27 janeiro 2011
2014 já começou para o PSDB. O primeiro passo é remover Serra! A guerra foi oficializada ontem!
Aécio e Alckmin isolam Serra em eleição no PSDB
Deu na Folha de São Paulo de hoje!
Mineiro e paulista tentam impedir que ex-governador assuma comando da sigla
Documento articulado às pressas obtém adesão de 53 deputados do partido e defende que Sérgio Guerra continue
CATIA SEABRA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
MARIA CLARA CABRAL DE BRASÍLIA
Aliados do senador eleito Aécio Neves (MG) e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, endossaram uma operação que fecha as portas do comando do PSDB para o ex-governador José Serra.
Derrotado na corrida presidencial, Serra manifesta interesse pela direção da sigla para se manter em evidência.
Numa articulação desenhada anteontem, alckmistas e aecistas lideraram abaixo-assinado pela recondução do senador Sérgio Guerra à presidência do partido.
Consultado sobre a redação do abaixo-assinado, Aécio disse que o apoiaria desde que tivesse aval de Alckmin. Segundo a Folha apurou, Guerra ligou para Alckmin na manhã de ontem para falar sobre o documento.
Admitindo não ter consultado Serra, Guerra nega ter participado da elaboração do documento idealizado por senadores do PSDB. "É um documento dos deputados."
A operação foi posta em prática na manhã de ontem, durante reunião da bancada do PSDB para eleição de Duarte Nogueira (SP) para a liderança do partido na Câmara, quando mais adesões à ideia foram obtidas.
"Não sabia de nada", disse o presidente do PSDB de São Paulo, Mendes Thame, que assinou o documento. O abaixo-assinado reuniu assinatura de 53 dos 55 deputados presentes à reunião. "É um aviltamento à democracia interna do PSDB tentar reeleger o presidente em reunião para escolha do líder", protestou o senador eleito Aloysio Nunes Ferreira (SP), defensor do nome de Serra para presidir o partido. "Houve um rolo compressor. Eles assinaram sob constrangimento", emendou. Segundo participantes da costura, a recente movimentação de Serra precipitou a elaboração de um abaixo-assinado em favor de Guerra.
O ex-governador manifestou disposição de participar da reunião dos deputados, o que foi encarado como sinal de que pretende interferir nos rumos do partido. Um dos articuladores da operação, o senador Cícero Lucena (PB) disse "não entender a reação". "Serra nunca me disse que era candidato à presidência do partido."
Aecistas também atribuíram a Serra o vazamento da informação de que o publicitário indicado pelo ex-governador para produção do programa do PSDB é réu no processo do mensalão mineiro. Aliados de Aécio e tucanos de Pernambuco deram início à campanha para nomeação do senador Tasso Jereissati (CE) na presidência do Instituto Teotonio Vilela -outro destino cogitado por Serra.
26 janeiro 2011
Estados Unidos no divã!
O mito da competitividade, por Paul Krugman!
Uma nova palavra da moda, igual à velha palavra da moda. Antes de seu discurso do Estado da União, o presidente Barack Obama telegrafou seu tema principal: competitividade. O Conselho Consultivo para Recuperação Econômica foi rebatizado de Conselho Presidencial para Empregos e Competitividade. E em seu discurso de sábado no rádio, o presidente declarou que “nós podemos superar em competição qualquer outro país da Terra”.
Esta pode ser uma política inteligente. Supostamente, Obama alistou um velho clichê em nome de uma boa causa, como forma de vender um aumento muito necessário no investimento público para um público amplamente doutrinado na visão de que gastos do governo são uma coisa ruim.
Mas não vamos nos enganar. Falar sobre “competitividade” como uma meta é fundamentalmente enganador. Na melhor das hipóteses, é um diagnóstico errado de nossos problemas. Na pior, poderia levar a políticas baseadas na ideia falsa de que aquilo que é bom para as corporações é bom para os Estados Unidos.
Sobre esse diagnóstico errado: que sentido há em fazer com que nossos problemas atuais derivem da falta de competitividade?
É verdade que teríamos mais empregos se exportássemos mais e importássemos menos. Mas o mesmo vale para a Europa e o Japão, que também apresentam economias deprimidas. E nem todos podem exportar mais e importar menos, a menos que encontremos outro planeta para o qual vender. Sim, poderíamos exigir que a China encolha seu superávit comercial –mas se enfrentar a China é o que Obama está propondo, ele deveria dizer isso claramente.
Além disso, apesar dos Estados Unidos apresentarem um déficit comercial, este déficit está menor do que antes do início da Grande Recessão. Ajudaria se pudéssemos torná-lo ainda menor. Mas no final, nossa situação está complicada por causa da crise financeira, não porque as empresas americanas perderam sua capacidade de competir com concorrentes estrangeiros.
Mas não seria um tanto útil pensar em nosso país como sendo a América SA, competindo no mercado global? Não.
Considere: uma empresa líder que aumenta os lucros reduzindo sua força de trabalho é considerada bem-sucedida. Bem, isso é mais ou menos o que aconteceu nos Estados Unidos recentemente: o emprego está em baixa, mas os lucros estão atingindo novos recordes. Quem, exatamente, consideraria isto um sucesso econômico?
Ainda assim, você poderia dizer que a conversa sobre competitividade ajuda Obama a acalmar aqueles que o consideram antinegócios. Tudo bem, desde que ele entenda que os interesses das empresas “americanas” e o interesses do país, que quase nunca são os mesmos, estão no momento menos alinhados do que nunca.
Veja o caso da General Electric, cujo presidente-executivo, Jeffrey Immelt, acabou de ser nomeado como chefe do conselho consultivo rebatizado. Eu não tenho nada contra a GE ou contra Immelt. Mas com menos da metade de sua força de trabalho nos Estados Unidos e menos da metade de seus lucros vindo das operações nos Estados Unidos, a sorte da GE tem pouca ligação com a prosperidade americana.
A propósito: alguns elogiaram a nomeação de Immelt com base no fato dele representar uma empresa que de fato produz algo, em vez de ser apenas outra especuladora financeira. Me desculpem por estourar esta bolha, mas atualmente a GE obtém mais lucros com suas operações financeiras do que com a manufatura –de fato, a GE Capital, que recebeu garantia do governo para sua dívida, foi uma grande beneficiária do resgate a Wall Street.
E o que a adoção pelo governo da retórica da competitividade significa para a política econômica?
A interpretação favorável, como eu disse, é que trata-se de apenas uma embalagem para uma estratégia econômica centrada no investimento público, investimento voltado para a criação de empregos agora e promover um crescimento a longo prazo. A interpretação desfavorável é que Obama e seus assessores realmente acreditam que a economia vai mal porque foram duros demais com as empresas, e que aquilo que os Estados Unidos precisam agora é de reduções de impostos para as empresas e uma maior desregulamentação.
Meu palpite é que trata-se de embalagem. E se o presidente propuser um aumento sério nos gastos em infraestrutura e educação, eu ficarei satisfeito.
Mas mesmo se propuser boas políticas, o fato de Obama sentir a necessidade de embalar essas políticas em metáforas ruins seria um triste comentário a respeito do estado de nosso discurso.
A crise financeira de 2008 foi um momento educativo, uma lição objetiva sobre o que pode sair errado se você confiar que uma economia de mercado regulará a si mesma. Também não devemos esquecer que economias altamente reguladas, como a da Alemanha, fizeram um trabalho muito melhor em sustentar o emprego após o estouro da crise. Mas seja qual for o motivo, o momento educativo veio e foi, sem que nada fosse aprendido.
Obama pode estar fazendo tudo certo: seu índice de aprovação está subindo, a economia está exibindo sinais de vida e suas chances de reeleição parecem boas. Mas a ideologia que provocou o desastre econômico em 2008 está de volta ao topo –e parece que permanecerá lá até causar um novo desastre.
Como o partido republicano faz oposição nos EUA! E ainda arrecadam um dinheirinho...
Procura pelo PROUNI! Todos pela educação!
Saiu na Folha online:
DE SÃO PAULO
Cerca de 980 mil estudantes já tinham feito a inscrição no ProUni (Programa Universidade para Todos) até as 19h desta terça-feira, segundo balanço do MEC (Ministério da Educação). As inscrições terminam à 0h de hoje e devem ser feitas pelo site do programa.
O candidato pode escolher até três cursos, elegendo sua prioridade. A lista dos pré-selecionados em primeira chamada será divulgada na sexta-feira (28). Esses estudantes deverão comprovar informações nas instituições de ensino até 4 de fevereiro. No dia 11 de fevereiro, será divulgada a lista dos pré-selecionados em segunda chamada, com prazo de comprovação de documentos até 17 de fevereiro.
Nesta edição estão sendo oferecidas 123.170 bolsas de estudo em 1.500 instituições privadas de ensino superior. Do total, 80.520 são integrais e 42.650 parciais, que custeiam 50% da mensalidade.
Para participar do programa, o candidato precisa ter cursado todo o ensino médio em escola pública ou estabelecimento privado com bolsa integral, além de atender a alguns critérios de renda. É necessário ainda ter participado do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2010 e atingido pontuação mínima de 400 pontos na média das cinco provas –também não pode ter zerado a redação.
As bolsas integrais são destinadas aos alunos com renda familiar mensal per capita de até um salário mínimo e meio. Já as bolsas parciais são para os candidatos cuja renda familiar mensal per capita é de até três salários mínimos.
Caso ainda haja bolsas disponíveis, o Ministério da Educação abrirá um novo período de inscrições entre os dias 21 e 24 de fevereiro, com divulgação da primeira lista de pré-selecionados em 27 de fevereiro. Quem já tiver conseguido uma bolsa na primeira etapa de inscrições não poderá participar da disputa.
24 janeiro 2011
Para saber mais! Modelo incremental de políticas públicas!
Modelo Incremental
O modelo incremental significa tentar solucionar problemas de forma gradual, sem provocar rupturas nem grandes modificações. Este modelo parte do pressuposto de que: a) a decisão envolve relações de poder; não é apenas uma questão técnica; b) os governos democráticos não possuem liberdade total para a alocação dos recursos públicos.
Fonte: apostila da professora Maria das Graças Rua (UnB) retirada da Internet.
O modelo incremental significa tentar solucionar problemas de forma gradual, sem provocar rupturas nem grandes modificações. Este modelo parte do pressuposto de que: a) a decisão envolve relações de poder; não é apenas uma questão técnica; b) os governos democráticos não possuem liberdade total para a alocação dos recursos públicos.
Fonte: apostila da professora Maria das Graças Rua (UnB) retirada da Internet.
Minhas opiniões sobre a entrevista do Paulo Delgado (leia no post abaixo).
