18 junho 2009

E agora, Sarney?


E agora, Sarney?

Na última terça (16), um acuado e nervoso José Sarney subiu à tribuna do Senado para defender-se perante à nação das acusações de omissão e nepotismo. Discursou por mais de meia hora, emocionou-se e conclamou a solidariedade dos seus pares. Ele irá precisar.

Os acontecimentos são graves. Descobriu-se que a alta burocracia do Senado utilizava-se de “atos secretos” para promover e distribuir aumentos generosos entre comparsas. Esses atos foram publicados ao longo dos últimos quatorze anos.

O episódio mostra que o Senado foi “seqüestrado” pelos seus funcionários do alto escalão, que utilizaram-se da sua posição privilegiada para usufruir do patrimônio público sem qualquer limite. Os exemplos são entristecedores: Agaciel Maia, ex-diretor, possui uma casa de R$ 5 milhões. José Carlos Zoghbi, ex-diretor de recursos humanos, vendia dados financeiros dos funcionários da Casa para bancos de empréstimos.

Os ex-diretores formaram uma casta que controlava um orçamento anual de mais de R$ 2,7 bilhões e tudo podia. A distribuição de privilégios aos seus filhos e parentes e o poder de barganha que exerciam sobre os próprios senadores davam a dimensão de sua opulência e certeza de impunidade.

Entretanto, é difícil acreditar que a casta dos ex-diretores pudesse agir sem a anuência dos parlamentares. É nesse ponto que entra José Sarney. O senador é parinho político de Maia e responsável pela sua ascensão na hierarquia do Senado. Como Sarney também é o atual presidente da Casa, tornou-se alvo natural.

No entanto, as gestões anteriores também devem ser responsabilizadas. Durante os últimos quatorze anos passaram pela presidência os senadores Antônio Carlos Magalhães e Ramez Tebet (ambos falecidos), Jáder Barbalho, Renan Calheiros e Garibaldi Alves.   

Do alto da tribuna do Senado, Sarney afirmou que buscará a verdade, custe o que custar. Isso significa que ele terá que investigar aliados, inclusive o senador Renan Calheiros, seu homem forte e principal responsável por sua eleição. É possível que, no afã de salvar a própria pele, Sarney contrarie aliados e torne sua posição ainda mais frágil. Nesse caso, não é possível culpar alguns e salvar outros.

Para complicar, Sarney reagiu com opulência e alguma arrogância às denúncias de emprego de alguns parentes seus na estruturas do Senado e da Câmara. O ex-presidente da República disse que um homem da sua estatura não poderia ser julgado por causa de um parente empregado aqui e outro ali.

O principal problema do poder é que ele gera uma falsa sensação de ser especial, de estar acima da lei e dos valores dos homens comuns. É nesse ponto que acontecem os desvios. O ex-presidente americano Richard Nixon, quando confrontado com as acusações de espionagem do caso Water Gate, afirmou que os atos de um presidente nunca são ilegais. Pela declaração, Nixon foi expulso da política de seu país. Pela postura dessa semana, Sarney pode estar indo pelo mesmo caminho.    

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