07 agosto 2009

Dica útil ao analista político!

Use bem as pesquisas

1.  Quando uma pesquisa é divulgada, seus números são lidos estaticamente, como se aquele fosse um quadro dado. Se estivermos em cima de um ponto de decisão, por exemplo, nas vésperas das eleições, é provável que a leitura estática dessa pesquisa coincida com o resultado da eleição. Mas se estivermos afastados do momento de decisão -seja política, comercial, social...- é fundamental entendermos os vetores em jogo e avaliar a dinâmica e participação dos mesmos.
                      
2. Quando uma pesquisa informa que 40% das pessoas pensam de uma maneira, a manchete será sempre que 60% das pessoas pensam dessa maneira, como se fosse uma maioria constituída. Na política, muitos institutos, em diversos países, trabalham com politólogos de forma a que a análise dos mesmos seja interna e não por entrevistas sobre a matéria publicada na imprensa.
                      
3. Vamos dar exemplos. Primeiro num quadro geral. As pesquisas, e até o censo, dizem que há quase 60% de católicos e quase 20% de evangélicos no Brasil e em todos os estados brasileiros. Aparentemente uma ampla maioria. No entanto, quando as pesquisas perguntam sobre a participação no rito das igrejas, 70% dos evangélicos são militantes e 30% dos católicos o são. Ou seja, os vetores que atuam dinamicamente, buscando influenciar opinião, evitar o crescimento de uns e ampliar a sua base, são 14% de evangélicos e 18% de católicos, o que produz fluxos de opinião muito diferentes da resposta à pesquisa.
                      
4. Ontem a CNN  divulgou uma pesquisa em que 51% consideram Obama um sucesso, 11% acham que é cedo e 37% acham que os seis meses de Obama foram um fracasso. Isso deveria preocupar a equipe de Obama, pois com todas as expectativas favoráveis, os 37% que dizem que foi um fracasso estarão dizendo isso a muito mais pessoas que os 51% que acham que foi um sucesso.                        

5. Uns 15 dias atrás, o Gallup-Honduras divulgou uma pesquisa dizendo que 28% dos hondurenhos estavam com Zelaya e não abriam e que ele devia retornar. Do outro lado, 60% diziam que a decisão contra Zelaya foi certa e que estavam de acordo. Se estivéssemos às vésperas das eleições, Zelaya levaria uma surra enorme. Mas como se trata de confronto, é provável que os 28% de Zelaya constituam grupos muito mais ativos, e que nas ruas isso corresponda a um equilíbrio de forças, o que, sendo assim, daria um caráter dramático aos desdobramentos.
(Por César Maia - www.cesarmaia.com.br)

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