1. Acho que não podemos descontextualizar a entrevista do Delgado, que falava ainda sob os efeitos do Mensalão;
2. Ás vezes, o Delgado confunde análise de observador com análise de torcedor. Mas há coisas muito pertinentes;
3. É claro que a "doutrina" do contrismo existe. Vamos lá em Durverger: "partidos carregam no seu DNA as características presentes no seu nascimento". O PT nasceu de movimentos anti-sistêmicos. Portanto, mesmo tendo sido maturado por 22 anos de atividade parlamentar e experiências em governos locais, é compreensível que o partido tenha lá os seus complexos e tenha tido dificuldade de se colocar como governo (tanto isso é verdade que uma parte do PT abandonou o barco);
4. Como parte do seu DNA anti-sistêmico, o PT desenvolveu um discurso de refundação do país, assim como aconteceu em outros países onde setores identificados com agendas populares ascenderam ao poder, como Bolívia, Venezuela e Equador;
5. A diferença é que, nesses casos, o países foram até as últimas consequências, inaugurando novas constituições;
6. No caso do PT, ele é a prova de que as organizações aprendem. Os 22 anos de jogo parlamentar ensinaram ao partido (e Lula em especial) a jogar conforme as regras e a optar por mudanças a partir de uma estratégia incremental (ao contrário dos vizinhos, que optaram por rupturas institucionais);
7. Ou seja, O PT possui o discurso da refundação. Mas é pragmático o suficiente para agir pela via mais compatível com a continuidade institucional (agindo de forma incremental);
8. Achei que a Dilma romperia com esse modelo e partiria novamente para as grandes reformas;
9. Tá certo que ainda é cedo para cravar (afinal, ainda não há novo congresso). Mas vejo sinais de que a agenda de reformas será mais tímida. E dá-lhe modelo incremental!
2. Ás vezes, o Delgado confunde análise de observador com análise de torcedor. Mas há coisas muito pertinentes;
3. É claro que a "doutrina" do contrismo existe. Vamos lá em Durverger: "partidos carregam no seu DNA as características presentes no seu nascimento". O PT nasceu de movimentos anti-sistêmicos. Portanto, mesmo tendo sido maturado por 22 anos de atividade parlamentar e experiências em governos locais, é compreensível que o partido tenha lá os seus complexos e tenha tido dificuldade de se colocar como governo (tanto isso é verdade que uma parte do PT abandonou o barco);
4. Como parte do seu DNA anti-sistêmico, o PT desenvolveu um discurso de refundação do país, assim como aconteceu em outros países onde setores identificados com agendas populares ascenderam ao poder, como Bolívia, Venezuela e Equador;
5. A diferença é que, nesses casos, o países foram até as últimas consequências, inaugurando novas constituições;
6. No caso do PT, ele é a prova de que as organizações aprendem. Os 22 anos de jogo parlamentar ensinaram ao partido (e Lula em especial) a jogar conforme as regras e a optar por mudanças a partir de uma estratégia incremental (ao contrário dos vizinhos, que optaram por rupturas institucionais);
7. Ou seja, O PT possui o discurso da refundação. Mas é pragmático o suficiente para agir pela via mais compatível com a continuidade institucional (agindo de forma incremental);
8. Achei que a Dilma romperia com esse modelo e partiria novamente para as grandes reformas;
9. Tá certo que ainda é cedo para cravar (afinal, ainda não há novo congresso). Mas vejo sinais de que a agenda de reformas será mais tímida. E dá-lhe modelo incremental!
20 janeiro 2011
Vamos debater o PT?
Pessoal: estou travando um debate com alguns amigos sobre o PT. O que vocês acham? Esse entrevista do Paulo Delgado (2006) reflete o estágio atual do partido?
Paulo Delgado (PT-MG):"Temo pela fraqueza institucional permanente"
por Paulo Moreira Leite, Seção: Melhor da Eleição 2006,
Tive conversas demoradas com Paulo Delgado (PT-MG), deputado que é um símbolo dentro da bancada do partido de Luiz Inácio Lula da Silva. É o mais antigo deputado federal da legenda. Também é signatário do manifesto dos 111, documento de fundação do PT. Em 2006, atingido pela onda de desprestígio que alcançou boa parte dos parlamentares da legenda, e também por uma coligação com o ex-governador Newton Cardoso que beneficiou parlamentares do PMDB em prejuízo dos petistas, Delgado não conseguiu reeleger-se – faltaram 8.000 votos.
Aos 55 anos, ele sempre foi conhecido, em Brasília, pela postura independente, pela elaboração própria – e pela disposição para dizer verdades desagradáveis dentro do partido. Nesta entrevsita ele fala sobre o escândalo do dossiê, sobre as perspectivas pós-segundo turno e sobre um partido que ajudou fundar – e onde desempenhou, nas últimas décadas, um papel de consciência crítica. A entrevista:
PERGUNTA - Como o Brasil estará no dia seguinte do segundo turno?
RESPOSTA - Temo por um risco de fraqueza institucional permanente. Declarações fortes da oposição, como a do Geraldo Aclkmin dizendo que, se for eleito, o governo Lula acaba antes de começar. Isso não é bom. O Fernando Henrique também fez declarações duras. A campanha do Lula, também é querelante e contribui para alimentar a tensão política, ao acusar a oposição de golpismo na reta final. Estamos disputando uma eleição. Só isso. Nada de governo paralelo...
PERGUNTA – Como o governo e o PT devem agir neste momento?
RESPOSTA – O PT precisa compreender que não é apenas beneficiário da democracia. Precisa assumir suas responsabilidades por ela e não apenas servir-se dela. Lula é candidato a sucessor de Lula e não do resto da história do Brasil. Nós só chegamos ao governo e disputamos a reeleição por causa da estabilidade política do país, que é uma conquista de toda sociedade.
PERGUNTA – O senhor acha que o PT tem comportado de forma errada?
RESPOSTA – Há erro de todos os lados e candidatos mas o pior é um certo toque de má reputação de alguns que se acham fora do alcance da lei. Não se pode mobilizar uma organização coletiva para defender um funcionário anfíbio que presta segurança ao governo e ao partido. Dois dos três estão errados. É este papel relevante do irrelevante que faz subir o baixo nível da campanha.
PERGUNTA – A campanha do Lula decidiu processar jornais e revistas que publicaram denuncias contra Freud Godoy, o amigo do presidente...
RESPOSTA – Contra fotos, não há argumentos. Esses processos, mesmo com base legal, são uma tentativa de interromper o trabalho de informação da imprensa. Não estou de acordo com intimidação de qualquer tipo.
PERGUNTA – O senhor fundou o PT. Como explicar a crise do PT?
RESPOSTA - A crise é do PT de negócios, do PT dos amigos. Não é a crise dos militantes, que levaram ao PT seus princípios e suas utopias. O PT só chegou aonde chegou porque existiram militantes que deram a vida a ele e não ganharam nada.
PERGUNTA - O PT pode sair dessa crise?
RESPOSTA - Há um aspecto importante nessa crise. Um governo não doutrinário exigiu um comportamento errático do PT e contou para isso com o lado errado do PT. O pragmatismo sem princípios preferiu no parlamento os políticos mercenários aos doutrinários e isto contaminou o partido. O PT serviu de mata-borrão, instrumento para apagar os erros do governo. Mas é claro que o partido foi envolvido. Para se recuperar o PT terá de deixar de ser um partido de negócios, que protege comportamentos delinquenciais, para ser um partido da democracia, aberto a quem vive de seu trabalho. O PT não é uma propriedade de alguns dirigentes. Pertence a democracia brasileira, tem deveres com ela.
PERGUNTA -Quais deveres?
RESPOSTA Não querer ser sempre a lata de barulho da política nacional nem viver essa ilusão exagerada sobre si mesmo. Afinal é contraditório estar devorado pela vaidade e não ter vergonha de errar.
PERGUNTA - Por que se chegou a esse ponto?
RESPOSTA - Vários fatores, dentre eles vender a alma a publicidade. Em política ela sempre é um péssimo testemunho para a verdade. Outro fator, o eleitoralismo sem fim, que condicionou nosso espírito público e a noção de cidadania a disputa de eleição. Conduta de combate sem doutrina acaba em gangsterismo.
PERGUNTA - O governo Lula gosta de dizer que nada ocorreu de positivo no país antes da chegada do PT ao governo.
RESPOSTA - Isso é coerente com a história de um partido que se fez do contra. Nossa doutrina é o contrismo, a desinstitucionalização que agora nos ameaça. Nessa situação, o PT desenvolveu duas reações típicas. Quando as coisas vão bem, vem a mania de grandeza, aquela que diz que o Brasil começou conosco. Quando as coisas vão mal, vem a mania de perseguição. Parece que sabemos o que é pecado, mas não compreendemos bem seu sentido. Por isso nosso governo agrada mas não satisfaz.
PERGUNTA - Como o senhor vê o papel do Lula e do PT?
RESPOSTA - Como estão, os dois não vão salvar-se. E continuarão incompatíveis como dois escorpiões na garrafa. Política pura e de grupos, pragmatismo duro e sem princípios só aceitam como interlocutores ouvintes e admiradores. A vida pública é mais complexa do que a amizade e interesse.
PERGUNTA – O presidente sabia do mensalão e da operação tabajara?
RESPOSTA --Sabendo ou não sabendo o fato existiu, envolveu petistas e é corrupção, a variante patológica do poder.
19 janeiro 2011
Isso deveria ser tema da reforma política!
Eles foram eleitos, mas não serão deputados
Pelo menos 41 parlamentares eleitos para a Câmara serão ministros ou secretários de Estado. Tomarão posse e se licenciarão em seguida. Nos Estados Unidos, eles teriam que renunciar ao mandato
Mário Coelho* (do Congresso em Foco)
Nas eleições de outubro, 5.000.874 eleitores foram responsáveis pela eleição de 41 representantes na Câmara dos Deputados. Há uma grande possibilidade de esses eleitores ficarem frustrados. Os deputados que eles elegeram sequer começarão a trabalhar no Congresso a partir do dia 2 de fevereiro. Eles trocaram o mandato de quatro anos para assumir ministérios e secretarias nos seus estados. Tomarão posse em 1º de fevereiro e, imediatamente, vão se licenciar dos cargos para começar no Executivo. Em seu lugar, assumirão outros deputados que poderão nada ter a ver com as ideias e propostas que o eleitor gostaria de ver no Parlamento.
Até o momento, o número corresponde ao total de parlamentares de primeira viagem ou reeleitos em outubro. Dos 39, seis fazem parte do primeiro escalão do governo da presidenta Dilma Rousseff. Os 33 restantes estão divididos por secretarias de 12 estados e o Distrito Federal. A quantidade pode ainda aumentar, já que Amazonas e Bahia, por exemplo, estados em que os governadores foram reeleitos, não fizeram a reforma de secretariado.
O partido que mais teve parlamentares convocados para compor o primeiro escalão dos governos locais foi o PSDB. Dez deputados aceitaram o convite para comandar pastas no Pará, em Goiás, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Depois dos tucanos, vem o PT. Sete petistas tomarão posse e depois se licenciarão dos cargos. A maior parte deles – quatro – faz parte do ministério de Dilma.
Partidos tradicionais como o PMDB e o DEM terão cinco deputados cada licenciados para secretarias. Os peemedebistas ainda conseguiram abocanhar um ministério. Pedro Novais (PMDB-MA) foi escolhido para assumir o Ministério do Turismo. Depois deles, vêm PSB (5), PP (3), PTB (2), PPS (2), PMN (1) e PR (1).
Nos estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Bahia, Ceará, Paraíba, Alagoas, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo os secretariados, até o momento, não há deputados federais entre os secretários de governo.
Levam o salário
Os deputados federais escolhidos para secretarias e ministérios podem, de acordo com a lei do funcionalismo, optar pelo salário de deputado ou do cargo para o qual foram nomeados. Em São Paulo, por exemplo, o salário de um secretário é de R$ 14.980, bem abaixo dos R$ 26.723 que os deputados terão direito a partir de fevereiro. A opção pela remuneração de parlamentar incha a folha de pagamentos do Legislativo federal, que tem de arcar com o salário do suplente e do eleito.
Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto, assumir ministérios e secretarias faz sentido do ponto de vista estratégico para os parlamentares. O especialista aponta que muitos deputados acreditam ter maior retorno para seus eleitores. “No comando, eles têm mais condições de empregar os serviços para suas bases”, disse o professor. Mas o custo dessa opção poderia ser evitado.
Barreto lembra que, nos Estados Unidos, os parlamentares que queiram assumir cargos no Executivo são obrigados a renunciar ao mandato para mudar de poder. Para Barreto, é um “estelionato” com o voto do eleitor. Além da distorção na escolha inicial do eleitor, a mistura traz outros problemas. Uma das funções dos deputados federais é fiscalizar o Poder Executivo. Diante da possibilidade de vir a integrar o governo, essa função acaba atenuada. “Como você vai vigiar, fiscalizar o Executivo, uma das atribuições do Legislativo, se você faz parte dele?”, questiona o professor.
Barreto, porém, é descrente da possibilidade de reformas que alterem essa situação. “Não vejo possibilidade de mudanças. De 1978 até 2008, não tivemos nenhuma reforma sistêmica, nem com a confecção da Constituição de 1988”, opinou.
Pelo menos 41 parlamentares eleitos para a Câmara serão ministros ou secretários de Estado. Tomarão posse e se licenciarão em seguida. Nos Estados Unidos, eles teriam que renunciar ao mandato
Mário Coelho* (do Congresso em Foco)
Nas eleições de outubro, 5.000.874 eleitores foram responsáveis pela eleição de 41 representantes na Câmara dos Deputados. Há uma grande possibilidade de esses eleitores ficarem frustrados. Os deputados que eles elegeram sequer começarão a trabalhar no Congresso a partir do dia 2 de fevereiro. Eles trocaram o mandato de quatro anos para assumir ministérios e secretarias nos seus estados. Tomarão posse em 1º de fevereiro e, imediatamente, vão se licenciar dos cargos para começar no Executivo. Em seu lugar, assumirão outros deputados que poderão nada ter a ver com as ideias e propostas que o eleitor gostaria de ver no Parlamento.
Até o momento, o número corresponde ao total de parlamentares de primeira viagem ou reeleitos em outubro. Dos 39, seis fazem parte do primeiro escalão do governo da presidenta Dilma Rousseff. Os 33 restantes estão divididos por secretarias de 12 estados e o Distrito Federal. A quantidade pode ainda aumentar, já que Amazonas e Bahia, por exemplo, estados em que os governadores foram reeleitos, não fizeram a reforma de secretariado.
O partido que mais teve parlamentares convocados para compor o primeiro escalão dos governos locais foi o PSDB. Dez deputados aceitaram o convite para comandar pastas no Pará, em Goiás, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Depois dos tucanos, vem o PT. Sete petistas tomarão posse e depois se licenciarão dos cargos. A maior parte deles – quatro – faz parte do ministério de Dilma.
Partidos tradicionais como o PMDB e o DEM terão cinco deputados cada licenciados para secretarias. Os peemedebistas ainda conseguiram abocanhar um ministério. Pedro Novais (PMDB-MA) foi escolhido para assumir o Ministério do Turismo. Depois deles, vêm PSB (5), PP (3), PTB (2), PPS (2), PMN (1) e PR (1).
Nos estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Bahia, Ceará, Paraíba, Alagoas, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo os secretariados, até o momento, não há deputados federais entre os secretários de governo.
Levam o salário
Os deputados federais escolhidos para secretarias e ministérios podem, de acordo com a lei do funcionalismo, optar pelo salário de deputado ou do cargo para o qual foram nomeados. Em São Paulo, por exemplo, o salário de um secretário é de R$ 14.980, bem abaixo dos R$ 26.723 que os deputados terão direito a partir de fevereiro. A opção pela remuneração de parlamentar incha a folha de pagamentos do Legislativo federal, que tem de arcar com o salário do suplente e do eleito.
Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto, assumir ministérios e secretarias faz sentido do ponto de vista estratégico para os parlamentares. O especialista aponta que muitos deputados acreditam ter maior retorno para seus eleitores. “No comando, eles têm mais condições de empregar os serviços para suas bases”, disse o professor. Mas o custo dessa opção poderia ser evitado.
Barreto lembra que, nos Estados Unidos, os parlamentares que queiram assumir cargos no Executivo são obrigados a renunciar ao mandato para mudar de poder. Para Barreto, é um “estelionato” com o voto do eleitor. Além da distorção na escolha inicial do eleitor, a mistura traz outros problemas. Uma das funções dos deputados federais é fiscalizar o Poder Executivo. Diante da possibilidade de vir a integrar o governo, essa função acaba atenuada. “Como você vai vigiar, fiscalizar o Executivo, uma das atribuições do Legislativo, se você faz parte dele?”, questiona o professor.
Barreto, porém, é descrente da possibilidade de reformas que alterem essa situação. “Não vejo possibilidade de mudanças. De 1978 até 2008, não tivemos nenhuma reforma sistêmica, nem com a confecção da Constituição de 1988”, opinou.
15 janeiro 2011
O tamanho da confusão: eram 22 mil comissionados no GDF!
Maquinista: toca pra Brasília!
Do Correio Braziliense:
Levantamento feito pelo Governo do Distrito Federal revela que o número de pessoas lotadas nos órgãos públicos locais era maior do que o esperado. No primeiro dia deste mês, foi anunciada a exoneração de todos os ocupantes de cargos comissionados, estimados em 18,5 mil servidores. Entretanto, estudo técnico realizado mostrou que, em alguns casos, uma mesma vaga era dividida em até outras cinco. Com isso, o total de pessoas exoneradas na prática foi de 22 mil. O limite para novas contratações será 50%. Segundo o governo, a reposição do quadro será lenta e a prioridade são os serviços de atendimento ao público.
Segundo a Secretaria de Comunicação do GDF, a subdivisão de cargos não é ilegal. A prática serve como uma manobra para ofertar mais empregos do que o previsto. Em um caso, por exemplo, a função com remuneração prevista de R$ 5 mil foi repartida em cinco vagas de R$ 1 mil. O esquema de multiplicação de cargos era um dos motivos do inchaço nos órgãos públicos. Para organizar a nova estrutura de comissionados, o governo formou um grupo de trabalho. A expectativa é que em até 60 dias saia o resultado de um estudo sobre concursos públicos e contratação de empresas prestadoras de serviço para funções que não são de chefia.
Segundo o governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), os setores que tratam diretamente com a sociedade deverão ser formados por servidores de carreira ou terceirizados. Os cargos em comissão serão destinados apenas aos coordenadores e diretores. Enquanto as contratações não são feitas, o governo irá nomear os comissionados para áreas mais prejudicadas com as exonerações. Serviços como os dos postos da Agência do Trabalhador, da Secretaria de Trabalho, e do Procon-DF e do Na Hora, da Secretaria de Justiça, serão os primeiros atendidos pelo GDF. “Vamos minimizar qualquer contratempo gerado pela falta de comissionados”, explica a secretária de Comunicação, Samanta Sallum. Outros órgãos já foram contemplados com as recontratações mais urgentes, como no caso dos diretores de escolas da rede pública de ensino, dos delegados da Polícia Civil e de técnicos da Secretaria de Saúde.
No restante, a admissão de até 11 mil comissionados será feita de forma gradual e lenta. Para poder nomear alguém para o órgão, o gestor terá de justificar a necessidade para o governador. A medida desagrada alguns secretários, que têm pressa em aparelhar as unidades. Mas a intenção de Agnelo é justamente tentar frear as contratações a fim de superar um estigma das gestões anteriores. Segundo ele, o governo estava inchado e era preciso tomar alguma medida.
“Eu só vou recompor no que for necessário para o funcionamento dessa administração, daquela secretaria, e de alguns serviços que, infelizmente, funcionam com cargos comissionados, pela distorção”, disse o petista, em uma solenidade na Polícia Militar na quinta-feira última.
Com os cortes, o governo estima gerar uma economia de R$ 40 milhões por ano aos cofres públicos. Segundo a secretária, os demais 11 mil cargos estão fora dos planos do governo e serão extintos. De toda sorte, o governo já congelou 6 mil cargos de livre provimento. A medida impede as contratações para essas vagas. A estrutura ainda conta com outras 9 mil funções para funcionários não concursados e 7 mil comissões para servidores com vínculo.
Dificuldades
As exonerações causaram contratempos para a administração local. Postos de atendimento ao público começaram o primeiro dia útil do ano com as portas fechadas ou com o funcionamento comprometido. Por conta disso, algumas nomeações foram feitas logo no dia 4 para restabelecer os serviços. Escolas públicas também ficaram sem diretores por conta do decreto do governador. Na tentativa de reconduzir os servidores, o governo acabou traído pela falha no cadastro e publicou a nomeação de uma pessoa morta em setembro de 2009. O erro foi corrigido. De acordo com nota das secretarias de Governo e de Educação, os vice-diretores dos colégios públicos serão reconduzidos até o fim da próxima semana.
Em algumas unidades hospitalares, o atendimento foi garantido por exonerados que resolveram continuar trabalhando. No Hospital Regional do Paranoá (HRP), por exemplo, 20% do quadro eram ocupados por comissionados. Na unidade de Ceilândia (HRC), a redução do número de clínicos-gerais ocasionou a falta de atendimento aos pacientes em alguns momentos dos dias. Até a Segurança Pública foi atingida pela medida. Segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol-DF), deputado distrital Wellington Luiz, os delegados foram exonerados sem nenhuma satisfação do governo, interrompendo, inclusive, andamento de inquéritos. Os delegados foram renomeados na quarta-feira.
Demanda
A assessoria da Secretaria de Trabalho garante que o atendimento nas Agências do Trabalhador será normalizado nos próximos 15 dias. As nomeações de funcionários já foram solicitadas e, a partir de terça-feira, dois servidores assumirão os postos. Das 17 agências, três estão funcionando — em Taguatinga, no Plano Piloto e em Ceilândia. Ainda de acordo com a assessoria, juntas, as três agências respondem por 73% da demanda.
13 janeiro 2011
Ótimo artigo prospectivo de Antônio Lassance!
Três cenários para Dilma
Três cenários para o governo Dilma: um cenário lulista, marcado pela radicalização do binômio crescimento com inclusão social. Um cenário paloccista, dominado pela agenda de estabilização macroeconômica. E um cenário de sarneízação, com o esgarçamento da coalizão governante, crises, antecipação sucessória e oposição extremada.
Antonio Lassance
Trabalhar com cenários futuros ainda é uma boa maneira de organizar o que está por vir na forma de um leque que cobre o que se quer ver acontecer, o que é possível ocorrer e o que se quer evitar. No caso do governo Dilma, pelo menos trës cenários podem ser vislumbrados.
O cenário ideal, ou de referência, pode ser apelidado de lulista, pois tem como traço marcante a continuidade e a radicalização (ou seja, o enraizamento e aprofundamento) das políticas públicas do governo Lula , sob o binômio crescimento com inclusão social. Seu emblema é a eliminação da miséria. Seu pressuposto é a continuidade do ciclo virtuoso que combina crescimento econômico em patamares acima da média dos últimos oito anos e a ampliação das políticas sociais universais e de equidade.
