08 maio 2009

Como construir um partido político! Ótima reportagem capturada no UOL!


"Negativos" e nacionalistas correm para concorrer nas eleições de 2010

 

(Fonte: Rodrigo Bertolotto do UOL Notícias)

 

A sopa de letrinhas da democracia brasileira pode ganhar mais siglas para as eleições de 2010. Enquanto a mídia só comenta os pré-candidatos presidenciais (Dilma Rousseff, José Serra etc.), vários "pré-partidos" estão buscando sua legalização para concorrer no ano que vem. 

O PNDE e o MNN são duas dessas agremiações que querem se somar as 27 associações reconhecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral. "Para pedir apoio, falamos da crise econômica e dos casos de corrupção no governo, no Congresso. As pessoas assinam na hora", conta Rodrigo Brancher, um estudante de arquitetura da USP que é o presidente nacional do Movimento Negação da Negação.

Já o Partido Nacionalista Democrático Estudantil quer reativar uma sigla criada em 1983 no Rio. "Aqui não vai ser um partido de gaveta, que só abre em época de eleição e fecha", promete o pastor evangélico Sérgio Mendes, o presidente do diretório paulista do PNDE.

O primeiro passo do processo é juntar 101 fundadores em nove Estados (um terço das unidades federativas), fazer uma ata de fundação e entrar com o registro de pessoa jurídica em cartório competente de Brasília. Depois é criar um programa, um estatuto e escolher seus dirigentes provisórios. Até esse ponto o PNDE e MNN já chegaram.

Agora, para comprovar o "apoiamento mínimo", eles têm de juntar um mínimo de 468.890 assinaturas, número que representa 0,5% dos votos válidos na eleição de 2006 - distribuídos também em um terço dos Estados. Entregadas essas listagens aos TREs (Tribunais Regionais Eleitorais), os escrivães eleitorais conferem todas as assinaturas e seus respectivos números de título eleitoral e passa-se ao pedido de registro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Aprovado, o partido ganha inscrição e acesso ao valioso horário de TV e rádio e às urnas.

Por seu lado, o Partido Federalista tentou caminho diferente, entrando com uma série de mandatos, embargos, agravos e recursos no TSE e no STF (Supremo Tribunal Federal). Todos os pedidos foram recusados pelos juízes. "É a ditadura da burocracia esse negócio da assinatura conferir com a do título eleitoral. Vou levar o caso para as cortes internacionais para mostrar que a democracia brasileira não respeita a liberdade política", argumenta Thomas Korontai, presidente do PF. 

A primeira parada foi a praça da Sé. Com bandeiras, cartazes e uma batucada, uma dúzia de "negativos" colhia apoio. "Dá prá ver que eles são de esquerda pela camiseta vermelha, mas esse negócio de negação está meio obscuro", teorizou um vendedor de celulares após oferecer sua assinatura.

A poucos metros dali um dos seguidores enchia o peito para explicar o conceito marxista de "mais valia" para um vendedor ambulante (o termo "negação da negação", aliás, tem origem também no livro "O Capital", de Karl Marx). Ressabiado com a conversa, o camelô respondia: "Mas isso de vocês não vai dar certo: o brasileiro é muito desunido."

O MNN surgiu como reação à crise do mensalão em 2005, após as denúncias contra o PT feitas pelo petebista Roberto Jefferson, apontando esquema de compra de votos congressistas. O grupo ganhou projeção na campanha pelo voto nulo nas eleições presidenciais de 2006. Os integrantes mais velhos estão na faixa etária dos 40, mas a imensa maioria é formada por universitários, que se destacaram em manifestações como a invasão da reitoria da USP em 2007. "Há uma certa polêmica com o público quando criticamos o governo em nossos atos. Mas a popularidade de Lula, comprada com suas bolsas, não é incondicional", conta Brancher.

Um rapaz do MNN berrava ao microfone para o amplificador e, dele, para os pedestres: "Estamos pedindo a sua ajuda para lutar contra o desemprego, contra os patrões." Os cortejo desceu até a praça do Patriarca, passando em meio às barraquinhas de DVDs piratas. Brancher falava da principal proposta do partido para enfrentar a crise atual: a escala móvel de salários e jornadas. "Diziam que a gente era louco, mas o tempo deu razão. Agora, nessa época de demissões em massa, todos falam em reduzir expediente para manter os empregos." A marcha do MNN se desmanchou com o final do dia. Perto dali, no outro lado do vale do Anhangabaú, os nacionalistas do PNDE se reuniam em seu escritório provisório.

"Vamos eleger deputados estaduais, federais e senadores. E temos um nome forte para sair para presidente da República", cravava o presidente da legenda, enquanto seu grupo escolhia as cores em que vai pintar o local. Claro que serão nos tons patrióticos em verde, amarelo e azul.

Eles se mostram mais indecisos quando o tema é definir o posicionamento ideológico. "Somos de direita", diz Paulinho Cidade, futuro candidato a deputado federal e ex-locutor do programa romântico de rádio Love Songs. "Estamos no meio", define a secretária-geral do partido Corina de Oliveira. "Se o governo for centro-esquerda, seremos centro-direita. E vice-versa", explica o presidente regional, Sérgio Mendes.

Ele repete um mantra que é "nosso foco é a educação" - para os outros assuntos (por exemplo, economia), ele afirma que o partido vai convocar especialistas. "Estou na política desde 1986, mas foram muitas decepções. Sempre havia uma pessoa sentada que não queria fazer nada, pensando em dinheiro e não em realizações", afirma Mendes, se negando falar de que partido era e instruindo os correligionários a não revelar as siglas que representavam. "Com certeza, com essa política de agora, o partido já estaria contaminado", argumenta.

O PNDE tem como slogan um trecho do hino nacional: "Verás que um filho teu não foge à luta." Eles fazem questão de se diferenciarem de outros nacionalistas de uma abreviação bem semelhante: o PND, que é liderada pelo almirante reformado Roberto Gama e Silva. "Nosso lema é `nem destros, nem sinistros, apenas brasileiros´. Nós somos nacionalistas de fé. Queremos nacionalizar nossos recursos, mas isso não quer dizer estatização", se apresenta o ex-militar.

Apesar de chamar de "entulho autoritário" a Lei dos Partidos Políticos, de 1995, Gama e Silva promete obedecer a regra das quase 500 mil assinaturas. Ele acredita que devia ser seguida a Constituição de 1988, que tava liberdade de criação dos partidos.

Em artigos seus, o nacionalista afirma que não existe a etnia ianomâmi. "Essa é uma invenção de uma jornalista européia. Se chegarmos ao poder, vamos rediscutir essa questão", já planeja Gama e Silva.

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