07 abril 2010

Texto interessante sobre o papel das pesquisas eleitorais!

O eleitor é insondável, mas o eleitorado é previsível

Artigo publicado pelo jornalista José Roberto de Toledo no blog do Estadão, em 24 de março de 2010

A chance de você ser entrevistado numa pesquisa de intenção de voto para presidente no Brasil é de uma em 66 mil. Se morar em São Paulo, você corre dez vezes mais risco de morrer assassinado do que de ser abordado por um pesquisador.

Logo, dizer que não acredita em pesquisa eleitoral apenas porque nunca foi entrevistado equivale a sair dizendo por aí que não acredita em homicídio porque continua vivo.

A maior parte de quem está lendo esta nota jamais terá sido entrevistada por IBOPE, Datafolha, Vox Populi ou Sensus. Não se sinta só. Somos maioria.

As amostras não são proporcionais ao tamanho do universo pesquisado. Não precisam ser. Vale mais um amostra bem feita com duas mil entrevistas do que uma enquete na internet com dois milhões de respostas.

As pesquisas de opinião usam critérios estatísticos para garantir que todos os estratos do eleitorado brasileiro estejam representados. Ao contrário das enquentes, nas quais responde quem está mais interessado no assunto.

Assim como não é preciso tirar todo o sangue do paciente para fazer um exame, nem tomar todo o caldeirão para sentir se a sopa está salgada, basta uma amostra bem temperada para saber o que pensa o eleitorado. Se bem feitas, cerca de duas mil entrevistas costumam produzir resultados com uma margem de erro máxima de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Isso não quer dizer que seja possível prever o resultado da eleição. Ninguém sabe, por exemplo, se um candidato cometerá haraquiri político durante uma campanha. Ou se uma crise econômica súbita mudará o humor de quem vota. Mas, em função desses eventos, é possível monitorar o pensamento dos vários conjuntos de eleitores e prever, se a eleição ocorresse naquele momento, como eles se comportariam diante da urna eletrônica.



Embora os puristas digam que as pesquisas de opinião no Brasil não sejam científicas porque não são 100% probabilísticas, a série histórica de acertos mostra que elas funcionam. Nas eleições em que há mais de um instituto pesquisando a intenção de voto, os resultados de véspera tendem a ter 95% de acerto ou mais em comparação às urnas (se considerada a margem de erro).

Aliás, a sondagem eleitoral é o único tipo de pesquisa que pode ser confrontado com a realidade, pois se tira a prova dos nove nas urnas. Mesmo assim, muito menos gente questiona a validade das pesquisas sobre taxa de desemprego, por exemplo. E elas também são amostrais. O motivo para isso talvez seja a paixão despertada pelas eleições.



O mesmo eleitor que usa a pesquisa do IBOPE ou do Datafolha para gritar que o governo Lula tem 75% de aprovação, questiona o resultado da pesquisa quando seu candidato está atrás do adversário. É natural, até esperado. Estudos sobre as razões do voto mostram que o eleitor se move mais pelas entranhas do que pelo cérebro. Claro, é modo de dizer. O cérebro é quem decide, mas não seu lado racional, e sim aquele que comanda as emoções - ou é comandado por elas.



Na verdade, se você tem uma opinião visceral contra as pesquisas de intenção de voto, é provável que neste exato momento seu cérebro esteja ativando uma série de redes neurais para racionalizar as suas emoções e encontrar argumentos que o farão ainda mais convicto de que as pesquisas s& atilde;o todas fajutas. Ao final, estará satisfeito com sua capacidade de argumentação, fruto de uma descarga de dopamina auto-recompensadora.

Acredite ou não nos argumentos, lembre-se de Arthur Conan Doyle: “Enquanto o indivíduo sozinho é um quebra-cabeças insolúvel, agregado ele se torna uma certeza matemática. Nunca se pode prever o que um homem sozinho fará, mas é possível dizer com precisão o que, na média, muitos deles farão”. Dito assim, parece até elementar, meu caro eleitor.


Um comentário:

Vívian Cristina disse...

Muito legal o texto...