O PT acabou?
A postura pró-Sarney da bancada petista no conselho de ética do Senado deflagrou uma nova tempestade nas fileiras do partido: os senadores Flávio Arns e Marina Silva deixaram a legenda (com possíveis repercussões para 2010) e Aloísio Mercadante, líder da bancada, agiu atabalhoadamente, renunciando e voltando atrás, mostrando a desorientação na qual todos se encontram. Frente a tudo isso, a imprensa apressou-se a anunciar o fim do PT. Será?
Arns deve sair e levar consigo o que restava da parceria entre igreja católica e PT. Marina Silva vai para o PV e, caso candidate-se à presidência, diminuirá as chances da ministra Dilma Rousseff de chegar ao Planalto, pois ambas disputarão o mesmo eleitorado. Mercadante vê suas chances de reeleição para o Senado se esvaírem…
A crise petista gerada pelo episódio Sarney é diferente daquela proporcionada pelo “mensalão”, caso de compra de apoio político na Câmara dos Deputados que deflorou a bandeira ética do partido e vitimou as carreiras de Dirceu, Genoíno e outros. Entretanto, elas estão bastante interligadas, pois denuncia o auge do processo de distanciamento entre PT e Lula que iniciou-se em 2005.
No auge do mensalão, quando a oposição começava a cogitar a possibilidade do impeachment de Lula, a direção do PT decidiu “blindar” o presidente, assumindo toda a responsabilidade política do escândalo e isentando-o de qualquer ligação com o caso. A estratégia deu certo. O presidente foi preservado e atingiu índices de popularidade estratosféricos. O partido, por outro lado, ficou acéfalo. Seus principais lideres tiveram que ir para os bastidores, provocando o vácuo de poder que permitiu a ascensão e pré-candidatura de Dilma.
No entanto, os efeitos colaterais se tornaram maiores do que a doença. Por um lado, o presidente buscou apoio em aliados ligados à política tradicional com cada vez menos constrangimento. Por outro, a combinação entre políticas públicas exitosas e uma capacidade extraordinária de comunicação gerou índices de popularidade que permitem ao presidente agir com extrema autonomia. Lula não depende mais do PT. Muito pelo contrário.
O fato é que o petismo foi substituído por um lulismo que envolve parceira nacional com o PMDB a qualquer custo e escolha vertical da candidata oficial do Planalto (Dilma).
A visão pragmática de Lula sobre sua coalizão de governo e sobre o processo sucessório pode ter lá suas razões. Mas tem causado prejuízos estruturais ao partido. O primeiro sinal de problema surgiu nas eleições municipais de 2008. Onde PT e PMDB enfrentavam-se como adversários, o presidente Lula se absteve de fazer campanha, gerando forte custo político para os candidatos petistas.
Além da deserção de lideranças, o PT poderá ter que abrir mão de eleições importantes para conseguir acomodar o PMDB em um aliança nacional. O maior exemplo é a Bahia, onde o governador Jaques Wagner teria que abortar uma tentativa de reeleição e entregar o poder estadual de bandeja para o todo poderoso ministro da Integração Regional, Geddel Vieira Lima. Haverá outros focos de problema como São Paulo, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, etc. A hegemonia do projeto Lula/Dilma/PMDB pode causar feridas maiores ao partido do quê aquelas sentidas até agora.
Afirmar que o PT acabou certamente é um exagero (ou um desejo de alguns). Ele possui grandes bancadas no Congresso, governos estaduais, prefeituras importantes e, querendo ou não, o presidente mais popular da história do país. Um capital político desses não acaba de um dia para o outro. Alem disso, não se deve generalizar demais as coisas. O PT é muito maior e plural do que a mini-bancada que votou com Sarney no conselho de ética.
Entretanto, o partido deve acender uma luz amarela. É óbvio que o partido está sendo sufocado pelo gigantismo assumido por Lula, capaz de fazer tudo, até de colocar Suplicy e Collor no mesmo barco político. É possível que o presidente Lula esteja se tornando muito pesado para o partido e suas lideranças. O preço a ser pago pode se tornar alto demais.