O eleitor é insondável, mas o eleitorado é previsível |
Artigo publicado pelo jornalista José Roberto de Toledo no blog do Estadão, em 24 de março de 2010
Isso não quer dizer que seja possível prever o resultado da eleição. Ninguém sabe, por exemplo, se um candidato cometerá haraquiri político durante uma campanha. Ou se uma crise econômica súbita mudará o humor de quem vota. Mas, em função desses eventos, é possível monitorar o pensamento dos vários conjuntos de eleitores e prever, se a eleição ocorresse naquele momento, como eles se comportariam diante da urna eletrônica.
Embora os puristas digam que as pesquisas de opinião no Brasil não sejam científicas porque não são 100% probabilísticas, a série histórica de acertos mostra que elas funcionam. Nas eleições em que há mais de um instituto pesquisando a intenção de voto, os resultados de véspera tendem a ter 95% de acerto ou mais em comparação às urnas (se considerada a margem de erro). Aliás, a sondagem eleitoral é o único tipo de pesquisa que pode ser confrontado com a realidade, pois se tira a prova dos nove nas urnas. Mesmo assim, muito menos gente questiona a validade das pesquisas sobre taxa de desemprego, por exemplo. E elas também são amostrais. O motivo para isso talvez seja a paixão despertada pelas eleições.
O mesmo eleitor que usa a pesquisa do IBOPE ou do Datafolha para gritar que o governo Lula tem 75% de aprovação, questiona o resultado da pesquisa quando seu candidato está atrás do adversário. É natural, até esperado. Estudos sobre as razões do voto mostram que o eleitor se move mais pelas entranhas do que pelo cérebro. Claro, é modo de dizer. O cérebro é quem decide, mas não seu lado racional, e sim aquele que comanda as emoções - ou é comandado por elas.
Na verdade, se você tem uma opinião visceral contra as pesquisas de intenção de voto, é provável que neste exato momento seu cérebro esteja ativando uma série de redes neurais para racionalizar as suas emoções e encontrar argumentos que o farão ainda mais convicto de que as pesquisas s& atilde;o todas fajutas. Ao final, estará satisfeito com sua capacidade de argumentação, fruto de uma descarga de dopamina auto-recompensadora.
Acredite ou não nos argumentos, lembre-se de Arthur Conan Doyle: “Enquanto o indivíduo sozinho é um quebra-cabeças insolúvel, agregado ele se torna uma certeza matemática. Nunca se pode prever o que um homem sozinho fará, mas é possível dizer com precisão o que, na média, muitos deles farão”. Dito assim, parece até elementar, meu caro eleitor.
Um comentário:
Muito legal o texto...
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