Um segundo cenário pode ser apelidado de paloccista, pois reproduziria a agenda que prevaleceu entre os anos de 2003 a 2005. Sua tônica seria o equilíbrio macroeconômico, com prioridade absoluta para o controle da inflação. Seus fundamentos seriam a manutenção da taxa de juros em patamares elevados e um rigoroso e contínuo ajuste fiscal, com corte de gastos e recordes de arrecadação tributária para a geração de superávits primários expressivos. Em paralelo, o governo dedicaria grande esforço a uma agenda permanente de reformas, várias delas tramitando de modo simultâneo: tributária (meramente simplificadora, sem mexer em sua estrutura regressiva), microeconômica, previdenciária, política, trabalhista e tantas outras possíveis e imagináveis, mas politicamente inviáveis.
Para o terceiro cenário, vamos usar como referência o governo Sarney. Como se sabe, foi um governo que chegou a contar com ampla maioria congressual, mas que se foi fragmentando. A erosão do capital político acumulado agravou-se com a instabilidade econômica. Num cenário sarneísta, o estrangulamento da sustentação política do governo inviabilizaria qualquer agenda (lulista ou paloccista) e o deixaria suscetível a crises permanentes, sem retaguarda para a sua defesa. Ao mesmo tempo, a oposição consolidaria seu viés extremista. Fortes sinais dessa possibilidade apareceram durante a campanha Serra: discurso agressivo e preconceituoso, combate sem tréguas e demonizador à pessoa da candidata (hoje presidenta) e formação de uma candidatura de oposição patrocinada e trabalhada meticulosamente pelas corporações midiáticas mais tradicionais - fenômeno que teima em reiterar-se a cada campanha eleitoral, desde 1989.
No primeiro cenário, a presidenta se valeria do caminho trilhado por Lula para consolidar um projeto político de dimensões ainda mais amplas. Como resultado, manteria bons níveis de aprovação popular, sustentação social e coesão de sua base política.
O segundo cenário retrocederia a uma situação que já se imaginava superada. O governo ficaria refém de uma agenda tímida, diante da expectativa de um salto adiante. O primeiro ano estaria reservado, assim como foi em 2003, à tarefa de arrumar a casa. Se descontextualizado da atual conjuntura, o fato tenderia a ser explorado, pela velha mídia e pela oposição, como uma contradição da imagem de céu de brigadeiro deixada por Lula. A popularidade do atual governo estaria em níveis distantes dos atingidos por Lula em seu último ano de mandato e mais próxima ao que esteve justamente entre 2003 e 2005.
O terceiro cenário resultaria da desagregação das forças que a duras penas foram reunidas em aliança para viabilizar a candidatura Dilma. O governo sofreria com uma baixa disciplina congressual, o que abortaria a possibilidade de implementar reformas importantes. Estaria obrigado a governar excessivamente por decreto, gerir sem inovar, tocar a máquina sem ousar grandes mudanças. Amargaria impopularidade e pouca vitalidade para a sua defesa na sociedade. Os partidos da base tentariam dissociar sua imagem da do governo, disputariam espaço a todo instante, para forçar reformas ministeriais, e se lançariam antecipadamente à sucessão.
Por sua vez, setores do PT encampariam um “sebastianismo” favorável à imperiosa necessidade da volta de Lula, enquanto PMDB e PSB acenariam com a possibilidade de candidaturas próprias (tal e qual na experiência do Governo Sarney, que foi solapado pela antecipação do debate sucessório e profusão de candidaturas egressas de partidos aliados). Trata-se de um quadro que não interessaria nem ao próprio Lula, pois levaria à erundinização do governo, desgastando, de roldão, a imagem do ex-presidente e do PT (tal e qual fizeram do governo Erundina, em 1989).
A rigor, cenários diferentes não são excludentes. Aliás, raramente o são. É difícil que ocorram em estado puro. É mais comum que despontem combinados, na verdade, engalfinhados, brigando um contra o outro.
Essa natureza instável e contraditória deixa o cenário que prevalece em um dado momento pronto para ser distorcido e engolido por seu reverso. A toda hora, se vê cada um deles tentando se firmar. Os que prevalecem são projetados também pelas circunstâncias. Não são objeto da vontade ou desenvoltura de um único ator político.
Lula teve que assumir um cenário paloccista entre 2003 e 2005, por conta da instabilidade econômica herdada do governo anterior, acirrada pelos temores insuflados na campanha de 2002. Da mesma forma, os temores atuais de que a economia está a um passo de fugir ao controle e de que a inflação voltou a ameaçar o sono dos brasileiros faz com que os médicos defensores do remédio amargo voltem a bater às portas do governo (a respeito, leia-se o artigo de Paulo Kliass, “Inflação: a mesma desculpa de sempre!”, na Carta Maior ).
Neste momento, os três cenários estão conflagrados, em franca disputa.
As dificuldades com o PMDB instilam o risco de o governo não contar com uma coalizão sólida no Congresso, o que impediria a presidenta de transformar seu poder de iniciativa (ancorado em suas prerrogativas) em poder de agenda (a aprovação congressual das matérias de seu interesse prioritário).
O cenário lulista tem como ponto prioritário a agenda social e desponta a cada passo que se dá em torno do plano de erradicação da miséria. Mas há ainda desafios que, se esquecidos, deixariam uma significativa agenda de mudanças na prateleira. É o caso da Consolidação das Leis Sociais e da regulamentação da Emenda 29 (que daria mais recursos à saúde, saindo da atual situação de subfinanciamento). Além disso, o PAC e a política de investimentos das estatais (Petrobras, com o pré-sal; Caixa Econômica, com o “Minha Casa, Minha Vida”; a política de crédito dos bancos públicos, entre outras), que dizem respeito à alavancagem econômica do País, carecem de uma perspectiva mais antenada com o longo prazo.
As reformas tributária, política, trabalhista e previdenciária são temas para debate. Nenhum deles projetou-se no debate eleitoral e os candidatos não os colocaram entre suas preferências. São temas mastodônticos, lentos demais por conta das inúmeras arestas federativas e jurídicas, por contrariar atores com poder de veto e contar com poucos estímulos diante da insegurança suscitada por suas mudanças.
A questão da regulação da mídia depende de uma clara demonstração de força do governo, que precisa certificar-se de que conseguirá aprovar no Congresso aquilo que pretende e segurar o “tranco” que levará se mexer no vespeiro que afeta um grande número de parlamentares - os que têm relações orgânicas com a atual configuração do sistema de concessões públicas de rádio e tv.
Consolidar um cenário favorável depende da contenção dos cenários adversos. Os primeiros cem dias são tradicionalmente o momento decisivo e definidor do que um governo pode vir a ser e de sua habilidade para tourear conflitos.
Para a presidenta Dilma, seus primeiros cem dias darão a embocadura de um governo que começou sem lua de mel, que carrega nos ombros a responsabilidade de colher o que Lula plantou e de realizar aquilo que o ex-presidente não teve tempo nem condições de concluir.
Em seu primeiro ano, um governo deve preocupar-se em fazer as coisas acontecerem, mas não pode descuidar de um requisito essencial: saber administrar as expectativas que levantou a seu respeito. A tendência é que se compare 2011 com 2010. O correto e justo, no entanto, seria comparar 2011 com 2003 - o primeiro ano de Lula com o primeiro de Dilma. A correção dessa expectativa é a primeira grande tendência que Dilma e sua equipe precisarão reverter, enquanto ainda há tempo.
É preciso lembrar que um governo, mesmo de continuidade, começa marcado por certa desaceleração, em função de um novo arranjo da coalizão governante, do assento de novos dirigentes, da realocação de sua burocracia, da redefinição de prioridades e do início de novos métodos de trabalho e de um padrão diverso de relacionamento, dentro e fora do governo. O avião pilotado por Lula pousou. O pilotado por Dilma terá necessariamente que fazer uma nova decolagem.
Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política.
Para quem estiver em Brasília!
20 de janeiro (quinta-feira), às 14:30h, no CEPPAC (UnB)
Palestra
"Metodologia qualitativa e análise estratégica do cotidiano: a proposta da Metodologia de Análise de Redes do Cotidiano –MARES”
“... As redes sociais são como os mares, formados por ondas diversas, mas que se integram oceanicamente”
Professor Paulo Henrique Martins
Paulo Henrique Martins. É doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I, Pantheon-Sorbonne (1977-1981); e pela Universidade de Paris I, Pantheon-Sorbonne (1988-1991), com pós-doutoramento na Universidade de Nanterre, Paris X (2000-2001). É professor titular do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e bolsista pesquisador 1C do CNPq. É o atual vice-presidente da Asociación Latino Americana de Sociologia – ALAS. É Coordenador do Núcleo de Cidadania e Processos de Mudança (NUCEM) da UFPE. É vice-presidente da Associação MAUSS (Mouvement Anti-Utilitariste dans les Sciences Sociales) e colaborador da Revue du MAUSS (França). É membro dos conselhos editoriais das revistas: Revue Culture et Société (Strasbourg - França), Política & Trabalho (Paraiba); Revista de Sociologia Política (Santa Catarina) e Estudos de Sociologia (Pernambuco). Nas suas atividades, articula de forma interdisciplinar os estudos sobre a dádiva, buscando diálogo permanente com a antropologia, a política e a psicologia. Seus estudos em Teoria Social, Sociologia da Saúde e Sociologia do Poder revelam frequentemente os seguintes indicadores: dádiva, cidadania, democracia, solidariedade, políticas públicas, saúde e cultura.
Palestra
"Metodologia qualitativa e análise estratégica do cotidiano: a proposta da Metodologia de Análise de Redes do Cotidiano –MARES”
“... As redes sociais são como os mares, formados por ondas diversas, mas que se integram oceanicamente”
Professor Paulo Henrique Martins
Paulo Henrique Martins. É doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I, Pantheon-Sorbonne (1977-1981); e pela Universidade de Paris I, Pantheon-Sorbonne (1988-1991), com pós-doutoramento na Universidade de Nanterre, Paris X (2000-2001). É professor titular do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e bolsista pesquisador 1C do CNPq. É o atual vice-presidente da Asociación Latino Americana de Sociologia – ALAS. É Coordenador do Núcleo de Cidadania e Processos de Mudança (NUCEM) da UFPE. É vice-presidente da Associação MAUSS (Mouvement Anti-Utilitariste dans les Sciences Sociales) e colaborador da Revue du MAUSS (França). É membro dos conselhos editoriais das revistas: Revue Culture et Société (Strasbourg - França), Política & Trabalho (Paraiba); Revista de Sociologia Política (Santa Catarina) e Estudos de Sociologia (Pernambuco). Nas suas atividades, articula de forma interdisciplinar os estudos sobre a dádiva, buscando diálogo permanente com a antropologia, a política e a psicologia. Seus estudos em Teoria Social, Sociologia da Saúde e Sociologia do Poder revelam frequentemente os seguintes indicadores: dádiva, cidadania, democracia, solidariedade, políticas públicas, saúde e cultura.
12 janeiro 2011
Nuestra America!
