Artigo publicado no jornal Metropole S/A no dia 17/04. Para acessar o jornal, basta clicar no título do post.
Tornou-se lugar comum dizer que o eleitor brasileiro não age racionalmente, que é impulsivo, suscetível à propaganda, passional, excessivamente descuidado ou crédulo demais. Nada mais falso. Pura manifestação do nosso complexo de vira-latas. Somos racionais como qualquer povo do mundo e a crise internacional nos ajuda a entender isso.
A prova da racionalidade é a variação dos indicadores de aprovação do governo Lula. Enquanto estava tudo bem, com níveis crescentes de emprego (seis anos seguidos!), renda, consumo e crédito, a avaliação do presidente permaneceu nas alturas, ultrapassando a casa dos 80%. Na medida em que os indicadores pioraram, a intensidade do apoio popular diminuiu.
Segundo relatório da pesquisa CNT/Sensus, a avaliação positiva do governo registrou, em março, 62,4% (contra 72,5% de janeiro). A aprovação pessoal de Lula situa-se em 76,2% (contra 84% registrado em janeiro). Daí podemos concluir que: (i) aumentou a insegurança da população em relação ao futuro; (ii) Lula ainda mantém uma popularidade enorme e possui boas condições de apoio para tomar medidas contra a crise; (iii) as pessoas gostam mais da figura do presidente do que do seu governo, constatando seu grande carisma pessoal.
O maior problema trazido pela crise é a ameaça do desemprego. No entanto, o fator que contamina diretamente a avaliação do governo é a restrição do crédito, esse sim, grande responsável pela sensação de bem estar recente que estávamos vivendo. Por isso, todas as medidas do governo foram direcionadas para a manutenção do volume de dinheiro disponível para empréstimos. Além de mover a economia, ajuda a manter os níveis de satisfação e apoio político em bons patamares.
No entanto, como todos os esforços do governo, por que sua aprovação caiu? Porque a população não julga apenas o momento atual. Mas mede a confiança depositada no futuro. A crise deve se prolongar e não há muita coisa que se possa fazer. A retração experimentada atingiu principalmente o setor exportador e, nesse caso, nos resta esperar pela melhora dos mercados internacionais. Dessa forma, o tempo que o mundo levar para se reerguer pesará contra a popularidade do presidente.
A crise internacional é o maior evento político da década, pois deixou o governo vulnerável e abriu uma janela de oportunidade para a oposição. As chances do PT e do PSDB de vencerem as eleições presidenciais de 2010 dependem diretamente do que vai acontecer daqui para frente na economia.
A equação é simples. Em 2010 os eleitores serão convidados a olhar para suas vidas. Ela melhorou ou não? Quem parece oferecer o melhor caminho nos próximos quatro anos? Continuidade ou mudança? Dilma Rousseff fará de tudo para que o governo chegue em outubro do ano que vem com 55% de aprovação. Este é o limite mínimo para uma reeleição tranqüila. Menos que isso, o cenário torna-se favorável à oposição.
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