04 janeiro 2011

Os desafios de Dilma Rousseff!


O Brasil iniciou um novo ciclo político. Com isso, uma outra correlação de poder e modificada agenda de política públicas foram montadas em torno da presidente e dos governadores que tomaram posse (os parlamentares, só entram no jogo mais tarde, no primeiro dia de fevereiro).

A ascensão de uma mulher ao cargo máximo da nossa hierarquia política é uma amostra da dinâmica democrática. Se Lula dizia que ele, como ex-operário, não tinha o direito de errar para não aumentar o preconceito contra a capacidade de pessoas de classes menos favorecidas, o mesmo pode ser dito de Dilma. Ser mulher duplica sua responsabilidade. É injusto. Mas é assim que a coisa é posta.

Além da oposição natural que os governantes sofrem de adversários, Dilma enfrentará o preconceito que habita o “Brasil profundo”. Por isso, uma pauta obrigatória de sua gestão é o fortalecimento do papel da mulher na política brasileira. Nesse aspecto, ninguém deveria torcer contra.

A correlação de poderes que Dilma inaugura é favorável a ela. Além de conquistar a presidência, o novo governo possui maiorias da ordem de 65% tanto na Câmara quanto no Senado. A oposição só representa uma ameaça na dimensão federativa, pois domina redutos estaduais importantes, como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Paraná.

Em tese, a maioria absoluta do governo no Congresso facilitará o restabelecimento da agenda de reformas que ficou congelada desde que Lula concluiu a votação da reforma da previdência, em 2003. As maiores apostas de agenda são: reforma da previdência (de novo!) e a desoneração da folha trabalhista (algo dramático para o PT, pois afeta diretamente sua base sindical).

Essas medidas são centrais para o governo. O objetivo não é apenas devolver sustentabilidade econômica ao Estado. Mas reduzir os juros para taxas reais de dois pontos e criar uma ambiente onde valerá mais a pena para o investidor apostar em projetos de infra-estrutura do que especular no mercado financeiro.

As outras áreas de reformas dependem das circunstâncias políticas.
Essa visão pró-mercado de Dilma não deve causar estranheza a ninguém (nem mesmo ao PT). Analisando sua gestão quando ministra de Minas e Energia, observa-se que toda expansão do sistema elétrico foi feita por meio de parcerias público-privadas. Esse deve ser o modelo para corrigir o déficit de investimentos em obras.

A grande dificuldade que espreita o caminho do Dilma reside na necessidade de conciliar os múltiplos interesses de uma base ampla e, principalmente, heterogênea. Deve-se prestar atenção especial no comportamento do PT. Dilma não possui relações orgânicas com o partido e nem de longe exerce a liderança que Lula possuía. Pode haver rangidos.

A experiência parlamentar do vice Michel Temer não deve ser ignorada, podendo ser bastante útil nas relações entre Executivo e Legislativo. Palocci também será muito importante nesse processo.

Por fim, Dilma deverá cuidar para se livrar da ascendência de Lula. O exercício do poder permite muitas coisas. Mas não admite a duplicidade de comando. Por isso, Dilma não deve ter medo de parecer ingrata. É preciso impor seu estilo de decidir. Afinal, como dizia Margareth Thatcher, ex-primeira ministra da Inglaterra, ser poderoso é como ser uma senhora. Se tem de dizer aos outros que o é, então é porque não é!

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