Tendencias electorales en América Latina
DANIEL ZOVATTO / ROGELIO NÚÑEZ 08/01/2011. El PAIS
En América Latina, 2010 ha sido un año apasionante en términos electorales. No solo por el elevado número de comicios sino porque varios de ellos tuvieron una significación especial: Chile puso fin a 20 años de Gobiernos de la Concertación; en Colombia se produjo el fin de la época de Álvaro Uribe y la de Lula da Silva en Brasil, y las legislativas de Venezuela mostraron un importante avance de la oposición frente al chavismo. Haití, por su parte, celebró elecciones presidenciales sin que ningún candidato lograra ganar en la primera ronda. El próximo mandatario deberá ser electo en una segunda vuelta, prevista para los primeros meses de 2011, entre el oficialista Jude Celestin y la opositora y ex primera dama Mirlande Manigat.
Estas citas se inscriben dentro de la nueva ola de elecciones que dio inicio en 2009 y que culminará en 2012. Durante este periodo, todos los países (salvo Paraguay, cuya elección presidencial será en 2013) celebrarán elecciones presidenciales y legislativas.
El comportamiento del electorado fue pragmático y moderado: eludió opciones radicales y optó por la continuidad que garantizaba estabilidad y progreso económico. Este comportamiento electoral que da preferencia a las opciones de centro se vio favorecido por el buen momento económico que vive América Latina y el crecimiento de la clase media. Si en 2009 Latinoamérica experimentó una caída del PIB cercano al 2%, para 2010 se prevé un crecimiento en torno al 5,5% y en 2011 entre el 3% y 4%, según los informes de la CEPAL y el FMI.
Los comicios de 2010 deben verse en perspectiva, considerando lo ocurrido en 2009, año que se caracterizó por una América Latina heterogénea políticamente, donde cabe destacar las siguientes dos tendencias: 1) Fortalecimiento de las opciones de "izquierda" (reelecciones de Rafael Correa en Ecuador y de Evo Morales en Bolivia, victorias de José Mujica en Uruguay, de Mauricio Funes en El Salvador y de Hugo Chávez en el referéndum), a las cuales se le sumó en 2010 la victoria de Dilma Rousseff. 2) Avance de las alternativas de centroderecha y centro (Ricardo Martinelli en Panamá y Porfirio Lobo en Honduras), que continuó en 2010 con los triunfos de Sebastián Piñera en Chile, de Juan Manuel Santos en Colombia y de Laura Chinchilla en Costa Rica. Sin embargo, debemos ser cuidadosos y evitar hacer generalizaciones, que solo conducen a equívocos.
Si bien en 2010 no hubo reeleccionismo, como en 2009, la tendencia principal fue el continuismo. Los candidatos oficialistas (Santos en Colombia, Chinchilla en Costa Rica y Rousseff en Brasil) apoyados por los presidentes en ejercicio (Uribe en Colombia, Arias en Costa Rica y Lula en Brasil) acabaron ganando las presidenciales. Chile fue el único país donde se produjo la alternancia en el poder, pues la centroderecha encabezada por Sebastián Piñera volvió al Palacio de la Moneda después de 50 años, tras dos décadas de Gobiernos de la Concertación.
En cuanto a tendencias, en 2010 la región se inclinó claramente hacia opciones de centro: tanto de centroderecha (Piñera en Chile, Santos en Colombia, avance opositor en Venezuela), como de centro (Chinchilla en Costa Rica o el PLD en República Dominicana) así como de centro izquierda (Rousseff en Brasil). En la mayoría de los casos, estos nuevos Gobiernos contarán con mayoría suficiente en sus Parlamentos (Hugo Chávez, Leonel Fernández y Juan Manuel Santos obtuvieron mayorías absolutas), si bien es cierto que Santos lidera una coalición de fuerzas muy heterogénea que controla casi el 80% del Congreso y que Chávez no logró su objetivo de alcanzar los dos tercios de los escaños. En Chile, por el contrario, el Gobierno de Piñera no cuenta con mayoría suficiente en ambas Cámaras por lo que deberá pactar con la Concertación o con grupos minoritarios. Lo mismo sucede con Chinchilla en Costa Rica, que ha tenido que alcanzar acuerdos con los grupos opositores. Rousseff, en Brasil, tendrá una cómoda mayoría, ya que la coalición que la respalda aumentó su representación en el Senado y el Congreso. Además, tendrá el apoyo de 16 de 27 gobernadores. Sus desafíos vendrán probablemente de su propia coalición.
La inseguridad se ha consolidado como tema central de las elecciones en América Latina, lo cual no es de extrañar en una región que con el 8,5% de la población mundial registra el 27% de los homicidios a nivel global.
Por último, parecería que en algunos países se perfila un nuevo fenómeno político (encarnado en Chile por Marco Enríquez-Ominami, en Colombia por Antanas Mockus y en Brasil por Marina Silva) que persigue la renovación del sistema político y rechaza las maquinarias partidistas que se muestran incapaces de captar a los nuevos sectores de votantes.
En tanto la buena marcha de la economía en América Latina aportaba pragmatismo, moderación y preferencia por opciones de centro, y ayudaba al continuismo (sin reelección), en Estados Unidos el presidente Obama sufría, en las elecciones de medio periodo del pasado mes de noviembre, un serio revés como consecuencia de la crisis económica que aún tiene sin empleo a casi el 10% de la población económicamente activa.
Daniel Zovatto es director regional para América Latina de International IDEA.
Rogelio Núñez Castellano es director adjunto de Infolatam y profesor doctor de la Universidad Camilo José Cela.
DANIEL ZOVATTO / ROGELIO NÚÑEZ 08/01/2011. El PAIS
En América Latina, 2010 ha sido un año apasionante en términos electorales. No solo por el elevado número de comicios sino porque varios de ellos tuvieron una significación especial: Chile puso fin a 20 años de Gobiernos de la Concertación; en Colombia se produjo el fin de la época de Álvaro Uribe y la de Lula da Silva en Brasil, y las legislativas de Venezuela mostraron un importante avance de la oposición frente al chavismo. Haití, por su parte, celebró elecciones presidenciales sin que ningún candidato lograra ganar en la primera ronda. El próximo mandatario deberá ser electo en una segunda vuelta, prevista para los primeros meses de 2011, entre el oficialista Jude Celestin y la opositora y ex primera dama Mirlande Manigat.
Estas citas se inscriben dentro de la nueva ola de elecciones que dio inicio en 2009 y que culminará en 2012. Durante este periodo, todos los países (salvo Paraguay, cuya elección presidencial será en 2013) celebrarán elecciones presidenciales y legislativas.
El comportamiento del electorado fue pragmático y moderado: eludió opciones radicales y optó por la continuidad que garantizaba estabilidad y progreso económico. Este comportamiento electoral que da preferencia a las opciones de centro se vio favorecido por el buen momento económico que vive América Latina y el crecimiento de la clase media. Si en 2009 Latinoamérica experimentó una caída del PIB cercano al 2%, para 2010 se prevé un crecimiento en torno al 5,5% y en 2011 entre el 3% y 4%, según los informes de la CEPAL y el FMI.
Los comicios de 2010 deben verse en perspectiva, considerando lo ocurrido en 2009, año que se caracterizó por una América Latina heterogénea políticamente, donde cabe destacar las siguientes dos tendencias: 1) Fortalecimiento de las opciones de "izquierda" (reelecciones de Rafael Correa en Ecuador y de Evo Morales en Bolivia, victorias de José Mujica en Uruguay, de Mauricio Funes en El Salvador y de Hugo Chávez en el referéndum), a las cuales se le sumó en 2010 la victoria de Dilma Rousseff. 2) Avance de las alternativas de centroderecha y centro (Ricardo Martinelli en Panamá y Porfirio Lobo en Honduras), que continuó en 2010 con los triunfos de Sebastián Piñera en Chile, de Juan Manuel Santos en Colombia y de Laura Chinchilla en Costa Rica. Sin embargo, debemos ser cuidadosos y evitar hacer generalizaciones, que solo conducen a equívocos.
Si bien en 2010 no hubo reeleccionismo, como en 2009, la tendencia principal fue el continuismo. Los candidatos oficialistas (Santos en Colombia, Chinchilla en Costa Rica y Rousseff en Brasil) apoyados por los presidentes en ejercicio (Uribe en Colombia, Arias en Costa Rica y Lula en Brasil) acabaron ganando las presidenciales. Chile fue el único país donde se produjo la alternancia en el poder, pues la centroderecha encabezada por Sebastián Piñera volvió al Palacio de la Moneda después de 50 años, tras dos décadas de Gobiernos de la Concertación.
En cuanto a tendencias, en 2010 la región se inclinó claramente hacia opciones de centro: tanto de centroderecha (Piñera en Chile, Santos en Colombia, avance opositor en Venezuela), como de centro (Chinchilla en Costa Rica o el PLD en República Dominicana) así como de centro izquierda (Rousseff en Brasil). En la mayoría de los casos, estos nuevos Gobiernos contarán con mayoría suficiente en sus Parlamentos (Hugo Chávez, Leonel Fernández y Juan Manuel Santos obtuvieron mayorías absolutas), si bien es cierto que Santos lidera una coalición de fuerzas muy heterogénea que controla casi el 80% del Congreso y que Chávez no logró su objetivo de alcanzar los dos tercios de los escaños. En Chile, por el contrario, el Gobierno de Piñera no cuenta con mayoría suficiente en ambas Cámaras por lo que deberá pactar con la Concertación o con grupos minoritarios. Lo mismo sucede con Chinchilla en Costa Rica, que ha tenido que alcanzar acuerdos con los grupos opositores. Rousseff, en Brasil, tendrá una cómoda mayoría, ya que la coalición que la respalda aumentó su representación en el Senado y el Congreso. Además, tendrá el apoyo de 16 de 27 gobernadores. Sus desafíos vendrán probablemente de su propia coalición.
La inseguridad se ha consolidado como tema central de las elecciones en América Latina, lo cual no es de extrañar en una región que con el 8,5% de la población mundial registra el 27% de los homicidios a nivel global.
Por último, parecería que en algunos países se perfila un nuevo fenómeno político (encarnado en Chile por Marco Enríquez-Ominami, en Colombia por Antanas Mockus y en Brasil por Marina Silva) que persigue la renovación del sistema político y rechaza las maquinarias partidistas que se muestran incapaces de captar a los nuevos sectores de votantes.
En tanto la buena marcha de la economía en América Latina aportaba pragmatismo, moderación y preferencia por opciones de centro, y ayudaba al continuismo (sin reelección), en Estados Unidos el presidente Obama sufría, en las elecciones de medio periodo del pasado mes de noviembre, un serio revés como consecuencia de la crisis económica que aún tiene sin empleo a casi el 10% de la población económicamente activa.
Daniel Zovatto es director regional para América Latina de International IDEA.
Rogelio Núñez Castellano es director adjunto de Infolatam y profesor doctor de la Universidad Camilo José Cela.
11 janeiro 2011
Clima de ódio! Tradução!
Quando você ouviu sobre a terrível notícia do Arizona, você realmente se surpreendeu? Ou, de certo modo, já esperava que uma atrocidade assim aconteceria?
Coloque-me na segunda categoria. Eu já tinha uma sensação ruim desde os estágios finais da campanha de 2008. Eu me lembro do aumento do ódio político após a eleição de Bill Clinton em 1992 –um aumento que culminou no atentado a bomba de Oklahoma City. E como você podia ver, ao assistir as multidões nos comícios de McCain-Palin, que aquilo estava pronto para acontecer de novo. O Departamento de Segurança Interna chegou à mesma conclusão: em abril de 2009, um relatório interno alertou que o extremismo de direita estava em ascensão, com um potencial crescente de violência.
