05 maio 2010

Mais sucessão presidencial!

Saída de Ciro favorece Serra, mas só no início


"O eventual crescimento do candidato do PSDB, com a transferência de votos num primeiro momento da maioria dos eleitores de Ciro, decorrerá, de um lado, da desinformação do eleitor sobre a candidata oficial, e, de outro, do fato de o nome de Serra ser mais familiar ao eleitor", raciocina Queiroz

Por Antônio Augusto de Queiroz*

O PT e o presidente Lula irão precisar de nervos de aço nos próximos meses, especialmente em maio, quando a tendência é que José Serra, beneficiado pela saída de Ciro, alargue sua vantagem nas pesquisas sobre Dilma.

Será um período de transição de um a dois meses, mas logo a candidata do PT voltará a crescer.

O eventual crescimento do candidato do PSDB, com a transferência de votos num primeiro momento da maioria dos eleitores de Ciro, decorrerá, de um lado, da desinformação do eleitor sobre a candidata oficial, e, de outro, do fato de o nome de Serra ser mais familiar ao eleitor. Ou seja, boa parte dos eleitores de Ciro, por não saberem que Serra é do PSDB nem que Dilma é a candidata de Lula, optarão pelo nome mais conhecido.

De fato, José Serra tem o nome mais conhecido e exposição positiva na mídia. Ele disputou a eleição presidencial em 2002, foi prefeito, governador, deputado federal e senador, enquanto Dilma só ganhou visibilidade no Governo Lula e, com mais exposição, quando assumiu a chefia da Casa Civil, com a saída de José Dirceu em junho de 2005.

Nesse período, o fundamental para os aliados de Dilma é segurar a ansiedade, gerenciar expectativas, e controlar o salto alto do presidente, que precisa ser mais humilde, inclusive para que seu partido, o PT, também o seja.

Se não forem prudentes, poderão colocar a eleição de Dilma em risco, porque a pressão psicológica será grande, com o crescimento do principal adversário nas pesquisas em maio e talvez em junho.

A explicação para o provável crescimento de Serra é razoavelmente simples. Segundo a última pesquisa Ibope, quando o nome de Ciro era excluído da lista de candidatos, a migração de seus votos para Dilma era de apenas 33%, enquanto para Serra era de 44%. Pela pesquisa Sensus, a migração era de somente 16% para Dilma e 41% para Serra.

Aqui cabe um parêntese para uma explicação. Como o PSDB acusou a pesquisa Sensus de manipular dados, vai voltar à carga nas próximas pesquisas dizendo que tinha razão, já que a diferença entre a última e a próxima pesquisa Sensus será grande. Mas isso será explicado pela transferência de voto do eleitor de Ciro para Serra que, pela pesquisa Sensus, previa 41% contra apenas 16% para Dilma.

O segundo aspecto, da desinformação do eleitor, possui dupla dimensão. A primeira diz respeito ao eleitor de Ciro, que, segundo o Datafolha, mais de 1/3 estão concentrados no Nordeste, sendo 16% do total só no estado do Ceará, que é governado por seu irmão, Cid Gomes (PSB).

Ora, se Cid e Ciro apóiam Dilma, e Dilma é candidata de Lula, que é recordista de apoio no estado, como explicar que o eleitor dos dois primeiros votem em Serra, adversário político deles e do presidente Lula? Só a desinformação justifica. E isso pode ser e, certamente, será corrigido ao longo da campanha.

Uma informação relevante da última pesquisa Vox Populi, feita considerando a hipótese de Ciro fora da disputa, é que quando os eleitores sabem que Dilma é a candidata de Lula, ela ganha de Serra por 47% a 34% entre os eleitores do sexo masculino e de 42% a 33% entre as mulheres.

Como, sem esta informação (Dilma candidata de Lula), Serra está à frente em todas as pesquisas - considerando ou não a candidatura Ciro - a conclusão que se chega é que o problema é de desinformação. Estima-se que mais de 40% do eleitorado não sabem que Dilma é a candidata de Lula.

Eventuais oscilações favoráveis a Serra nas próximas pesquisas não podem ser vistas como algo definitivo. Portanto, não devem ser motivo de euforia do PSDB nem de desespero do PT. Os resultados dessas pesquisas podem, e tendem a ser, provisórios, já que poderão ser alterados quando corrigida a assimetria de informação entre os eleitores, o que será feito ao longo da campanha.

Assim, é preciso administrar as expectativas e ansiedades. O momento é de transição. E, nesses momentos, a prudência, o equilíbrio, e a humildade são os melhores conselheiros. A eleição só será decidida em outubro ou, se houver segundo turno, em novembro. Até lá, nervos de aço!

(*) Jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap

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