22 setembro 2010

Brasileiros não enxergam diferenças entre Dilma e Serra, diz jornal Financial Times!

Parece 1994 tudo de novo. Na época, como hoje, dois candidatos de lados opostos do espectro político brasileiro disputavam a presidência, e um dirigia-se para a vitória nas eleições presidenciais de outubro. Então, como hoje, um escândalo no governo deu à oposição um raio de esperança nas últimas semanas de campanha. Depois, como parece inevitável neste ano, o candidato pró-governo venceu facilmente.

A grande diferença entre hoje e 1994 é que, na época e novamente em 2002, os brasileiros sabiam que estavam em uma encruzilhada.

Hoje, muitos acham que não faz diferença quem vencer as eleições no dia 3 de outubro: Dilma Rousseff, sucessora escolhida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva do PT, de esquerda, ou José Serra, da oposição centrista do PSDB.

“Parece uma meta-eleição”, diz Fernando Henrique Cardoso, eleito presidente pelo PSDB em 1994 após conquistar a inflação galopante como ministro das finanças, um feito que lhe rendeu oito anos no cargo. “Há uma escolha entre duas direções, mas ninguém fala nada sobre isso.”

No papel, as diferenças deveriam ser claras. Rousseff foi ministra em grande parte do governo Lula –que também completando o máximo de oito anos consecutivos- e é considerada “estatizante”. Seus instintos, segundo os analistas, são de governo grande e economia controlada.

Serra, que foi ministro da saúde de sucesso sob Fernando Henrique Cardoso e desde então tem sido um governador de São Paulo modernizador e eficaz, deveria ser um bastião do liberalismo de mercado.

Em vez disso, estão oferecendo aos brasileiros continuidade por um lado e, do outro, algo não muito bem definido.

Uma razão é a enorme popularidade de Lula. Com 80% dos brasileiros dizendo que aprovam seu governo, uma situação extraordinária depois de tanto tempo no poder, seu apoio daria a qualquer candidato uma vantagem. E ele apoia Rousseff.

Outro é que Serra subestimou seu oponente. Ele liderou as pesquisas até julho, e muitos de seus partidários acreditavam que logo estariam no governo. “Eles não prepararam uma campanha adequada”, diz Alberto Almeida, cientista político em São Paulo. “Achavam que a eleição era deles.”

Quando Lula estava perdendo em 1994, ele caiu lutando contra o “neo-liberalismo”. Almeida diz que Serra deveria perder da mesma forma, lutando pela retomada das reformas iniciadas por Fernando Henrique, que muitos economistas dizem ser essenciais para um crescimento sustentável e mais rápido. “Ele deveria estar mostrando a diferença entre o PSDB e o PT”, diz ele.

Em vez disso, Serra primeiro alegou ser a melhor pessoa para dar continuidade ao trabalho de Lula e depois se concentrou em questões estreitas de pouco apelo aos eleitores.

Não estamos em 1994, muito menos em 2002, quando os brasileiros deixaram Fernando Henrique por Lula, que prometia mudança. Em 2002, os custos de empréstimos ao Brasil deram um salto com o temor dos investidores do ex-sindicalista levar o Brasil ao calote. De fato, ele fez um “choque positivo”, mantendo os pilares ortodoxos de política macroeconômica e fazendo uma série cortes de gastos bons para o mercado.

Contudo, se muitos investidores superestimaram a diferença entre o governo do PSDB e do PT em 2002, o risco agora é que a diferença esteja sendo subestimada. Ninguém espera que Rousseff leve o Brasil para a esquerda. De fato, ela fez compromissos públicos de manter as políticas macroeconômicas tais como metas de inflação, câmbio flutuante e reduções graduais da dívida pública.

Mas há uma diferença entre continuidade e resumo das reformas do governo. Um promete crescimento lento e constante; o outro maior investimento para melhorar a produtividade e uma solução mais rápida para problemas como os serviços públicos problemáticos. Praticamente inconscientes da escolha, os brasileiros parecem prontos para optar pelo primeiro. Como disse recentemente um dos assessores econômicos de Rousseff ao Financial Times: “Não há necessidade de grandes ajustes. Se algo acontecer (como um choque externo), sim. Mas não há nada no horizonte.”

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