas recentemente no Brasil transpassam as matrizes ideológicas de forma não muito clara. O principal exemplo é o programa de privatizações realizado recentemente: uma política tipicamente liberal, mas empreendida por um partido social-democrata.
Entretanto, a ausência de um partido de direita/conservador no atual debate presidencial também é fruto de opções estratégicas feitas pelos principais partidos que poderiam ocupar esse espaço.
Por um lado, legendas que sustentavam posições mais liberalizantes e conservadoras no governo FHC como PP e PTB perderam as eleições presidenciais de 2002, mas preferiram seguir governo e mudaram de lado. Embarcaram no projeto petista e tornaram-se todos eles referências de “centro” (que a rigor, não quer dizer nada).
Por outro, o DEM, principal opção para reinar na faixa do eleitorado conservador/direitista, teima em não direcionar suas baterias para o atraente reduto. O problema é que para assumir essa identidade, seria necessário desfazer a aliança histórica que o partido construiu com o PSDB ainda em 1994.
Para preencher o espectro ideológico abandonado, seria necessário que o DEM assumisse de forma inconteste valores conservadores. Mas isso continuará sendo algo impossível enquanto ele se mantiver como parceiro/satélite do PSDB, que possui vez em quando convicções e arroubos esquerdistas. A parceria com os tucanos é ruim para o DEM do ponto de vista ideológico porque confunde o eleitor a respeito das cores reais do partido. Ele passa a não ser nem azul, nem vermelho, nem verde, nem bege...
Portanto, o Brasil não tem uma opção de direita porque os partidos que poderiam assumir esse papel preferiram continuar no governo durante a gestão petista, optando por manter uma postura “camaleão” e porque o DEM ainda não teve coragem suficiente para romper com o PSDB e alçar vôo solo.
Um comentário:
Leonardo,
E desde quando o governo do PT é de esquerda? Na minha visão, só o é na política externa (ainda assim, de maneira simplória) e nos planos originados da "sociedade civil" (de direitos humanos, de cultura etc.). Planos esses sem condições políticas de aplicabilidade.
Abraço!
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