Campanhas eleitorais sempre produzem “efeitos colaterais”: esqueletos guardados a sete chaves que saem dos armários para assombrar políticos e destruir candidaturas por aí. Essa estratégia, chamada de campanha negativa, faz parte do jogo e desempenha um importante papel informacional nas eleições. Afinal, saber dos “podres” de um ou de outro ajudam eleitores a decidirem seus votos.
Normalmente, a campanha negativa é um recurso utilizado contra candidatos que lideram pesquisas de intenção de voto. O motivo é simples. Os adversários em desvantagem precisam convencer eleitores que já se decidiram por outro candidato a mudarem de lado.
O risco da campanha negativa é aquilo que se chama de efeito boomerang. Se errar na medida, corre-se o risco de ser visto como ranzinza e agressivo, atraindo a antipatia do eleitor. Outro problema seria a criação de uma ambiente de “terra arrasada” onde o eleitor perderia a capacidade de diferenciar quem acusa de quem é acusado. Nesse caso, o jogo permanece favorável àquele que se encontra na frente das pesquisas.
Em 2010, pela terceira vez consecutiva, o PSDB se vê obrigado a realizar campanha negativa contra o PT. Em 2002, os tucanos jogaram com o medo que existia de um eventual radicalismo de esquerda do governo Lula, que ocasionaria a fuga de 800 mil empresários do Brasil. Quatro anos depois, a estratégia mudou e o PSDB passou a explorar os próprios erros petistas, utilizando o episódio do mensalão para evocar a necessidade de restabelecer a ética na política brasileira.
O favoritismo pré-eleitoral de Serra fez com que o PSDB acreditasse que esse ano seria diferente. Bastaria apresentar uma comparação de biografias entre o tucano e Dilma para que o eleitorado se decidisse com tranqüilidade pelo ex-governador paulista. Mas não foi o que aconteceu. Dilma disparou nas pesquisas, impulsionada pela popularidade de Lula e pela aprovação geral da política econômica. E Serra novamente teve que se vestir de inquisidor.
O primeiro lance tucano foi levantar dúvidas a respeito da inexperiência eleitoral de Dilma. Nenhum efeito. A segunda foi evocar as alianças do PT com personagens controversos como Sarney, Collor e José Dirceu. Outro tiro n’água. Posteriormente, tentou se explorar a denúncia, comprovada por investigações conduzidas pela própria Receita Federal, de quê os sigilos bancários de líderes do PSDB e de familiares do Serra haviam sido quebrados. Questão grave. O problema (para Serra) é que não se comprovou nada a respeito de quem fez e para quê fez. Ninguém se interessou pela acareação entre o contador falsário e o despachante que retirou a documentação no posto fiscal de Mauá. O momento já passou.
O segundo lance está em andamento. Há fortes indícios de que o filho de Erenice Guerra, ex-ministra chefe da Casa Civil, tentava fazer tráfico de influência com empresários que buscavam financiamento junto ao BNDES. A velocidade com que Erenice caiu ajuda a alimentar as desconfianças de que isso realmente aconteceu. Mas o maior problema para Dilma foi a forma como seus próprios colegas de partido reagiram ao escândalo. Na Bahia, José Dirceu acusou a imprensa e disse que há necessidade de regulamentá-la. Depois, a própria Erenice atribuiu um caráter eleitoral aos escândalos, atacando nominalmente a figura de Serra. Tudo que ele queria!
Com tudo isso, a pergunta de 1 milhão de dólares é: esse escândalo terá capacidade de retirar votos de Dilma? Depende se jornalistas e/ou tucanos encontrarem o que os americanos chamam de “smoking gun” (a arma que ainda fumega nas mãos do assassino), ou seja, uma prova cabal que ligue Dilma aos supostos negócios da família Erenice. Se isso acontecer, mesmo que os eleitores médios permaneçam indiferentes, seria impossível conservar a posição da petista frente à opinião pública especializada que, no final das contas, é quem realmente bota pressão sobre os políticos.
Por outro lado, se não houver uma arma quente e fumegante nas mãos de Dilma, “tudo como dantes no quartel D´Abrantes” e a eleição segue para ser decidida no primeiro turno.
Como alvo disso tudo está o eleitor. E ele ainda não mostrou disposição de abandonar Dilma. O motivo é simples. Seu maior desejo nessa eleição não é promover uma purificação ética das instituições, até porque o PSDB não é necessariamente identificado pela população como ator puro e bento. Sua prioridade é manter um conjunto de conquistas econômicas atribuídas ao governo Lula. Nesse aspecto, Dilma permanece como a candidata apontada como tendo a maior capacidade e credibilidade de promover a continuidade do atual governo.
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