10 junho 2009

Entrevista: popularidade, eleições e crise!


Entrevista

Leonardo Barreto

Cientista político (Rede Brasil Atual)

Para o cientista político Leonardo Barreto, o aumento da popularidade está relacionado também às expectativas futuras de gestão da crise. A clareza de que a turbulência global não teve origem no país e a capacidade da administração para manter programas sociais e reaquecer o consumo funcionaram como propulsores dos índices. A pesquisa é a primeira do instituto a trazer projeções para o cenário eleitoral de 2010. Essas pesquisas, no entanto, servem mais para orientar movimentações de bastidor do que prever resultados, avalia o cientista político.

Para Barreto, há muitas indefinições no cenário, incluindo a duração exata da crise mundial, a confirmação da recessão no país. Ele cita ainda as incertezas sobre o processo de recuperação da ministra Dilma Roussef e a evolução das costuras internas do PSDB – que apontam uma candidatura de José Serra.

E a economia ainda está longe de ser um fator ultrapassado no debate. “[A crise] é a única força capaz de minar e contaminar a base de aprovação do presidente Lula e colocar em xeque sua capacidade como gestor da economia”, avalia.

RBA – Ainda que alguns analistas apontem que o pior da crise tenha passado, o país ainda sente alguns efeitos dela. Como explicar que em meio a esse cenário, a popularidade do governo volte a crescer?

Esse indicador reflete duas coisas. Primeiro, uma avaliação do que governo tem feito até agora, mas também reflete uma expectativa em relação à capacidade do governo para resolver problemas futuros. Se formos ver a aprovação do presidente, não estamos falando somente do momento atual, mas da confiança que as pessoas depositam nele como uma pessoa qualificada para comandar país nesse momento de crise. É uma avaliação do passado e em relação ao futuro. Contribui para isso o fato de a crise não ter sido nossa responsabilidade. Ajuda muito à imagem do presidente.

Os dois elementos de políticas públicas que geraram grande apoio ao presidente continuam presentes. A primeira é a política social e a segunda é a manutenção do mercado de crédito, que permite que uma série de pessoas tenham acesso ao consumo. Os dois elementos de políticas públicas que geraram grande apoio ao presidente continuam presentes. A primeira é a política social e a segunda é a manutenção do mercado de crédito, que permite que uma série de pessoas tenham acesso ao consumo. Ele deu uma retraída nos primeiros meses, mas governo reduziu o IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] de carros e eletrodomésticos e criou um programa de financiamento gigante de casa própria. Com seus próprios meios, resolveu o problema de crédito, agora normalizada pelo mercado novamente, para que as pessoas possam consumir.

RBA – A velocidade de recuperação do país pode interferir nessa percepção da população?

A crise vai ter papel marcante, porque vai determinar o grau de satisfação [da população]. Ela é a única força capaz de minar e contaminar a base de aprovação do presidente Lula e colocar em xeque sua capacidade como gestor da economia.

A grande questão é que o Brasil acumulou reservas gigantes durante esse período de benesses e o governo está com reservas amplas para fazer políticas que minimizariam a percepção das pessoas em relação à crise. Ele tem aí um programa de um milhão de moradias, tem a possibilidade de bancar uma redução temporária de impostos para bens de consumo das classes B, C, D e E. Além disso, o próprio governo tem condições de gerar crédito para a população.

A crise é importante, tem a capacidade de mudar o cenário – se vivermos seis ou sete meses com taxas de desemprego aumentando, não existe cristão que resista a isso. Não sentimos isso agora porque o governo tem reservas formidáveis para abastecer a população de políticas publicas que pode ajudar a melhorar ou conservar a sensação de bem-estar. Mas as reservas não são infinitas, o que nos leva à grande questão que é quanto tempo vai durar a crise e quanto tempo o governo resiste, com seus próprios recursos, à maré de notícias ruins.

RBA – A pesquisa passou a trabalhar cenários eleitorais para presidente em 2010. Em que medida a discussão pode ser feita de forma consistente? É uma forma de antecipar o debate eleitoral?

Acredito que o presidente Lula, ao assumir que Dilma seria sua [candidata a] sucessora, antecipou um pouco a corrida eleitoral. Isso forçou uma série de movimentações tanto do seu lado – do PMDB discutindo se vai ou não [com o governo] – quanto de outro. Essas pesquisas servem mais para esses movimentos de bastidores do que para prever os resultados.

A oposição e o PSDB especialmente ficaram muito pressionados a resolver seus problemas interno, a disputa entre Serra e Aécio. Ele antecipou as movimentações dentro desse xadrez político.

O fato é que as peças estão na mesa e esse xadrez começou. Essas pesquisas servem mais para esses movimentos de bastidores do que para prever o resultado. Muito mais do que apontar as chances de um ou de outro, servem para que o PT sente à mesa para negociar com o PMDB, ou para o PSDB sente para o Serra negociar com o Aécio. Estamos muito longe da eleição, tem a crise por aí, começamos a enfrentar um processo de recessão que vai ter resultados, há debates ainda muito ferozes dentro dos partidos, a doença da ministra Dilma.

RBA – Mas se os principais candidatos forem mesmo Dilma e Serra, o que se desenharia para a campanha?

Caso se concretize que Dilma e Serra sejam efetivamente os candidatos, a gente vai ter dois candidatos totalmente sem carisma. E assim, vai ser realmente uma dúvida, uma questão: quem é que vai se sair melhor nessa batalha. A campanha seria baseada em duas pessoas com perfil gerencial e sem carisma. Numa campanha dessa natureza, pode sair tudo.

RBA – A CPI da Petrobras pode ser um fator que modifique a percepção da população?

Acredito que é um escândalo que tem potencial de levantar informações capazes de desestabilizar o governo. Agora, o governo passou por CPIs muito piores e continuou governo.

Acredito que é um escândalo que tem potencial de levantar informações capazes de desestabilizar o governo. Agora, o governo passou por CPIs muito piores e continuou governo. Ela tem uma atuação, vai gerar constrangimento para alguns candidatos, vai gerar um palanque para que líderes da oposição possam aparecer e discursar. Para desestabilizar o governo, teria de se achar alguma coisa muito grande, muito complicada. O efeito da CPI só vai ser conhecido quando ela acontecer, até lá é um elemento imprevisível.

 

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