Os conservadores condenaram o relatório. Mas de fato há um aumento de ameaças e vandalismos contra autoridades eleitas, incluindo o juiz John Roll, que foi morto no sábado, e a deputada Gabrielle Giffords. Algum dia alguém a levaria ao próximo nível. E agora alguém levou.
É verdade que o atirador no Arizona parece ter problemas mentais. Mas isso não significa que seu ato possa ou deva ser tratado como um evento isolado, totalmente separado do clima nacional.
No ano passado, o “Politico.com” relatou um aumento das ameaças contra membros do Congresso, que já tinham aumentado em 300%. Várias pessoas fazendo essas ameaças tinham um histórico de doença mental –mas algo ligado ao atual estado da América tem feito com que mais pessoas perturbadas do que antes exprimam sua doença por meio de ameaças, ou execução, de violência política.
E não há muita dúvida a respeito do que mudou. Como colocou Clarence Dupnik, o xerife responsável pelo caso do atentado no Arizona, é “a retórica corrosiva que ouvimos diariamente de pessoas no rádio e na TV”. A grande maioria das pessoas que ouve essa retórica tóxica não chega à violência de fato, mas algumas, inevitavelmente, cruzam essa linha.
É importante deixar claro aqui a natureza de nossa doença. Não é uma falta geral de “civilidade”, o termo favorito dos estudiosos que querem eliminar com um passe de mágica desentendimentos políticos fundamentais. Cortesia pode ser uma virtude, mas há uma grande diferença entre maus modos e chamados, explícitos ou implícitos, para violência; insultos não são o mesmo que incitação.
O fato é que há espaço em uma democracia para pessoas que ridicularizam e condenam aqueles que discordam delas. Mas não há lugar para retórica eliminacionista, para sugestões de que o outro lado do debate deve ser removido do debate por qualquer meio necessário.
E é a saturação em nosso discurso político –e especialmente na radiodifusão– da retórica eliminacionista que está por trás da maré crescente de violência.
De onde vem essa retórica tóxica? Não vamos fingir um falso equilíbrio: ela vem predominantemente da direita. É difícil imaginar um membro democrata do Congresso incitando os eleitores a se tornarem “armados e perigosos” sem que seja proscrito; mas a deputada Michele Bachmann, que acabou de fazer isso, é uma estrela em ascensão do Partido Republicano.
E há um contraste imenso na mídia. Escute Rachel Maddow ou Keith Olbermann e você ouvirá muitos dos comentários cáusticos e zombaria voltados contra os republicanos. Mas você não ouvirá piadas sobre atirar contra autoridades do governo ou decapitação de um jornalista do “Washington Post”. Mas se escutar Glenn Beck ou Bill O’Reilly, você ouvirá.
É claro, pessoas como Beck e O’Reilly estão respondendo à demanda popular. Os cidadãos de outras democracias podem se maravilhar com a psique americana, com a forma como os esforços de presidentes levemente liberais para expandir a cobertura de saúde são recebidos com gritos de tirania e conversa de resistência armada. Ainda assim, é isso o que acontece sempre que um democrata ocupa a Casa Branca e há um mercado para qualquer um disposto a incitar essa raiva.
Mas mesmo se o ódio é o que muitos desejam ouvir, isso não serve como desculpa para aqueles que exploram esse desejo. Eles devem ser evitados por todas as pessoas decentes.
Infelizmente, não é isso o que está acontecendo: os fornecedores de ódio têm sido tratados com respeito, até mesmo deferência, pelo establishment republicano. Como colocou David Frum, o ex-redator de discursos de Bush, “os republicanos pensavam originalmente que a Fox trabalhava para nós, e agora estamos descobrindo que nós trabalhamos para a Fox”.
O massacre no Arizona tornará nosso discurso menos tóxico? Isso é algo que realmente depende dos líderes republicanos. Eles aceitarão a realidade do que está acontecendo na América e se posicionarão contra a retórica eliminacionista? Ou tentarão desdenhar o massacre como sendo apenas o ato de um indivíduo demente e continuar da mesma forma que antes?
Se o Arizona promover uma verdadeira autoanálise, isso poderá ser um momento de virada. Caso contrário, a atrocidade de sábado será apenas o começo.
Tradução: George El Khouri Andolfato
Coloque-me na segunda categoria. Eu já tinha uma sensação ruim desde os estágios finais da campanha de 2008. Eu me lembro do aumento do ódio político após a eleição de Bill Clinton em 1992 –um aumento que culminou no atentado a bomba de Oklahoma City. E como você podia ver, ao assistir as multidões nos comícios de McCain-Palin, que aquilo estava pronto para acontecer de novo. O Departamento de Segurança Interna chegou à mesma conclusão: em abril de 2009, um relatório interno alertou que o extremismo de direita estava em ascensão, com um potencial crescente de violência.
Os conservadores condenaram o relatório. Mas de fato há um aumento de ameaças e vandalismos contra autoridades eleitas, incluindo o juiz John Roll, que foi morto no sábado, e a deputada Gabrielle Giffords. Algum dia alguém a levaria ao próximo nível. E agora alguém levou.
É verdade que o atirador no Arizona parece ter problemas mentais. Mas isso não significa que seu ato possa ou deva ser tratado como um evento isolado, totalmente separado do clima nacional.
No ano passado, o “Politico.com” relatou um aumento das ameaças contra membros do Congresso, que já tinham aumentado em 300%. Várias pessoas fazendo essas ameaças tinham um histórico de doença mental –mas algo ligado ao atual estado da América tem feito com que mais pessoas perturbadas do que antes exprimam sua doença por meio de ameaças, ou execução, de violência política.
E não há muita dúvida a respeito do que mudou. Como colocou Clarence Dupnik, o xerife responsável pelo caso do atentado no Arizona, é “a retórica corrosiva que ouvimos diariamente de pessoas no rádio e na TV”. A grande maioria das pessoas que ouve essa retórica tóxica não chega à violência de fato, mas algumas, inevitavelmente, cruzam essa linha.
É importante deixar claro aqui a natureza de nossa doença. Não é uma falta geral de “civilidade”, o termo favorito dos estudiosos que querem eliminar com um passe de mágica desentendimentos políticos fundamentais. Cortesia pode ser uma virtude, mas há uma grande diferença entre maus modos e chamados, explícitos ou implícitos, para violência; insultos não são o mesmo que incitação.
O fato é que há espaço em uma democracia para pessoas que ridicularizam e condenam aqueles que discordam delas. Mas não há lugar para retórica eliminacionista, para sugestões de que o outro lado do debate deve ser removido do debate por qualquer meio necessário.
E é a saturação em nosso discurso político –e especialmente na radiodifusão– da retórica eliminacionista que está por trás da maré crescente de violência.
De onde vem essa retórica tóxica? Não vamos fingir um falso equilíbrio: ela vem predominantemente da direita. É difícil imaginar um membro democrata do Congresso incitando os eleitores a se tornarem “armados e perigosos” sem que seja proscrito; mas a deputada Michele Bachmann, que acabou de fazer isso, é uma estrela em ascensão do Partido Republicano.
E há um contraste imenso na mídia. Escute Rachel Maddow ou Keith Olbermann e você ouvirá muitos dos comentários cáusticos e zombaria voltados contra os republicanos. Mas você não ouvirá piadas sobre atirar contra autoridades do governo ou decapitação de um jornalista do “Washington Post”. Mas se escutar Glenn Beck ou Bill O’Reilly, você ouvirá.
É claro, pessoas como Beck e O’Reilly estão respondendo à demanda popular. Os cidadãos de outras democracias podem se maravilhar com a psique americana, com a forma como os esforços de presidentes levemente liberais para expandir a cobertura de saúde são recebidos com gritos de tirania e conversa de resistência armada. Ainda assim, é isso o que acontece sempre que um democrata ocupa a Casa Branca e há um mercado para qualquer um disposto a incitar essa raiva.
Mas mesmo se o ódio é o que muitos desejam ouvir, isso não serve como desculpa para aqueles que exploram esse desejo. Eles devem ser evitados por todas as pessoas decentes.
Infelizmente, não é isso o que está acontecendo: os fornecedores de ódio têm sido tratados com respeito, até mesmo deferência, pelo establishment republicano. Como colocou David Frum, o ex-redator de discursos de Bush, “os republicanos pensavam originalmente que a Fox trabalhava para nós, e agora estamos descobrindo que nós trabalhamos para a Fox”.
O massacre no Arizona tornará nosso discurso menos tóxico? Isso é algo que realmente depende dos líderes republicanos. Eles aceitarão a realidade do que está acontecendo na América e se posicionarão contra a retórica eliminacionista? Ou tentarão desdenhar o massacre como sendo apenas o ato de um indivíduo demente e continuar da mesma forma que antes?
Se o Arizona promover uma verdadeira autoanálise, isso poderá ser um momento de virada. Caso contrário, a atrocidade de sábado será apenas o começo.
Tradução: George El Khouri Andolfato
Clima de ódio!
Paul Krugman responsabilizou hoje, em artigo publicado no NYT, alguns políticos e órgãos de comunicação de extrema direita de criarem um clima político "de ódio". Se a máxima "a carapuça serviu" é verdadeira, pode-se dizer que Sarah Palin acusou o golpe e vislumbrou no caminho perigoso em que entrou. Ontem divulgou carta aberta lida pelo canal Fox News no qual condenava o ataque e dizia "odiar a violência". Fato: o tea party não prega a violência. Mas utiliza muitas analogias violentas (talvez por uma questão de marketing) e adota uma estratégia de descredenciar pessoalmente os adversários e propor sua retirada da arena política, ao invés de manter o debate no campo das idéias e discursos.
Climate of Hate - Paul Krugman
When you heard the terrible news from Arizona, were you completely surprised? Or were you, at some level, expecting something like this atrocity to happen?
Put me in the latter category. I’ve had a sick feeling in the pit of my stomach ever since the final stages of the 2008 campaign. I remembered the upsurge in political hatred after Bill Clinton’s election in 1992 — an upsurge that culminated in the Oklahoma City bombing. And you could see, just by watching the crowds at McCain-Palin rallies, that it was ready to happen again. The Department of Homeland Security reached the same conclusion: in April 2009 an internal report warned that right-wing extremism was on the rise, with a growing potential for violence.
Conservatives denounced that report. But there has, in fact, been a rising tide of threats and vandalism aimed at elected officials, including both Judge John Roll, who was killed Saturday, and Representative Gabrielle Giffords. One of these days, someone was bound to take it to the next level. And now someone has.
It’s true that the shooter in Arizona appears to have been mentally troubled. But that doesn’t mean that his act can or should be treated as an isolated event, having nothing to do with the national climate.
Last spring Politico.com reported on a surge in threats against members of Congress, which were already up by 300 percent. A number of the people making those threats had a history of mental illness — but something about the current state of America has been causing far more disturbed people than before to act out their illness by threatening, or actually engaging in, political violence.
And there’s not much question what has changed. As Clarence Dupnik, the sheriff responsible for dealing with the Arizona shootings, put it, it’s “the vitriolic rhetoric that we hear day in and day out from people in the radio business and some people in the TV business.” The vast majority of those who listen to that toxic rhetoric stop short of actual violence, but some, inevitably, cross that line.
