09 março 2009

Considerações sobre a participação política feminina no Brasil

(Celina Guimarães - a primeira eleitora do Brasil)


Necessidade de empurrão masculino é quase regra (publicada no jornal O Povo, do estado do Ceará)

No Brasil e no mundo, poucas são as mulheres que conseguem subir os degraus da política apenas com força própria. Muitas chegam lá com ajuda do marido ou pai

Apenas 6,85% do total de votos. Foi o máximo que uma mulher conseguiu conquistar, até hoje, na corrida rumo à Presidência da República no Brasil. O feito foi da então senadora Heloisa Helena (PSol), em 2006 - quando uma segunda representante do time feminino também disputou o topo do Executivo, Ana Maria Rangel (PRP), com uma performance ainda mais minguada (só 0,13% da preferência). Os resultados podem até ser desanimadores para as mulheres que ainda pretendem se aventurar na empreitada, mas, em 2010, os ventos podem começar a mudar. Partido forte, ampla base de apoio e, principalmente, a unção do presidente Lula (PT) são ingredientes da vitamina que promete levantar qualquer candidatura. E, dessa vez, quem se serve do "elixir" é Dilma Rousseff (PT), ministra-chefe da Casa Civil.

De acordo com a última pesquisa CNT/Sensus, divulgada no início de fevereiro, Dilma tem 13,5% das intenções de voto até agora - dado que a coloca em segundo lugar no ranking dos presidenciáveis em 2010, atrás apenas de José Serra (PSDB), que aparece com 42%. "Ela é a candidata mais viável que o País já teve, a que chegou mais longe", opinou o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto. Ele lembrou que, em 2002, outra mulher - Rita Camata (PMDB) - ameaçou chegar ao Palácio do Planalto, mas como vice de Serra. A dupla, batizada pelos adversários com o cacófato "Serra e Rita", conseguiu levar a disputa para o segundo turno, mas foi derrotada por Lula.

Apesar de Heloisa Helena, fundadora do próprio partido, gritar, bater na mesa e tentar caminhar com as próprias pernas, ainda não foi possível chegar tão perto do Executivo nacional. Por outro lado, consagrar-se como braço direito do Governo Federal ou embarcar na candidatura de personagens já consolidados da política brasileira tem demonstrado ser bastante vantajoso. "Entrar na política é sempre difícil, para mulheres ou homens. Por isso, muitos precisam de um suporte. Como as mulheres são minoria na carreira, o apoio delas acaba sendo o de um homem", explicou Leonardo Barreto.

No Ceará, há vários exemplos de parlamentares que contaram com o capital político de familiares - do sexo masculino, ressalte-se como um dos fatores de sucesso nas urnas. Na última legislatura da Assembleia, as ex-deputadas estaduais Meyre Costa Lima (PSDB) e Gislaine Landim (PSB) foram lançadas por intermédio dos maridos, deputados Júlio César (PSDB) e Welington Landim (PSB), respectivamente. Na Câmara de Fortaleza, a vereadora Eliane Novais (PSB), mulher com mais votos na disputa, foi alavancada pelo irmão, Sérgio Novais, presidente do partido no Estado e atual diretor da Companhia Docas do Ceará. Em Caucaia, a ex-prefeita Inês Arruda também ganhou uma mãozinha do marido, deputado federal José Gerardo Arruda (PMDB).

Reflexo
Segundo Leonardo Barreto, o fenômeno reflete a dificuldade de acesso das mulheres à política. "Sozinhas, algumas delas conseguem, por força dos movimentos sociais, mas é difícil", explicou. (Hébely Rebouças)

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