It’s important to be clear here about the nature of our sickness. It’s not a general lack of “civility,” the favorite term of pundits who want to wish away fundamental policy disagreements. Politeness may be a virtue, but there’s a big difference between bad manners and calls, explicit or implicit, for violence; insults aren’t the same as incitement.
The point is that there’s room in a democracy for people who ridicule and denounce those who disagree with them; there isn’t any place for eliminationist rhetoric, for suggestions that those on the other side of a debate must be removed from that debate by whatever means necessary.
And it’s the saturation of our political discourse — and especially our airwaves — with eliminationist rhetoric that lies behind the rising tide of violence.
Where’s that toxic rhetoric coming from? Let’s not make a false pretense of balance: it’s coming, overwhelmingly, from the right. It’s hard to imagine a Democratic member of Congress urging constituents to be “armed and dangerous” without being ostracized; but Representative Michele Bachmann, who did just that, is a rising star in the G.O.P.
And there’s a huge contrast in the media. Listen to Rachel Maddow or Keith Olbermann, and you’ll hear a lot of caustic remarks and mockery aimed at Republicans. But you won’t hear jokes about shooting government officials or beheading a journalist at The Washington Post. Listen to Glenn Beck or Bill O’Reilly, and you will.
Of course, the likes of Mr. Beck and Mr. O’Reilly are responding to popular demand. Citizens of other democracies may marvel at the American psyche, at the way efforts by mildly liberal presidents to expand health coverage are met with cries of tyranny and talk of armed resistance. Still, that’s what happens whenever a Democrat occupies the White House, and there’s a market for anyone willing to stoke that anger.
But even if hate is what many want to hear, that doesn’t excuse those who pander to that desire. They should be shunned by all decent people.
Unfortunately, that hasn’t been happening: the purveyors of hate have been treated with respect, even deference, by the G.O.P. establishment. As David Frum, the former Bush speechwriter, has put it, “Republicans originally thought that Fox worked for us and now we’re discovering we work for Fox.”
So will the Arizona massacre make our discourse less toxic? It’s really up to G.O.P. leaders. Will they accept the reality of what’s happening to America, and take a stand against eliminationist rhetoric? Or will they try to dismiss the massacre as the mere act of a deranged individual, and go on as before?
If Arizona promotes some real soul-searching, it could prove a turning point. If it doesn’t, Saturday’s atrocity will be just the beginning.
Climate of Hate - Paul Krugman
When you heard the terrible news from Arizona, were you completely surprised? Or were you, at some level, expecting something like this atrocity to happen?
Put me in the latter category. I’ve had a sick feeling in the pit of my stomach ever since the final stages of the 2008 campaign. I remembered the upsurge in political hatred after Bill Clinton’s election in 1992 — an upsurge that culminated in the Oklahoma City bombing. And you could see, just by watching the crowds at McCain-Palin rallies, that it was ready to happen again. The Department of Homeland Security reached the same conclusion: in April 2009 an internal report warned that right-wing extremism was on the rise, with a growing potential for violence.
Conservatives denounced that report. But there has, in fact, been a rising tide of threats and vandalism aimed at elected officials, including both Judge John Roll, who was killed Saturday, and Representative Gabrielle Giffords. One of these days, someone was bound to take it to the next level. And now someone has.
It’s true that the shooter in Arizona appears to have been mentally troubled. But that doesn’t mean that his act can or should be treated as an isolated event, having nothing to do with the national climate.
Last spring Politico.com reported on a surge in threats against members of Congress, which were already up by 300 percent. A number of the people making those threats had a history of mental illness — but something about the current state of America has been causing far more disturbed people than before to act out their illness by threatening, or actually engaging in, political violence.
And there’s not much question what has changed. As Clarence Dupnik, the sheriff responsible for dealing with the Arizona shootings, put it, it’s “the vitriolic rhetoric that we hear day in and day out from people in the radio business and some people in the TV business.” The vast majority of those who listen to that toxic rhetoric stop short of actual violence, but some, inevitably, cross that line.
It’s important to be clear here about the nature of our sickness. It’s not a general lack of “civility,” the favorite term of pundits who want to wish away fundamental policy disagreements. Politeness may be a virtue, but there’s a big difference between bad manners and calls, explicit or implicit, for violence; insults aren’t the same as incitement.
The point is that there’s room in a democracy for people who ridicule and denounce those who disagree with them; there isn’t any place for eliminationist rhetoric, for suggestions that those on the other side of a debate must be removed from that debate by whatever means necessary.
And it’s the saturation of our political discourse — and especially our airwaves — with eliminationist rhetoric that lies behind the rising tide of violence.
Where’s that toxic rhetoric coming from? Let’s not make a false pretense of balance: it’s coming, overwhelmingly, from the right. It’s hard to imagine a Democratic member of Congress urging constituents to be “armed and dangerous” without being ostracized; but Representative Michele Bachmann, who did just that, is a rising star in the G.O.P.
And there’s a huge contrast in the media. Listen to Rachel Maddow or Keith Olbermann, and you’ll hear a lot of caustic remarks and mockery aimed at Republicans. But you won’t hear jokes about shooting government officials or beheading a journalist at The Washington Post. Listen to Glenn Beck or Bill O’Reilly, and you will.
Of course, the likes of Mr. Beck and Mr. O’Reilly are responding to popular demand. Citizens of other democracies may marvel at the American psyche, at the way efforts by mildly liberal presidents to expand health coverage are met with cries of tyranny and talk of armed resistance. Still, that’s what happens whenever a Democrat occupies the White House, and there’s a market for anyone willing to stoke that anger.
But even if hate is what many want to hear, that doesn’t excuse those who pander to that desire. They should be shunned by all decent people.
Unfortunately, that hasn’t been happening: the purveyors of hate have been treated with respect, even deference, by the G.O.P. establishment. As David Frum, the former Bush speechwriter, has put it, “Republicans originally thought that Fox worked for us and now we’re discovering we work for Fox.”
So will the Arizona massacre make our discourse less toxic? It’s really up to G.O.P. leaders. Will they accept the reality of what’s happening to America, and take a stand against eliminationist rhetoric? Or will they try to dismiss the massacre as the mere act of a deranged individual, and go on as before?
If Arizona promotes some real soul-searching, it could prove a turning point. If it doesn’t, Saturday’s atrocity will be just the beginning.
10 janeiro 2011
USA: em rota de colisão consigo mesmo! Texto de Márcia Denser, colunista do Congresso em Foco!
Pessoal: texto lúcido sobre um perigo eminente. O radicalismo político está tomando conta da cena política estadunidense. Veja o crescimento do tea party! A comoção que permitiu o crescimento de Obama, agora, vira à direita com a caricata Sarah Palin. As consequências dessa luta ideológica serão sentidas globalmente.
Parece que um dos temas em pauta no início de 2011 é a política interna dos Estados Unidos, o que naturalmente interessa ao resto do mundo. A respeito, Jeffrey Sachs (professor de economia na Universidade de Colúmbia, USA) na SinPermiso, usa uma expressão engraçada: os Estados Unidos estão em rota de colisão consigo mesmo. O que significa uma política suicidária que quer favorecer os ricos a qualquer preço, degradando mais e mais o resto do povo americano.
Sachs argumenta que o problema é a política corrupta e a perda de moral cívica dos EUA. O partido Republicano aposta em reduzir os impostos, objetivo que coloca acima de qualquer outro. Os democratas têm um leque mais amplo de interesses, como o apoio ao serviço de saúde, a educação, a formação e a infraestrutura. Mas, assim como os republicanos, os democratas também estão interessados em presentear com cortes de impostos seus grandes contribuintes de campanha, entre os quais predominam os estadunidenses ricos.
Já Paul Krugman, no The New York Times, é mais contundente. No artigo "Quando os mortos-vivos vencem", ele diz: “Os fundamentalistas do mercado erraram sobre tudo — ainda assim eles dominam a cena política mais completamente que nunca. Como isso aconteceu? Todos entendemos a necessidade de fazer acordos com inimigos políticos. Mas uma coisa é fazer acordo para adiantar seus objetivos; outra é abrir as portas para as idéias dos mortos-vivos. Quando você faz esta concessão, os mortos-vivos acabam comendo o seu cérebro — e possivelmente também a sua economia.”
Segundo ele, quando historiadores olharem de volta o período 2008-10, o que mais vai intrigá-los é o estranho triunfo das idéias falidas. Como, depois que bancos descontrolados colocaram a economia de joelhos, ouvimos Ron Paul dizendo “não penso que precisamos de regulamentação” ao assumir um comitê-chave do Congresso que vigia o Banco Central?
A resposta da direita é que os fracassos econômicos do governo Obama mostram que as políticas de “grande governo” não funcionam. Mas a resposta a eles deveria ser: que política de grande governo? Pois o fato é que o estímulo econômico de Obama — que em si era quase 40% baseado em cortes de impostos — foi muito cauteloso para dar uma guinada na economia. Uma política que reduziu empregos públicos e na qual os gastos do governo em bens e serviços cresceram mais devagar que durante os anos Bush não constitui exatamente um teste de economia keynesiana.
No entanto, tudo o que a direita falou sobre os motivos do fracasso da Obamanomics estava errado. Por dois anos, disseram que os empréstimos do governo fariam disparar os juros; na verdade, as taxas se mantiveram baixas se comparadas a padrões históricos. Durante dois anos, os neocon alertaram que a inflação e até mesmo a hiperinflação voltariam; em vez disso, a deflação continuou, com a inflação básica sendo a menor do último meio século.
Mas tais fracassos não parecem importar. A crise deveria ter nos matado, mas não matou, estamos ainda — talvez mais que nunca — sendo governados pela “economia dos mortos-vivos”. Por quê? Parte da resposta, certamente, é que as pessoas que deveriam ter matado as idéias mortas-vivas, tentaram, em vez disso, fazer acordo com elas, isto é, com o Demônio. E isso é especialmente verdadeiro do presidente Obama.
As pessoas esquecem que Ronald Reagan muitas vezes cedeu em questões políticas de substância — mais notadamente, ele aprovou vários aumentos de impostos. Mas nunca “amoleceu” quando se tratava de idéias (ou ideologia) – nunca recuou de que sua posição ideológica estava certa e a dos adversários, errada.
Mas o presidente Obama, ao contrário, tem insistentemente tentado fazer acordo com o outro lado, dando cobertura aos mitos da direita. Ele felicitou Reagan por restaurar o dinamismo dos Estados Unidos (quando foi a última vez que você ouviu um republicano elogiando Roosevelt?), adotou a retórica da oposição sobre a necessidade do governo de apertar o cinto, mesmo diante da recessão e ofereceu congelamento simbólico de gastos e salários federais.
Nada disso fez com que a direita deixasse de denunciá-lo como socialista. Mas essa postura ajudou a dar poder a idéias ruins, de forma que elas podem causar danos imediatos. Neste momento, Obama está saudando o acordo para corte de impostos [dos ricos] como uma forma de estimular a economia — mas os republicanos já estão falando em cortes de gastos do governo que acabariam com qualquer estímulo resultante do acordo. E como é que ele pode enfrentar os republicanos se ele mesmo abraçou a retórica de apertar o cinto?
Sim, política é a arte do possível. Todos entendemos a necessidade de fazer acordos com inimigos políticos. Mas uma coisa é fazer acordos para adiantar seus objetivos; outra é abrir as portas para as idéias dos mortos-vivos.
Obama chegou ao poder com promessa de mudanças. Até agora não fez nenhuma. Seu governo está cheio de banqueiros de Wall Street. Seus altos funcionários acabam indo se unir aos bancos, como fez recentemente seu diretor de orçamento, Peter Orszag. Está sempre disposto a atender os interesses dos ricos e poderosos, sem traçar uma linha demarcatória ao “toma lá, dá cá”.
Bem, talvez não tenha sido possível ao presidente Obama conseguir mais diante do ceticismo do Congresso em relação a seu governo. Mas, mesmo que isso fosse verdade, apenas demonstra o contínuo controle de uma doutrina falida sobre a política norte-americana. A propósito, esperemos que no Brasil a presidenta Dilma tome isto como um péssimo exemplo a não ser seguido sob hipótese alguma. Acordos com o demônio costumam ser letais. Para todos.
*A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango fantasma (1977), O animal dos motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), A ponte das estrelas (1990), Toda prosa (2002 - Esgotado), Caim (Record, 2006), Toda prosa II - obra escolhida (Record, 2008). É traduzida na Holanda, Bulgária, Hungria, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Argentina e Espanha (catalão e galaico-português). Dois de seus contos - "O vampiro da Alameda Casabranca" e "Hell's Angel" - foram incluídos nos Cem melhores contos brasileiros do século, organizado por Ítalo Moriconi, sendo que "Hell's Angel" está também entre os Cem melhores contos eróticos universais. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura e jornalista. Foi curadora de literatura, até outubro de 2010, da Biblioteca Sérgio Milliet em São Paulo.
Parece que um dos temas em pauta no início de 2011 é a política interna dos Estados Unidos, o que naturalmente interessa ao resto do mundo. A respeito, Jeffrey Sachs (professor de economia na Universidade de Colúmbia, USA) na SinPermiso, usa uma expressão engraçada: os Estados Unidos estão em rota de colisão consigo mesmo. O que significa uma política suicidária que quer favorecer os ricos a qualquer preço, degradando mais e mais o resto do povo americano.
Sachs argumenta que o problema é a política corrupta e a perda de moral cívica dos EUA. O partido Republicano aposta em reduzir os impostos, objetivo que coloca acima de qualquer outro. Os democratas têm um leque mais amplo de interesses, como o apoio ao serviço de saúde, a educação, a formação e a infraestrutura. Mas, assim como os republicanos, os democratas também estão interessados em presentear com cortes de impostos seus grandes contribuintes de campanha, entre os quais predominam os estadunidenses ricos.
Já Paul Krugman, no The New York Times, é mais contundente. No artigo "Quando os mortos-vivos vencem", ele diz: “Os fundamentalistas do mercado erraram sobre tudo — ainda assim eles dominam a cena política mais completamente que nunca. Como isso aconteceu? Todos entendemos a necessidade de fazer acordos com inimigos políticos. Mas uma coisa é fazer acordo para adiantar seus objetivos; outra é abrir as portas para as idéias dos mortos-vivos. Quando você faz esta concessão, os mortos-vivos acabam comendo o seu cérebro — e possivelmente também a sua economia.”
Segundo ele, quando historiadores olharem de volta o período 2008-10, o que mais vai intrigá-los é o estranho triunfo das idéias falidas. Como, depois que bancos descontrolados colocaram a economia de joelhos, ouvimos Ron Paul dizendo “não penso que precisamos de regulamentação” ao assumir um comitê-chave do Congresso que vigia o Banco Central?
A resposta da direita é que os fracassos econômicos do governo Obama mostram que as políticas de “grande governo” não funcionam. Mas a resposta a eles deveria ser: que política de grande governo? Pois o fato é que o estímulo econômico de Obama — que em si era quase 40% baseado em cortes de impostos — foi muito cauteloso para dar uma guinada na economia. Uma política que reduziu empregos públicos e na qual os gastos do governo em bens e serviços cresceram mais devagar que durante os anos Bush não constitui exatamente um teste de economia keynesiana.
No entanto, tudo o que a direita falou sobre os motivos do fracasso da Obamanomics estava errado. Por dois anos, disseram que os empréstimos do governo fariam disparar os juros; na verdade, as taxas se mantiveram baixas se comparadas a padrões históricos. Durante dois anos, os neocon alertaram que a inflação e até mesmo a hiperinflação voltariam; em vez disso, a deflação continuou, com a inflação básica sendo a menor do último meio século.
Mas tais fracassos não parecem importar. A crise deveria ter nos matado, mas não matou, estamos ainda — talvez mais que nunca — sendo governados pela “economia dos mortos-vivos”. Por quê? Parte da resposta, certamente, é que as pessoas que deveriam ter matado as idéias mortas-vivas, tentaram, em vez disso, fazer acordo com elas, isto é, com o Demônio. E isso é especialmente verdadeiro do presidente Obama.
As pessoas esquecem que Ronald Reagan muitas vezes cedeu em questões políticas de substância — mais notadamente, ele aprovou vários aumentos de impostos. Mas nunca “amoleceu” quando se tratava de idéias (ou ideologia) – nunca recuou de que sua posição ideológica estava certa e a dos adversários, errada.
Mas o presidente Obama, ao contrário, tem insistentemente tentado fazer acordo com o outro lado, dando cobertura aos mitos da direita. Ele felicitou Reagan por restaurar o dinamismo dos Estados Unidos (quando foi a última vez que você ouviu um republicano elogiando Roosevelt?), adotou a retórica da oposição sobre a necessidade do governo de apertar o cinto, mesmo diante da recessão e ofereceu congelamento simbólico de gastos e salários federais.
Nada disso fez com que a direita deixasse de denunciá-lo como socialista. Mas essa postura ajudou a dar poder a idéias ruins, de forma que elas podem causar danos imediatos. Neste momento, Obama está saudando o acordo para corte de impostos [dos ricos] como uma forma de estimular a economia — mas os republicanos já estão falando em cortes de gastos do governo que acabariam com qualquer estímulo resultante do acordo. E como é que ele pode enfrentar os republicanos se ele mesmo abraçou a retórica de apertar o cinto?
Sim, política é a arte do possível. Todos entendemos a necessidade de fazer acordos com inimigos políticos. Mas uma coisa é fazer acordos para adiantar seus objetivos; outra é abrir as portas para as idéias dos mortos-vivos.
Obama chegou ao poder com promessa de mudanças. Até agora não fez nenhuma. Seu governo está cheio de banqueiros de Wall Street. Seus altos funcionários acabam indo se unir aos bancos, como fez recentemente seu diretor de orçamento, Peter Orszag. Está sempre disposto a atender os interesses dos ricos e poderosos, sem traçar uma linha demarcatória ao “toma lá, dá cá”.
Bem, talvez não tenha sido possível ao presidente Obama conseguir mais diante do ceticismo do Congresso em relação a seu governo. Mas, mesmo que isso fosse verdade, apenas demonstra o contínuo controle de uma doutrina falida sobre a política norte-americana. A propósito, esperemos que no Brasil a presidenta Dilma tome isto como um péssimo exemplo a não ser seguido sob hipótese alguma. Acordos com o demônio costumam ser letais. Para todos.
*A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango fantasma (1977), O animal dos motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), A ponte das estrelas (1990), Toda prosa (2002 - Esgotado), Caim (Record, 2006), Toda prosa II - obra escolhida (Record, 2008). É traduzida na Holanda, Bulgária, Hungria, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Argentina e Espanha (catalão e galaico-português). Dois de seus contos - "O vampiro da Alameda Casabranca" e "Hell's Angel" - foram incluídos nos Cem melhores contos brasileiros do século, organizado por Ítalo Moriconi, sendo que "Hell's Angel" está também entre os Cem melhores contos eróticos universais. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura e jornalista. Foi curadora de literatura, até outubro de 2010, da Biblioteca Sérgio Milliet em São Paulo.
04 janeiro 2011
Os desafios de Dilma Rousseff!
O Brasil iniciou um novo ciclo político. Com isso, uma outra correlação de poder e modificada agenda de política públicas foram montadas em torno da presidente e dos governadores que tomaram posse (os parlamentares, só entram no jogo mais tarde, no primeiro dia de fevereiro).
A ascensão de uma mulher ao cargo máximo da nossa hierarquia política é uma amostra da dinâmica democrática. Se Lula dizia que ele, como ex-operário, não tinha o direito de errar para não aumentar o preconceito contra a capacidade de pessoas de classes menos favorecidas, o mesmo pode ser dito de Dilma. Ser mulher duplica sua responsabilidade. É injusto. Mas é assim que a coisa é posta.
Além da oposição natural que os governantes sofrem de adversários, Dilma enfrentará o preconceito que habita o “Brasil profundo”. Por isso, uma pauta obrigatória de sua gestão é o fortalecimento do papel da mulher na política brasileira. Nesse aspecto, ninguém deveria torcer contra.
A correlação de poderes que Dilma inaugura é favorável a ela. Além de conquistar a presidência, o novo governo possui maiorias da ordem de 65% tanto na Câmara quanto no Senado. A oposição só representa uma ameaça na dimensão federativa, pois domina redutos estaduais importantes, como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Paraná.
Em tese, a maioria absoluta do governo no Congresso facilitará o restabelecimento da agenda de reformas que ficou congelada desde que Lula concluiu a votação da reforma da previdência, em 2003. As maiores apostas de agenda são: reforma da previdência (de novo!) e a desoneração da folha trabalhista (algo dramático para o PT, pois afeta diretamente sua base sindical).
Essas medidas são centrais para o governo. O objetivo não é apenas devolver sustentabilidade econômica ao Estado. Mas reduzir os juros para taxas reais de dois pontos e criar uma ambiente onde valerá mais a pena para o investidor apostar em projetos de infra-estrutura do que especular no mercado financeiro.
As outras áreas de reformas dependem das circunstâncias políticas.
Essa visão pró-mercado de Dilma não deve causar estranheza a ninguém (nem mesmo ao PT). Analisando sua gestão quando ministra de Minas e Energia, observa-se que toda expansão do sistema elétrico foi feita por meio de parcerias público-privadas. Esse deve ser o modelo para corrigir o déficit de investimentos em obras.
A grande dificuldade que espreita o caminho do Dilma reside na necessidade de conciliar os múltiplos interesses de uma base ampla e, principalmente, heterogênea. Deve-se prestar atenção especial no comportamento do PT. Dilma não possui relações orgânicas com o partido e nem de longe exerce a liderança que Lula possuía. Pode haver rangidos.
A experiência parlamentar do vice Michel Temer não deve ser ignorada, podendo ser bastante útil nas relações entre Executivo e Legislativo. Palocci também será muito importante nesse processo.
Por fim, Dilma deverá cuidar para se livrar da ascendência de Lula. O exercício do poder permite muitas coisas. Mas não admite a duplicidade de comando. Por isso, Dilma não deve ter medo de parecer ingrata. É preciso impor seu estilo de decidir. Afinal, como dizia Margareth Thatcher, ex-primeira ministra da Inglaterra, ser poderoso é como ser uma senhora. Se tem de dizer aos outros que o é, então é porque não é!
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